Desperdício

'Escritórios' de Benedito e Renan custam R$ 5,5 milhões por ano em Alagoas

Biu e Renan contratam aspones e jornalistas com verba pública

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Um batalhão de 70 servidores comissionados lotados em 'escritórios de apoio' dos senadores Benedito de Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (PMDB-AL) em Alagoas custa R$ 5,5 milhões por ano aos alagoanos. O grupo tem dispensado o controle de ponto e média salarial varia entre R$ 5,2 mil e R$ 9,4 mil. Só o senador Fernando Collor (PTC) não tem escritório de apoio com servidores em Alagoas.

Escolhidos pelo critério prioritariamente político, para abrigar aliados e cabos eleitorais fiéis, 48 pessoas lotadas no gabinete do senador Biu de Lira receberão, em um ano, mais de R$ 3 milhões. Enquanto que os generosos salários dos 22 assessores do senador Renan Calheiros, custarão quase R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.

A soma de salários mais ajuda de até R$ 1.040 para a alimentação dos 22 servidores do escritório de apoio de Renan em Alagoas resulta em R$ 207,1 mil mensais. Uma média de custo mensal de R$ 9,4 mil com cada um dos servidores “especiais” do senador do PMDB.

A mesma soma feita com os 48 servidores do escritório de Benedito de Lira resulta em uma folha de R$ 253,2 mil, com uma média mensal de R$ 5,2 mil de custo por servidor do senador do PP.

Ocean Tower sedia escritório de Biu de Lira (Imagens: Google)PERFIL E REGIME ‘ESPECIAIS’

Através de pedido expresso dos senadores, tais servidores do Senado atuam sob “regime especial de frequência”, sem registro de ponto. Porém teriam que trabalhar, em tese, de sete a oito horas por dia.

Mas, uma fonte ligada ao PMDB explica como funciona o tal regime especial, na prática: “Trabalhar mesmo, só uma minoria. O resto só vai quando o senador convoca, ou está em Maceió”.

O perfil dos ocupantes dos cargos de quem trabalha nos escritórios de apoio legislativo localizados na área nobre da capital alagoana é comum a ambos os senadores, com muito político e seus parentes.

No escritório de apoio do senador Benedito de Lira, por exemplo, tem gente como Mayara Ferro Barbosa (R$3 mil mensais), que é filha do ex-prefeito de Limoeiro de Anadia, James Marlan Ferreira Barbosa (PP); tem Lívia Costa Saleme (R$5,1 mil), esposa do sobrinho do senador e suplente de vereador César Lira (PSD), e também Eudo Morais Freire Filho (R$3 mil), presidente do PSDC em Alagoas.

Veja a lista completa do escritório de Benedito de Lira:

No escritório do senador Renan tem a Rita de Cássia Lins Tenório (R$14,1 mil mensais), ex-vice-prefeita de Murici na gestão do atual governador Renan Filho; tem Paulo Leão (R$13,3 mil), filho do ex-prefeito de Arapiraca Severino Leão; Thais Canuto (R$5,1 mil), filha do ex-deputado federal e ex-prefeito do Pilar, Carlos Alberto Canuto (PMDB); Pedro Lisboa (R$6,2 mil), filho do prefeito de Paulo Jacinto, Marcos Lisboa; Marcella Perrelli Freitas (R$11,5 mil), filha do prefeito de União dos Palmares Areski Freitas (PMDB); além do filho do blogueiro de política Bernardino Souto Maior, Flávio Henrique Morais Souto Maior (R$5,1 mil).

Mesmo com dois jornalistas e um fotógrafo na assessoria local de imprensa, o escritório de apoio de Renan ganhou o reforço do blogueiro Edivaldo Júnior, recém nomeado em fevereiro como "auxiliar parlamentar pleno", R$9,2 mil mensais. Apesar do reforço na comunicação, o trabalho de atendimento à imprensa segue conduzido pelos jornalistas Plínio Lins (R$16,7 mil) e José Valderi de Melo (R$6,2 mil).

Veja quem está no escritório de Renan:

 

Duas mulheres ocupam as funções mais altas do escritório de Benedito de Lira, são Ana Cristina Rodrigues de Oliveira e Maria Goreth Rocha de Morais, ambas com salário bruto de R$ 10,4 mil.

Já o cargo mais alto do escritório de Renan Calheiros é do presidente em Alagoas da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), braço “acadêmico” do PMDB, Carlos Ricardo Nascimento Santa Ritta, que foi acusado de ser “laranja” do ex-presidente do Senado, na compra de uma rádio, há cerca de dez anos.

ESCRITÓRIO E PARTIDO

Renan usa dinheiro do Senado para bancar escritório na sede do PMDBEnquanto a Câmara Federal proíbe deputados de aparelharem seus partidos com cargos de escritórios de apoio dos parlamentares em seus estados de origem, o senador Renan Calheiros utiliza a sede do PMDB como escritório de apoio, na Rua Paulina Maria Mendonça nº 816, em Mangabeiras.

No escritório híbrido de Renan, a economia do fundo partidário é inversamente proporcional ao zelo com a verba do Senado, que paga todas as despesas da sede do PMDB, cerca de R$ 3,5 mil mensais.

O prédio é do secretário do Gabinete Civil do governador Renan Filho (PMDB), Fábio Farias, que também é 1º suplente do senador Renan. Ele recebeu, em janeiro, R$ 3,9 mil pelo aluguel do imóvel, que não aparece como casa ou prédio comercial na sua declaração de bens prestada em 2014 à Justiça Eleitoral, mas que o proprietário garantiu ao Diário do Poder ter registrado, sim, entre seus bens, como terreno, e não como uma casa, porque é um bem antigo.

A sede do escritório de apoio do senador Benedito de Lira fica em duas salas do edifício Ocean Tower, no início da Orla Marítima de Pajuçara, à Avenida Doutor Antônio Gouveia, 61. As salas são alugadas por R$ 3,9 mil mensais ao advogado João Lippo Neto, e também tem despesa de quase R$ 500 de condomínio.

SEM RETORNO?

O Diário do Poder enviou perguntas às assessorias de comunicação dos senadores, questionando: Como e quem faz o controle efetivo da produtividade da equipe? O que fazem essas pessoas para honrar o dinheiro público recebido? Qual o critério de escolha dos nomeados? Como o senador avalia a dimensão desse custo? E como o contribuinte pode medir o retorno desse gasto para Alagoas?

Somente a assessoria do senador Renan respondeu da seguinte forma: “As nomeações para o Escritório de Apoio do senador Renan Calheiros em Maceió, para assessoramento no desempenho do mandato, são feitas em estrita obediência à Lei, ao Regimento Interno e à política de transparência por ele implantada quando Presidente do Senado Federal. São normas que valem para todos os senadores”

A assessoria de imprensa de Benedito de Lira disse ao Diário do Poder que não conseguiu contatá-lo por telefone.

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