Apesar da segurança de Palocci, defesa de Lula fala em 'falta de provas'
"Eu tenho conhecimento porque participei", disse ex-ministro
O depoimento ao ex-ministro Antônio Palocci ao juiz Sérgio Moro, nesta quarta-feira (6), impressionou pela segurança e os detalhes, que nem sequer eram indagados. "Eu tenho conhecimento porque participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do presidente Lula e de ministro da Casa Civil da presidente Dilma.”, afirmou o ex-ministro, demonstrando a tranquilidade de quem tira um peso das costas e da consciência. Apesar disso, a defesa do ex-presidente, acusado por Palocci de chefiar o grande esquema de corrupção do governo do PT, ainda fala em "falta de provas".
"Preso e sob pressão" por ter sido condenado a 12 anos de prisão, Antonio Palocci negocia acordo de delação "que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas apresentadas" contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim reagiu o criminalista Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula. Em nota, ele afirmou ainda que "o depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas".
“Acredito que tenha tido uma participação relativamente próxima dos fatos, Excelência, e de fato queria dizer em princípio que a denúncia procede", afirmou Palocci perante o juiz Sérgio Moro. "Os fatos narrados nela são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da empresa em questão, da Odebrecht, com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1, caixa 2 e esse foi um episódio desse conjunto de práticas que envolveu essa empresa em relação ao governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma”.
Para a defesa de Lula, a declarações de Palocci terão o mesmo destino das feitas pelo ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, e do ex-senador Delcídio Amaral. "Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena." Para a defesa de Lula, Palocci compareceu "pronto para emitir frases e expressões de efeito, como pacto de sangue". Zanin concluiu sua nota afirmando que "após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas" até pelo Ministério Público Federal.
Dilma e PT
A ex-presidente Dilma Rousseff não se manifestou sobre as declarações de Palocci. A Comissão Executiva Nacional do O PT divulgou nota afirmando que "rechaça as informações prestadas pelo ex-ministro". "O depoimento se soma a outras tentativas da Força Tarefa da Lava Jato de tentar incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem apresentação de provas, baseadas apenas em delações sem valor legal. Fica cada vez mais claro o caráter de perseguição política movida por setores da Justiça contra o PT.".
A executiva do partido relaciona o conteúdo do depoimento de Palocci com o fato de que Lula liderar pesquisas de opinião de voto para as eleições de 2018. "O PT se solidariza com o ex-presidente Lula, que nos últimos anos teve sua vida devassada sem que houvesse sido encontrado qualquer vestígio de enriquecimento pessoal."
A Odebrecht informou também por meio de nota que a empresa "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua". Segundo ela, a empresa "já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".