Operação Astaroth

Alvo da PF entraria no Bolsa Família, mas ostenta luxo em Alagoas

Ex-deputado morou em cobertura de 3 milhões e guardava 70 mil

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A cobertura avaliada em R$ 3 milhões em um edifício da orla da Praia da Ponta Verde, em Maceió, não é a única evidência apontada pela Polícia Federal (PF) da vida nababesca que o ex-deputado federal e ex-prefeito de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus (PMDB-AL) teria conquistado, por meio de um esquema criminoso. A Operação Astaroth, deflagrada nesta quinta-feira (20), apreendeu em endereços do ex-repórter policialesco quatro carros de luxo, uma moto e o equivalente a R$ 70 mil em centenas de notas de euros, dólares americanos e reais.

A Polícia Federal revelou tentáculos do esquema criminoso que registrava bens, imóveis e veículos, que seriam do ex-prefeito em nome de “laranjas” e utilizava postos de combustíveis em Alagoas e em outros Estados para a lavagem de pelo menos R$ 6 milhões de verbas federais desviadas da merenda e do transporte escolar. Os tentáculos da organização criminosa composta por 14 pessoas se espalhavam pelos Estados de Alagoas, Maranhão, Pernambuco e Sergipe.

Segundo o delegado de Combate à Corrupção da PF, Márcio Tenório, o perfil econômico de Cristiano Matheus permitiria seu ingresso no programa federal Bolsa Família, de tão baixa é sua renda e patrimônio registrados oficialmente.

“Ele não tem renda oficial e o único veículo cadastrado no nome dele é uma moto Yamaha 125 cilindreadas, que de tão velha, acho nem existe mais. Não tem nenhum outro no nome dele, mas ele só anda de veículos de luxo. E os carros apreendidos são todos veículos importados, tem Toyota, BMW, só veículos de luxo. E há propriedades rurais nesses municípios alvos da operação que também estão vinculadas a ele, no nome de terceiros. Ele não tem nada, seu perfil dava para se inscrever no programa Bolsa Família. Até revisão do carro dele, se você puxar a nota de serviço, é feita no nome do caseiro dele. Faz de conta que o caseiro pagou R$ 4 mil na revisão, é um dos laranjas”, disse o delegado Márcio Tenório.

Veja a ação da PF na cobertura e o dinheiro apreendido: 

'NÃO É MEU'

O advogado do ex-prefeito, Fábio Ferrario, disse que Cristiano Matheus está tranquilo e se apresentará à Polícia Federal assim que retornar de uma viagem, na próxima semana. O ex-deputado federal sempre negou a propriedade do apartamento, do qual despejou a ex-esposa Mayane Souza, um dia depois de ela dar à luz seu filho. Ação registrada em vídeo pela mulher, que deixou o filho no hospital, com uma tia, e tentou impedir o despejo.

Cristiano Matheus despejou Mayane e ambos denunciaram agressãoQuando questionado pelo Diário do Poder, em junho, sobre a propriedade da cobertura de luxo, Cristiano Matheus respondeu da seguinte forma: "O apartamento não é meu, não! E cheguei a um consenso, para ela ir para outro apartamento. E o apartamento em que estávamos, cheguei a entregar. Não é meu. Mas ela só queria sair do apartamento, se eu desse uma pensão de R$ 7 mil. Como não dei, ela queria voltar para o mesmo local, que é uma cobertura que eu pagava, quando tinha condições, quando era prefeito. Mas, hoje, eu sou um homem desempregado”, disse Cristiano Matheus. 

Sua ex-esposa nega ter exigido pensão de R$ 7 mil, mas confirma que não queria sair da cobertura, porque era o único bem que ela tinha certeza de que era dele. “Como a cobertura é verdadeiramente dele, mas está no nome de outra pessoa, de um laranja dele, sei lá, ali eu me sentia segura, porque eu sabia que ele ia pagar o condomínio, a energia. E, me tirando dali, me colocando em um lugar alugado, só era o tempo de me tirarem dali. Eu, já na cobertura, correndo atrás de dinheiro de feira e de plano de saúde, porque eu não podia trabalhar, ele passava 15 dia atrasado, maltratando, dizendo que não tinha. Aí como eu ia para um lugar que ele fala de boca? Porque o que ele fala não se escreve de forma alguma. Aí quando chegasse no final do mês e as pessoas me cobrassem, como eu agiria? Nem que fosse pelo menos para eu terminar o resguardo. Eu operada, véi! Numa situação dessa, foi o fim de todas as situações”, disse Mayane, ao Diário do Poder, à época em que foi despejada.

REDE DE ‘LARANJAS’

Em Alagoas, os “laranjas” eram alagoanos, ex-assessores, funcionários particulares, e que estavam espalhados pelos municípios de Maceió, Marechal Deodoro, Santana do Ipanema e Pão de Açúcar.

Os postos de combustíveis apontados pelos investigadores como comprados por Cristiano Matheus com a verba da educação ficam no próprio município alagoano Marechal Deodoro, e nos municípios maranhenses de Nova Olinda e Araguanã. No município de São Benedito do Sul, em Pernambuco, o ex-prefeito também tinha uma residência que foi alvo de buscas.

O ex-prefeito Cristiano Matheus e o ex-secretário de Educação Álvaro Otávio Vieira Machado, responderão por desvios de recursos públicos, dispensa ilegal de licitação. E, junto com os demais envolvidos, ainda responderão pelos crimes de formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Uma arma de fogo, computadores, mídias digitais e documentos também foram apreendidos. A 2ª Vara da Justiça Federal em Alagoas negou pedidos da Polícia Federal pela expedição de mandados de condução coercitiva dos envolvidos. Mas o delegado Márcio Tenório acredita que as provas apreendidas já são suficientes para evitar que Cristiano Matheus interfira nas investigações, estando em liberdade. 

Ele publicou, há dois dias, imagens de uma festa da qual participou, em Goiânia-GO, ao lado de seu amigo, o senador Wilder Morais (PP-GO), com show do cantor Leonardo.

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