OPERAÇÃO SATÉLITES

Alvo da Operação Satélites segue sua rotina na Braskem de Alagoas

Milton Pradines viajou um dia após operação e não comenta caso

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Três dias depois de a Polícia Federal (PF) visitar Alagoas, investigando endereços que poderiam contribuir com a investigação sobre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o governador Renan Filho (PMDB), um dos alvos da Operação Satélites retornou ao Estado. O diretor de Marketing e Relações Institucionais da Braskem em Alagoas, Milton Pradines, retomou nessa sexta-feira (24) as atividades na sede da empresa controlada pela Odebrecht, em Maceió-AL.

A rotina do funcionário da Braskem na terça-feira (21) da deflagração de mais uma fase da Operação Lava Jato confirma não ter havido um eventual interrogatório na PF, nem muito trabalho no cumprimento do mandado de busca e apreensão.

Por não participar dos círculos de amizade ou negócios da família Calheiros, a revelação feita com exclusividade pelo Diário do Poder de que um endereço de Pradines era o alvo da PF surpreendeu até mesmo a cúpula do PMDB de Alagoas. O que justifica o nome da Operação Satélites, que se refere a alvos que, mesmo afastados e involuntariamente podem ter contribuído com a concretização das suspeitas de ilegalidades.

Nessa sexta, o Diário do Poder conseguiu falar rapidamente com o jornalista Milton Pradines, em um telefone fixo. Mas o interlocutor foi breve, porém, gentil: “Não posso me manifestar sobre nada referente a isso”. Na reação, não há uma negativa do furo de reportagem, mas um temor natural em tratar do processo que corre em segredo de Justiça e envolve ex-executivos da Odebrecht. Qualquer declaração poderia resultar em penalizações e prejuízos à apuração.

Em janeiro de 2014, Renan Filho e o pai na Braskem em Alagoas (Facebook)O CASO

A visita da PF a Alagoas tem relação com a doação de R$ 500 mil para a campanha do governador Renan Filho, em 2014, obtida junto à Odebrecht por meio da Braskem, a pedido do senador Renan Calheiros. Na delação do ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, Pradines é apenas citado como a pessoa que agendou o encontro de seu chefe com o senador, para tratar de renovação dos contratos de fornecimento de energia para empresas eletrointensivas do Nordeste, para as plantas industriais.

Na reunião, da qual Milton Pradines sequer participou, um pedido de doação para campanha de Renan Filho, feito por Calheiros, foi entendido por Cláudio Melo Filho como contrapartida para a renovação dos contratos, através da edição da Medida Provisória nº 677/2015. O delator disse ainda que ouviu do ex-diretor da Odebrecht que a doação foi agilizada também por causa do interesse na obra do Canal do Sertão de Alagoas.

O Diário do Poder apurou que no dia da operação, Pradines foi visto correndo na praia, voltou para casa, e perto de 9h chegou ao trabalho, normalmente, na sede da Braskem em Alagoas. Lá, teve agenda com a comunidade do Pontal, com a Secretaria Municipal de Turismo, com o Ministério Público. E, à tarde, recebeu um oficial do Corpo de Bombeiros.

O funcionário da Braskem viajou na quarta-feira (22), para Salvador-BA, depois seguiu para São Paulo-SP. Perdeu o aparelho celular, suspeita-se que apreendido pela PF, por isso ficou incomunicável desde as 6h47 do dia da operação. E um outro aparelho corporativo, com o mesmo número, está sendo providenciado.

LISTA DE HÓSPEDES

PF também esteve em hotel checando arquivos (Foto: Divulgação)Além do endereço de Milton Pradines, agentes a paisana e viaturas descaracterizadas da PF estiveram no Hotel Best Western Premier, antigo Raddisson, na Orla da Pajuçara. Os federais agiram com discrição na busca por dados sobre pessoas que estiveram no hotel entre 2010 e 2014. Em ambos os endereços, apreenderam documentos e mídias eletrônicas.

Foi a primeira vez em que foram utilizadas informações dos acordos de colaboração premiada firmados com executivos e ex-executivos da Odebrecht. Os acordos foram homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em janeiro deste ano.

Os mandados de busca e apreensão expedidos pelo ministro Luís Fachin foram cumpridos nos Estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco e também em Brasília-DF. Os alvos tiveram relação, mesmo que indireta, com suspeitas que recaem sobre o ex-presidente do Senado Renan Calheiros, atual líder do PMDB; sobre o atual presidente, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Valdir Raupp (RO), do mesmo partido, além do senador Humberto Costa (PT-PE).

Fachin é o relator da Operação Lava Jato no âmbito do STF.

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