Ajuda do Exército não impediu mortes por leptospirose, em Alagoas
Leptospirose matou quatro, apesar de ajuda especial após chuvas
Exaltado como importante medida emergencial reivindicada pelo governador Renan Filho (PMDB), o Hospital de Campanha do Exército não evitou que quatro vítimas das chuvas morressem por suspeitas de leptospirose, em Alagoas.
O Exército nega subutilização da unidade destinada ao atendimento emergencial e diz ter cumprido com a missão de atender pacientes que chegam após triagem dos postos de saúde dos municípios e transferir os casos mais graves, de alta complexidade, para os hospitais do Estado.
O coronel Nilton Diniz Rodrigues, comandante do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, disse ao Diário do Poder que o hospital de campanha está sendo utilizado da maneira como foi prevista, dentro do dimensionamento proposto, que permitiu, por exemplo, o atendimento de uma média de 70 a 80 pacientes por dia, desde o início do funcionamento.
Ele explica que está sendo feita a triagem nos postos de saúde, que quando identificam a necessidade de atendimento adicional, mandam para o hospital de campanha. "Verificando que o atendimento necessita de uma maior complexidade, a gente vai mandar para os hospitais do Estado que possuam maior capacidade. O volume de atendimento é bem grande, particularmente para um hospital que não está proposto para fazer um atendimento espontâneo", disse o coronel Nilton.
CICLO DE INCUBAÇÃO
Questionado pelo Diário do Poder, se alguma morte relativa à leptospirose poderia ter sido evitada, o oficial do Exército disse ser difícil responder. "Isso aí necessita de uma análise mais apurada sobre o que aconteceu para gerar aquela morte. É difícil dizer assim de maneira tão genérica. Passaram alguns casos de leptospirose por lá. Não posso quantificar exatamente quantos, agora. Mas é importante frisar que a expectativa de chegada de casos de leptospirose começaria justamente a partir da última segunda-feira (12), porque o ciclo da incubação da doença estava previsto para coincidir com o 10º dia da nossa presença aqui com o hospital de campanha. Nesse intervalo, o posto de saúde vai identificar o que não é uma gripe, ou outra doença, mas sim uma leptospirose", explicou o coronel Nilton.
A proposta inicial do Hospital de Campanha foi de permanecer em Alagoas durante um mês, até 3 de julho. Mas só deixa Alagoas se não houver fato novo que agrave a situação de crise causadas por temporais entre o final maio e início de junho.
OS CASOS
Segundo a Secretaria de Saúde de Alagoas (Sesau), o Estado registrou 15 casos suspeitos de leptospirose, entre 30 de maio e 10 de junho, após as fortes chuvas. Em 2017, houve oito casos confirmados – todos de Maceió, sendo um óbito, antes da enchente. Morreram com suspeita de leptospirose duas pessoas de Maceió, uma de Capela e uma de Atalaia, de acordo com a Sesau. A última das vítimas foi confirmada nessa terça-feira (13) e morreu no Hospital Escola Helvio Auto.
Além das quatro mortes por suspeita da doença transmitida pelo contato com a água contaminada pela urina de ratos e animais infectados, oito pessoas morreram em Alagoas, por causa de deslizamentos de terra e afogamento. Um homem segue desaparecido, após sua casa ser soterrada por uma encosta, em Maceió.
A Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas respondeu a alguns questionamentos do Diário do Poder. Veja:
– Essas quatro mortes já registradas por leptospirose, poderiam ter sido evitadas com a atuação do Hospital de Campanha do Exército, que veio a Alagoas para fazer esses atendimentos emergenciais?
As mortes notificadas até agora são suspeitas e não foram confirmadas, uma vez que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) aguarda os resultados laboratoriais que irão confirmar e/ou descartar as suspeitas.
É importante ressaltar que o atendimento no Hospital de Campanha tem como foco os pacientes com suspeita de doenças e agravos decorrentes das inundações em razão das chuvas, acometidos por doenças de veiculação hídrica e residentes nos municípios de Marechal Deodoro, Satuba, Atalaia e Pilar, que foram os mais atingidos pelas fortes chuvas. Ou seja, casos mais graves, a exemplo de pneumonias com indicação de oxigenoterapia, infecção do trato urinário com complicação, gastrenterocolite aguda com complicação, leptospirose com icterícia, além de arboviroses (dengue, zika, Chikungunya dentre outras) com complicações hemorrágicas, não devem ser encaminhados para o Hospital de Campanha.
Nos casos graves, onde o paciente já está em situação crítica, segundo o Protocolo de Atendimento elaborado por técnicos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e do Exército, ele deve ser encaminhado para o Hospital Escola Hélvio Auto (HEHA), que é referência em Alagoas para o tratamento de doenças infectocontagiosas.
Por esta razão, antes de encaminhar o paciente para o Hospital de Campanha, o profissional de saúde do município de origem deve telefonar para os militares em serviço (cujos números foram informados em Nota Técnica encaminhada), para informar sobre o histórico clínico do paciente, resultados de exames adicionais e conduta adotada. Com base nessas informações é que será autorizado o encaminhamento do paciente para o Hospital de Campanha e/ou para o HEHA.
Diante desse fluxo, é importante ressaltar que o atendimento primário, no município de origem do paciente com suspeita de leptospirose, deve ser eficaz, evitando que a suspeita seja negligenciada e o paciente seja encaminhado para o hospital especializado apenas quando apresentar caso clínico, conforme aponta histórico dos pacientes que evoluíram para óbito.
– Como funcionou o atendimento a esses pacientes, quem deveria levá-los ao hospital?
Pelo fluxo, o profissional de saúde do município de origem do paciente com suspeita de leptospirose deve telefonar para os militares em serviço (cujos números foram informados em Nota Técnica encaminhada), para informar sobre o histórico clínico do paciente, resultados de exames adicionais e conduta adotada. Com base nessas informações é que será autorizado o encaminhamento do paciente para o Hospital de Campanha (que tem como foco atendimento de média e baixa complexidade) e/ou para o Hospital Escola Hélvio Auto (HEHA), referência no tratamento de doenças infectocontagiosas.