Secretário americano

Senadores ‘repudiam’ crítica de Pompeo ao ditador Maduro e cobram explicação a Araújo

Comissão de Relações exteriores do Senado aprovou convite ao ministro das Relações Exteriores

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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deve comparecer ao Senado na quinta-feira (24), às 10h, para explicar a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, a Roraima, na última sexta-feira (18). Requerimento para formalização do convite foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores (CRE) nesta segunda-feira (21) no início da primeira reunião para sabatinar diplomatas indicadores para embaixadas brasileiras. Senadores também aprovaram uma nota de repúdio aos ataques do secretário estadunidense ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

Um grupo de senadores tentava derrubar as reuniões da Comissão de Relações Exteriores do Senado marcadas para esta segunda-feira como retaliação à visita, classificada por eles como um desrespeito à soberania brasileira e uma afronta à Venezuela. Mas após debate no início da reunião, a decisão do colegiado foi por manter as sabatinas e convidar o chanceler brasileiro a dar explicações.

Durante a visita, uma fala de Mike Pompeo foi traduzida com erro, indicando falsamente que o secretário americano teria afirmado “Vamos tirá-lo de lá”, em referência a Nicolás Maduro. A fala nunca existiu. Mas Mike Pompeu afirmou o seguinte, em referência ao ditador venezuelano que levou o país a uma crise humanitária sem precedentes:

“Os Estados Unidos também indiciaram Nicolás Maduro por tráfico de drogas. Não devemos esquecer que ele não é apenas um líder que destruiu seu próprio país, provocando uma das crises de mais extraordinárias proporções da história moderna, ele também é um traficante de drogas, levando drogas ilícitas para os Estados Unidos, impactando os americanos todos os dias”, disse Mike Pompeo.

Apego à democracia

Em resposta à critica do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro Ernesto Araújo publicou nota em que afirma que o povo brasileiro preza pela sua própria segurança, e a persistência na Venezuela de um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado ameaça permanentemente essa segurança do Brasil.

“O povo brasileiro tem apego profundo pela democracia e o regime Maduro trabalha permanentemente para solapar a democracia em toda a América do Sul. Não há ‘autonomia e altivez’ em ignorar o sofrimento do povo venezuelano ou em negligenciar a segurança do povo brasileiro. Autonomia e altivez há, sim, em romper uma espiral de inércia irresponsável e silêncio cúmplice, ou de colaboração descarada, a qual, praticada durante 20 anos frente aos crescentes desmandos do regime Chávez-Maduro, contribuiu em muito para esta que é talvez a maior tragédia humanitária já vivida em nossa região”, reagiu Ernesto Araujo.

O ministro brasileiro disse que a triste história da diplomacia brasileira para a Venezuela entre 1999 e 2018 constitui exemplo de “cegueira e subserviência ideológica, altamente prejudicial aos interesses materiais e morais do povo brasileiro e a toda a América Latina”.

E destacou que os Estados Unidos já doaram 50 milhões de dólares para a Operação Acolhida e que, na sexta-feira (18), Mike Pompeo anunciou a doação de mais 30 milhões de dólares para a ação.

“Os EUA já dedicaram igualmente quantias expressivas para ajudar no acolhimento de imigrantes e refugiados venezuelanos na Colômbia e em outros países. Brasil e Estados Unidos, portanto, estão na vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano, oprimido pela ditadura Maduro”, ressaltou Araújo, em nota publicada no sábado (19).

Ponderação

O pedido para ouvir Ernesto Araújo partiu de Telmário Mota (Pros-RR), que, após ouvir as ponderações de outros senadores, aceitou transformar o adiamento das sabatinas em um convite ao ministro Ernesto Araújo e em uma nota de repúdio à visita de Pompeo.

O senador apontou que agora que Roraima conseguiu “pacificar” a situação migratória da Venezuela, os Estados Unidos trazem transtorno para a região ao usar o estado de palanque para a campanha eleitoral do presidente Donald Trump. Telmário pede no requerimento que o chanceler brasileiro explique a visita de Mike Pompeo.

“Na hora do pico da crise migratória, os Estados Unidos não ajudaram. Agora que resolvemos, chega o ‘seu’ Pompeo e oferece uma migalha de 30 milhões de dólares. E de lá detona dizendo que vai derrubar o [presidente da Venezuela Nicolás] Maduro. O Brasil não é colônia dos Estados Unidos. Isso fere a nossa soberania”, criticou Telmário.

Conflito diplomático

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) afirmou que as preocupações de Telmário são legítimas, mas apontou, antes da decisão por converter o requerimento em um convite, que existiam outros meios de discutir a visita de Pompeo a Roraima.

“Precisamos ter nossos representantes posicionados para que a gente possa defender os nossos mercados e os empregos para milhares de brasileiros. As preocupações do senador Telmário podem ser amparadas por esta comissão. Existem outros remédios, outros caminhos para que possamos aprofundar e debater essa questão da relação do Brasil com a Venezuela e com os Estados Unidos”, disse o líder governista.

A visita de Mike Pompeo, segundo o líder do governo, foi apenas a etapa de um périplo mais amplo pela América do Sul. “A passagem teve por objetivo reafirmar a parceria estratégica entre os dois países”, apontou Bezerra.

Para o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), as palavras do secretário estadunidense não tiveram o apoio do governo brasileiro. “Em nenhum momento, no meu entender, teve o apoio do governo brasileiro. Ele reverberou as palavras por decisão pessoal, o que não pode se transformar em um grande conflito diplomático”, apontou.

Palanque para Trump em Roraima

Mecias de Jesus, do Republicanos de Roraima, também criticou a visita e apontou que o povo de seu estado não concorda com as palavras do secretário estadunidense. E sugeriu que o ato foi um ato de campanha para a reeleição do presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

“Parece um recado claro para o mundo e à Venezuela. Eles querem um palanque. O povo de Roraima não concorda com Pompeo”, afirmou criticou o senador.

Autor de um pedido de “moção de censura” à visita de Pompeo, o senador Jaques Wagner (PT-BA) disse que o governo brasileiro permitiu o uso do solo nacional para que os Estados Unidos ameaçassem um país vizinho.

“Ele fez questão de ir bem pertinho, na fronteira do Brasil com a Venezuela, e usar o solo nacional para bravatas. Não somos nem concessão, nem base militar dos Estados Unidos no Brasil”, criticou o petista.

Humberto Costa (PT-PE) defendeu a transformação de convite em convocação, o que obrigaria a vinda do chanceler.

“Eu preferiria que votássemos a convocação. O fato de ele ter aceitado o convite não quer dizer que ele irá comparecer. Acho importante que esse cidadão compareça porque ele está levando o Brasil a uma posição de pária, de vergonha para a nossa população em razão da condução que ele dá à política de relações exteriores”, apontou o senador pernambucano.

O presidente da CRE, Nelsinho Trad (PSD-MS) destacou que o chanceler sempre tem atendido aos convites da comissão.

Sem suspensão de sabatinas

Para Antonio Anastasia (PSD-MG), a visita de Pompeo não foi “feliz”, mas ele disse não acreditar que a suspensão das sabatinas fossem a solução mais adequada.

“Não há nenhuma simpatia de minha parte ao regime venezuelano. O que não podemos concordar é exatamente com a palavra pública do secretário de Estado que dá a entender a queda de um governo do país vizinho. Acho que de fato o que houve na melhor das hipóteses um infelicidade absoluta”, disse Anastasia. (Com informações da Agência Senado)

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