Cargos viram moeda

Renan Filho pressiona deputados para eleger seu tio presidente da ALE

Governador de Alagoas usa cargos para fazer do tio chefe do Legislativo

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Deputado estadual Olavo Calheiros e governador de Alagoas Renan Filho. Fotos: Ascom ALE e Márcio Ferreira/Agência Alagoas

Vencido por uma maioria de parlamentares dispostos a eleger o deputado Marcelo Victor (SD-AL) para presidir a Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), o governador Renan Filho (MDB) e seus assessores iniciaram o jogo bruto, contra o naufrágio da pré-candidatura de Olavo Calheiros (MDB-AL). Os parlamentares opositores do tio do governador foram comunicados sobre a inevitável perda de indicações de cargos no governo estadual, caso não mudem de voto.

O presidente municipal do MDB de Maceió, deputado estadual Galba Novaes, foi a primeira vítima da reação do governo Renan Filho contra a perda de força da candidatura de Olavo. Um dia depois de o emedebista aparecer na foto em que 19 deputados demonstravam apoio a Marcelo Victor, seu filho e vereador de Maceió Galba Netto (MDB-AL) foi exonerado da Presidência do Procon Alagoas e substituído pelo advogado Carlos Eduardo Moura do Nascimento.

Outro recado bem entendido pelo parlamento teve como alvo o deputado Marcelo Beltrão (MDB-AL), outro que apareceu na foto que demonstrou apoio a Marcelo Victor. E veio através da exoneração do presidente do Instituto do Meio Ambiente, Gustavo Lopes, que é filho do vice-prefeito de Penedo (AL), Ronaldo Lopes, no município que tem como prefeito o irmão do deputado, Marcius Beltrão (PDT).

As exonerações foram publicadas na edição de hoje (4) do Diário Oficial do Estado.

‘Antas, pedrada de doido e coice de burro’

A reação do governador faz lembrar um pensamento recente do senador Renan Calheiros (MDB-AL), quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello decidiu que a votação para a Presidência do Senado deveria ser aberta, de forma a dificultar a candidatura do alagoano. Resta saber se o governador concorda que o pensamento de seu pai se aplicaria à sua própria interferência no Legislativo de Alagoas.

“A propósito da interferência no Legislativo: Não podemos deixar de defender a independência e a separação dos Poderes. Se a democracia não deve ficar exposta a pedrada de doido e a coice de burro, será sempre mais complicado defendê-la. Todo dia tem que matar um leão. Mas, o difícil mesmo é enfrentar as antas”, escreveu o senador, em dezembro.

Deputados demonstram apoio ao deputado Marcelo Victor para presidente da ALE. Foto: Divulgação

Próximos alvos

O Diário do Poder apurou que o governador Renan Filho se reuniu ontem com o prefeito de Teotônio Vilela, Joãozinho Pereira, e alertou que uma aliança da deputada mais votada de Alagoas, Jó Pereira (MDB-AL) com Marcelo Victor resultará na exoneração do outro irmão da deputada, Fernando Pereira, do comando da pasta da Assistência Social.

Do grupo de 21 apoiadores de Marcelo Victor no universo de 27 parlamentares da ALE, outros deputados também foram convidados a se retirar dos espaços no governo estadual, caso não queiram votar em Olavo Calheiros para presidir a ALE. A alguns, o apelo contou com a exaltação de que o pedido não seria pelo parentesco de tio do governador, mas pela consideração de “pai” que Renan Filho tem por Olavo.

Outra estratégia do jogo bruto deflagrado por Renan Filho foi oferecer aos deputados aliados a troca apenas da cabeça da chapa Presidência da ALE, com Olavo Calheiros presidente e a manutenção dos mesmos postos definidos atualmente, na chapa já formada na Mesa Diretora proposta por Marcelo Victor.

Hoje, a chapa proposta pelo grupo de apoio ao rival do tio do governador está definida da seguinte forma:

– Marcelo Victor (presidente)

– Galba Novaes (1° vice)

–  Yvan Beltrão (2° vice)

– Ângela Garrote (3° vice)

– Paulo Dantas (1° secretário)

– Davi Davino Filho (2° secretário)

– Marcos Barbosa (3° secretário)

– Tarcizo Freire (4° secretário)

– Flavia Cavalcante (1° suplente)

– Dudu Ronalsa (2° suplente)

O Diário do Poder questionou à assessoria do governo de Alagoas e do governador Renan Filho sobre a interferência do Executivo no Legislativo, mas não obteve respostas.

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