REELEIÇÃO AMEAÇADA

RENAN É CHAMADO DE CORONEL, APÓS ESPERNEAR CONTRA PRISÃO DE LULA

SENADOR FOI CHAMADO DE CORONEL POR SENADORA QUE ELE ATACOU

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DEPOIS DE ATACAR SENADORES QUE PEDIRAM AO STF PELA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA, RENAN BATEU BOCA EM PLENÁRIO (FOTO MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO) PUBLICIDADE

Diante da possibilidade de não ter como cabo eleitoral o condenado por corrupção e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) incendiou o plenário do Senado, ao usar a tribuna, nesta quarta-feira (4), para atacar 20 senadores que assinaram uma carta entregue no Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido para a manutenção do entendimento de permitir a prisão em segunda instância.

Em discurso durante o julgamento do habeas corpus de seu aliado petista, o senador alagoano acusou o grupo de pedir ao STF que a Constituição fosse rasgada, sem garantir a presunção de inocência. E os senadores citados reagiram, chamando o alagoano de “coronel” e o acusando de violentar a Constituição, durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Enquanto ocorria o julgamento do habeas corpus que acabou sendo negado ao ex-presidente petista, Renan chamou os colegas de plenário de “traidores” e “vivandeiras alvoroçadas”, ao citar um discurso do primeiro ditador do Brasil, o Marechal Castelo Branco, em alusão às mulheres que alimentam tropas. “Vinte senadores foram ontem como vivandeiras alvoroçadas ao Supremo pedir que Constituição fosse rasgada”, disse Renan.

Em defesa da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que Renan disse que não mereceria seu voto para se tornar líder do MDB, a senadora Ana Amélia (PP-RS) criticou o senador alagoano por atacar uma mulher. A senadora do PP o chamou de “coronel” e o acusou de violentar a Constituição, ao criar uma saída para a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) não perder os direitos políticos, ao ser alvo do impeachment, em 2016. Incoerência também criticada por outros senadores.

“Vossa excelência, ardilosamente violentou a Constituição, ao aceitar uma chicana, um corte… Interpretou a Constituição de forma absolutamente casuística. Onde está a coerência disso?”, disse Ana Amélia, enquanto Renan começou a esbravejar, pedir respeito, até ser advertido pelo senador Eunício Oliveira (MDB-CE). “Senador Renan, serenidade, por favor! Vamos ouvir a senadora”, alertou o presidente do Senado. “A democracia do senador Renan Calheiros é essa. Quer calar. É o coronel querendo calar as mulheres aqui no Senado! É o coronel que está me impedindo de falar!”, reagiu Ana Amélia.

Veja o trecho da sessão em que Renan é chamado de coronel:

BATEU, LEVOU

O presidente Eunício alertou que o Senado é a casa da serenidade, não de bate-boca. E não permitiu que Renan usasse a palavra para rebater as reações, enquanto todos os senadores não concluíram suas defesas. Postura que irritou o ex-presidente do Senado, que esbravejou e foi advertido.

“Vamos evitar, vamos para a serenidade. Vossa excelência é um senador maduro, presidiu essa casa várias vezes. Agrediu as pessoas. Vossa excelência não vai gritar comigo, não!”, disse Eunício, enquanto Renan gritava.

O primeiro a reagir com bastante nervosismo foi o senador Ayrton Sandoval (MDB-SP), suplente do ministro Aloysio Nunes, considerando o ataque do alagoano inaceitável. Renan retrucou com agressividade, tratando o colega como senador de segunda classe, dizendo que se tinha alguém que não precisa respeitar a constituição é Sandoval, porque não foi eleito e teria ido ao Senado ser “puxa saco de um governo moribundo”.

“Moribundo é vossa excelência, que já está fedendo nesta casa!”, reagiu Ayrton Sandoval, interrompendo Renan, gritando e lembrando que foi deputado Constituinte e ninguém mais que ele teria legitimidade para assinar a carta ao STF. “Com voto, ou sem voto, estou exercendo esse mandato e não aceito nenhuma censura de colega de nenhuma natureza. O senhor Renan Calheiros que vá cuidar da vida dele, que não merece o meu respeito!”, reagiu, furioso, o senador Sandoval, ao acusar Renan de tentar reproduzir no Senado o vergonhoso bate-boca ocorrido no STF, em março.

Veja Renan esbravejando contra o presidente do Senado:

‘FALTA LEGITIMIDADE’

O senador Valdemir Moka (MDB-MG) também disse não permitir ser alvo de um censurador. “É uma incoerência muito grande ser censurado por alguém que você sabe que não tem condições nenhuma de censurar ninguém”, disse Moka.

E o também suplente Ataídes Oliveira (PSDB-TO) defendeu o colega Ayrton Sandoval, dizendo não saber se Renan poderia dizer, como ele, que sua carteira de senador, igual às dos suplentes, não teria custado um real de dinheiro público. Já fora da tribuna, Renan tentou rebater, mas teve a palavra negada pelo presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB-CE), que priorizou outros inscritos para responder ao discurso de Renan.

ATAÍDES REAGIU CONTRA DISCURSO DE RENAN. (FOTO: JONAS PEREIRA/SENADO)

O senador Lasier Martins (PSD-RS) ressaltou que os 20 subscritores da carta ao STF “têm ficha limpa” e não estão implicados na Operação Lava Jato, em uma clara alusão aos processos a que Renan ainda responde, no âmbito da investigação do esquema do petrolão. E atribuiu o ataque do senador alagoano à perspectiva que ele criou junto a Lula e ao PT para garantir a própria reeleição.

“Não são vivandeiras do tempo de Castelo Branco, têm ficha limpa. Nenhum está implicado na Lava Jato. Vossa excelência está preocupado com sua reeleição! O senhor tem o seu eleitorado lá em Alagoas, participa de todos os governos e o senhor via uma perspectiva do PT, ao qual o senhor está aliado, de vencer essa eleição, o que é muito difícil”, disse Lasier.

No adiantar do debate, quando José Medeiros (Pode-MT) e Cristovam Buarque (PPS-DF) defendiam suas posições pela prisão na segunda instância, o presidente reafirmou que não admitiria bate-boca, ao ser surpreendido pelo senador Magno Malta (PR-ES), que adentrou o plenário, sem blazer, e tentou também rebater Renan, por ter sido citado. Em seguida, Magno respondeu a Renan, mesmo sem o traje completo.

“Me orgulha muito ter assinado a lista, porque o Brasil se tornou o país da corrupção, da violência e agora é um país sem lei e cada ministro é uma constituição. Me orgulha ter assinado a lista dos 20 e poder ter ido ao Supremo para dizer: ‘Isso aqui não é uma casa de brinquedo onde vocês fazem o que querem e desfazem em seguida’. Vão pedir perdão a Fernandinho Beira-mar e a Eduardo Cunha?”, disse Magno Malta.

Flexa Ribeiro (PSDB-PA), disse que Renan não tinha autoridade para criticá-lo, e o senador alagoano o interrompeu dizendo estar surpreso, porque o colega foi preso para ser investigado. “Na época, eu fui contra a abusiva prisão. Agora você é a favor?”, reagiu Renan.

Entre os senadores que assinaram a carta ao STF estão: Lasier Martins (PSD-RS), Simone Tebet (PMDB-MS), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Airton Sandoval (PMDB-SP), Ana Amélia (PP-RS), Cristovam Buarque (PPS-DF), Raimundo Lira (sem partido-PB), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Lúcia Vânia (PSB-GO), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Magno Malta (PR-ES), Romário (Pode-RJ), Reguffe (sem partido-DF), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Waldemir Moka (PMDB-MS), José Medeiros (Pode-MT).

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