Que coisa feia...

WhatsApp cancela 9 contas do PT em razão de disparos em massa ilegais

Os petistas acham que é "represália" ao projeto da lei das fake news, apenas apoiado pelo partido

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O Partido dos Trabalhadores (PT) teve nove de suas contas no WhatsApp desativadas nas duas últimas semanas por causa da prática de disparos automatizados de mensagens em massa, em um processo envolvendo denúncias de spam político. As duas ações são proibidas pelos termos de uso da plataforma.

O partido confirmou ao canal de notícias sobre tecnologia do UOL, o Tilt, que estes eram todos os canais que tinham no WhatsApp e eles foram tirados do ar a partir de 25 de junho. Desde então, quatro foram restabelecidos.

A presidente do partido, Gleisi Hoffman, disse à reportagem que a punição acontece dentro de um contexto maior: a batalha em torno do polêmico “PL das Fake News” —apoiado pela legenda, mas duramente criticado pela empresa em alguns de seus pontos.

“Não dá para a gente afirmar que seja uma represália, mas com certeza o Facebook tem lado, um posicionamento político e um posicionamento em relação ao PL. Não devem estar contentes com ele”, afirmou a deputada federal petista.

A explicação do partido é dada no contexto em que o referido projeto foi votado em dia 30 de junho, já cinco dias depois do bloqueio das contas petistas. A matéria foi aprovada no Senado na semana passada, com o voto favorável dos seis senadores petistas, ao projeto que obriga redes sociais a pedir documento e telefone para quem quer ter uma conta e que aplicativos de bate-papo registrem o caminho que uma mensagem percorreu ao ser encaminhada. Para o WhatsApp, este último ponto é o mesmo que “colocar uma tornozeleira eletrônica nos usuários”.

Ameaça e os fatos

O partido acusa o Facebook de não ser transparente. Para Hoffman, “o bloqueio desses canais ocorreu justamente dias depois que iniciamos o abaixo-assinado pelo impeachment [do presidente Jair Bolsonaro], com muitos apoiadores e entidades.”

“De nossa parte, temos muita desconfiança do que está acontecendo”, falou. “Eles têm de provar que é fake news. Isso é comunicação oficial do PT, e nós temos responsabilidade com o partido. Fake news, que eu saiba, não é feita oficialmente, as pessoas fazem no submundo da internet. Se o PT está fazendo fake news, a pessoa tem que nos processar e requerer direitos sobre danos de imagem”, completou a presidente do PT.

A tese de perseguição não condiz com o fato de que Facebook e Instagram já apagaram posts de Bolsonaro por julgar que o conteúdo ia contra sua política.

Em carta encaminhada ontem (6) ao Facebook, a presidente do PT ameaça com processo judicial caso a empresa não responda aos questionamentos sobre o motivo das contas terem sido apagadas.

O envio de spam não é proibido pela lei brasileira, mas pelas regras do WhatsApp, que desativa quem “enviar mensagens em massa ou automatizadas que violam nossos termos de serviço” —2 milhões de contas são banidas por mês em todo mundo.

Atividade suspeita

A atividade de parte dos canais do PT foi classificada como suspeita pelos sistemas de aprendizado de máquina usados para detectar essas práticas pelo WhatsApp.

“Se você está enviando mais de 100 mensagens por segundo, obviamente não é um ser humano que está por trás. Isso é automaticamente banido pelos sistemas”, explicou uma fonte próxima ao caso, que não quis se identificar.

Quando faz essas remoções automáticas, o aplicativo não registra de quem é a conta. Mas, como alguns usuários denunciaram que receberam conteúdo repetidas vezes, o comportamento foi classificado como spam.

Neste caso, as pessoas precisam encaminhar capturas de tela e, por isso, o WhatsApp passou a acompanhar as contas que dispararam as mensagens. Detectou então que elas faziam uso de algum sistema semiautomatizado. Por entender que elas estavam espalhando spam político, decidiu removê-las.

Para pessoas de dentro do WhatsApp, se tratava de um movimento coordenado. Cerca de 30 contas, também removidas, foram detectadas direcionando usuários para os perfis do PT. Na mesma semana, outro comportamento estranho de centenas de contas administradas por uma só empresa foi notado.

O PT disse que contratou mesmo uma companhia especializada em disparo em massa de mensagens pelo WhatsApp, a LEADWhats, de Curitiba, e isso já ocorre há pelo menos quatro meses. Segundo Hoffman, os envios não são feitos indiscriminadamente, mas com o objetivo de distribuir conteúdos para a base de filiados —são eles, segundo o partido, que formam as várias listas de transmissão gerenciadas pela LEADWhats.

A presidente do PT defende que os participantes das listas não só aceitam receber as mensagens como cadastram o número do WhatsApp da legenda em seus celulares. E disse que, quando o partido pediu informações a respeito das denúncias, a rede social disse não poder compartilhá-las para não infringir a privacidade dos usuários.

Já o WhatsApp disse que avalia processar a LEADWhats: “Continuaremos a banir contas usadas para enviar mensagens em massa ou automatizadas e avaliaremos mais profundamente as nossas opções legais contra empresas que oferecem esses serviços, como fizemos no passado no Brasil.”, disse a rede social.

O uso das “máquinas de spam”, nascidas para espalhar conteúdo publicitário, foi associado a campanhas políticas de Bolsonaro e do petista Fernando Haddad, durante as eleições de 2018. (Com informações do canal Tilt, do UOL)

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