Entrevista exclusiva

PPS reconhece fracasso do socialismo e muda de nome para Cidadania

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O deputado federal Daniel Coelho (PE) destaca um processo de mudança ideológica no Brasil e que culminou com a mudança de nome do Partido Popular Socialista (PPS) para Cidadania. Em entrevista ao Diário do Poder, o líder do Cidadania na Câmara admite: “A experiência socialista deu errado”.

Ele explicou que a mudança não decorre de qualquer sentimento como o de vergonha da denominação de “partido”, que parece haver inspirado alteração semelhante em outras siglas. “Não há vergonha nenhuma, há um orgulho do PPS, um partido que é marcado pela ética, pelo combate à corrupção que cumpriu seu papel histórico, mas você não pode insistir em algo que evidentemente não dá mais certo.”

Administrador de empresas por formação, Coelho está em seu segundo mandato como deputado federal. Foi vereador do Recife por dois mandatos consecutivos, em 2004 e 2008, e deputado estadual de Pernambuco.

Leia sua entrevista:

Por que mudar o nome do partido?
A gente passou por um processo de mudança, primeiro de reorientação ideológica das posições que temos no plenário. O PPS era um partido que vinha defendendo as reformas estruturantes do Estado, a reforma trabalhista, a reforma da Previdência. É evidente que não cabia mais o partido ser chamado de Partido Popular Socialista, quando defendíamos outra linha no mundo real. No ano passado, o partido abriu espaços na direção para as filiações dos movimentos de renovação, o Agora, o Renova, o Acredito, o Livres, que são movimentos com uma pegada liberal de progressista. Na prática, a gente tem um novo partido: o Cidadania é uma junção de movimentos da sociedade com o PPS.

Havia vergonha do PPS?
Não há vergonha nenhuma, há um orgulho do PPS, um partido que é marcado pela ética, pelo combate à corrupção que cumpriu seu papel histórico, mas você não pode insistir em algo que evidentemente não dá mais certo. A experiência socialista deu errado. Nosso DNA de preocupação com o meio ambiente, com a questão social, com os direitos individuais, é o mesmo, mas o mundo mudou. A gente precisa defender uma economia de mercado e uma intervenção menor na vida das pessoas. Então o partido tem um redirecionamento ideológico e tem novos componentes. É natural que a gente mude de nome para que esse posicionamento fique mais nítido para a sociedade.

Mas muitos partidos, desgastados, estão mudando de nome…
Cada partido tem a sua história seu debate interno. O mundo inteiro passa por processos de modificações nos seus partidos. Nas eleições europeias, são muitos os partidos ou com novos nomes, ou novos que nascem de outros segmentos da sociedade. A democracia é dinâmica, a sociedade é dinâmica e a política não pode ser estática. Não é um processo do Brasil, é um processo global. Na Espanha, os partidos tradicionais perderam espaço, com crescimento do Podemos e Ciudadanos. Na França, o partido do Emmanuel Macron ocupou um grande espaço, os Verdes crescendo em toda Europa, o Movimento 5 Estrelas na Itália. O que está havendo é uma nova maneira dos partidos interagirem com a sociedade, não podemos ficar presos ao passado. No Brasil, não seria diferente. Evidente que, em alguns casos, os partidos estão enrolados com corrupção e, portanto, tentam esconder a sua história, mas não é o caso o PPS.

O senhor não tem medo de ser identificado como partido do centrão?
Nunca houve essa identificação pelas posições nossas, não tem como você identificar o Cidadania como um partido do centrão porque o nosso comportamento é de julgar mérito das matérias. As votações mostram que a gente, em alguns momentos, pode até votar junto com o centrão, mas em outros a gente se posiciona junto com a oposição e em alguns momentos ficamos ao lado do governo. É muito nítida a independência da bancada do Cidadania. A votação do Coaf foi nítida em relação à essa questão. Ficou claro que o centrão defendia a retirada do Coaf das mãos do ministro Sérgio Moro, enquanto o Cidadania, com clareza, fechou questão. Todos os seus deputados votaram para que o Coaf ficasse junto com o Moro, se diferenciando da posição do centrão.

Quais são as pautas prioritárias do Congresso?
A reforma tributária, a simplificação da nossa legislação, a desburocratização do país, a facilidade para você empreender. É muito difícil empreender no Brasil. Precisamos diminuir as travas que o Brasil tem para o seu crescimento e precisamos abrir uma discussão sobre a questão social. É evidente que as regiões mais pobres do Brasil demoram mais a reagir a um possível crescimento econômico e a precisamos de programas sociais para essas regiões, o que até o momento não está sendo debatido. No Nordeste, a gente tem esse sentimento, é necessário que você faça uma discussão sobre a primeira infância, sobre a educação nas creches, sobre programas que podem mudar as futuras gerações.

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