PF vai ouvir candidata que acusa ministro de tê-la chamado para ser laranja
Zuleide Oliveira afirma que proposta foi feita no gabinete do parlamentar e hoje chefe do Turismo
A ex-candidata do PSL Zuleide Oliveira prestará depoimento à Polícia Federal nos próximos dias sobre a polêmica das candidaturas laranjas no partido do presidente Jair Bolsonaro. A mineira afirma que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio a chamou nas últimas eleições com objetivo de desviar dinheiro do fundo eleitoral do PSL. Polícia Federal e Ministério Público de Minas investigam o esquema. O ministro também afirma que jamais indicou profissionais para qualquer candidatura.
Em reportagem publicada nesta quinta, 7, Zuleide afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que esteve com Álvaro Antônio no dia 11 de setembro em Belo Horizonte, em seu escritório político para discutir sua candidatura.
A Polícia Federal abriu inquérito no dia 27 de fevereiro em Minas Gerais para investigar as candidaturas do PSL. Promotores já entregaram à polícia depoimentos de pessoas ouvidas sobre o caso, além de documentos.
“Ele [ministro] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. (…) Para o repasse ser feito, você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais'”, afirmou a integrante do PSL, que foi candidata a deputada estadual.
Ela é a primeira a implicar diretamente o hoje ministro no esquema de desvio de dinheiro público por meio de laranjas. Álvaro Antônio deve ser ouvido também pela PF.
Um grupo de quatro candidatas do partido recebeu R$ 279 mil, tendo tido votação ínfima. Parte desse dinheiro voltou para empresas de pessoas ligadas ao gabinete do hoje ministro.
A Folha teve acesso a emails e mensagens de áudio trocados por Zuleide com cinco dirigentes do PSL mineiro, comandado à época por Álvaro Antônio, incluindo um recado escrito por Rodrigo Brito, então assessor parlamentar do ministro, com o endereço do escritório do político em Belo Horizonte.
“Marcelo ofereceu um monte de coisa”, diz Zuleide, afirmando que o hoje ministro prometeu que ela ganharia uma vaga na Funai ou na secretaria de Saúde da região. Ela mora em Santa Rita de Caldas, a cerca de 50 km de Poços de Caldas, no sul do estado.
Zuleide acabou tendo o pedido de registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral devido a uma condenação em 2016, transitada em julgado, por uma briga com outra mulher. Ela enviou a sentença ao PSL de Minas por email no final de agosto.
“Eles já sabiam que não ia dar em nada [a candidatura, por ser ficha suja]. Hoje eu sei que eles sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer às eleições porque eu estava com os direitos políticos suspensos. Eles sabiam de tudo isso. Ele quis falar para mim que não ia dar em nada [a condenação não seria problema] pra mim poder preencher a chapa”.