Aposentadoria

Número de brasileiros com previdência privada não cresce desde 2016

Reforma não provocou corrida para instituições privadas como chegou a ser previsto por políticos de esquerda

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Programa prevê nove tipos de renda por meio de benefícios financeiros a famílias em situação de extrema pobreza e de pobreza. Foto: Rafael Neddermeyer

O andamento da reforma da Previdência no Congresso não serviu para elevar o número de brasileiros que investem em previdência privada, como chegou a ser afirmado por políticos de esquerda que acusaram o governo de tentar beneficiar empresários do ramo.

Há cerca de 13 milhões de investidores em planos privados, o mesmo número desde 2016, segundo a Fenaprevi (entidade das empresas de previdência privada aberta). O que mudou recentemente é que, aqueles que já tinham a aplicação, voltaram a investir com a recuperação da economia brasileira.

Os números de captação líquida (diferença entre aplicações e resgates) voltaram a subir, após terem desacelerado nos anos de queda no PIB, durante o governo Dilma Roussef (PT), e o saldo da reserva (o dinheiro acumulado nos fundos) continua subindo.

“O mercado de previdência privada é pró-cíclico. Quando a economia cresce, ele também cresce”, afirma Jorge Nasser, presidente da FenaPrevi, que põe na conta da lenta retomada a dificuldade de fazer o segmento deslanchar.

“O tamanho do mercado de previdência vai depender da capacidade de geração de renda. Houve uma recuperação pontual nos últimos dois meses, mas não acho que o movimento foi grande o suficiente para dizer que mudamos de patamar”, afirma Rogério Calabria, superintendente de produtos do Itaú.

Os 13 milhões de investidores de planos de previdência equivalem a cerca de um terço do número de trabalhadores com carteira assinada do país -fatia da população com renda estável e superior a dos informais e dos que trabalham por conta própria.

Como o mercado de trabalho se recupera com a ocupação desses dois últimos grupos, a renda média do trabalho está em queda: fechou o trimestre encerrado em julho em R$ 2.286, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); pouco mais de dois salários mínimos.

Especialistas enfatizam que todos deveriam ter recursos para poupar, mas isso acaba não ocorrendo porque a educação financeira é baixa e também por causa da economia.

“Desde 2015 a crise leva as pessoas a terem que, em vez de poupar, retirar dinheiro. E assim elas não podem aplicar em alguma coisa que tenha prazo longo”, afirma o professor Michael Viriato, do Insper.

Do ponto de vista prático, a previdência privada serve para complementar a aposentadoria pública, garantindo que o trabalhador não tenha queda na renda ao deixar o mercado de trabalho.

O ponto é que grande parte da população tem pouca necessidade de complementar a renda na velhice porque se aposenta com valores próximos ao que recebia na ativa, entre um e dois salários mínimos. A fatia dos aposentados que recebem até dois mínimos é de 83%. A Previdência pública no Brasil repõe 82% da renda do período ativo, uma das mais altas taxas do mundo.

Até aqui quem efetivamente precisava poupar era o trabalhador com salário maior que o teto da Previdência, que é de R$ 5.839. Independentemente das contribuições, a renda da aposentadoria é limitada a esse patamar.

São os trabalhadores com maior renda e maior capacidade de poupança. E poderiam ser estimulados por planos de previdência oferecidos pelos empregadores -mas aqui também pesa a dificuldade de retomada do emprego formal e a mudança nas relações de trabalho.

Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander, estima que só 25% da população que ganha acima do teto tem investimentos para complementar a renda. E acrescenta ainda outra lacuna: essas pessoas podem ter planos de previdência, mas não estão calibrados para garantir que eles poupem mensalmente o suficiente para efetivamente complementar a renda. “O grande buraco é quem tem [previdência], mas é insuficiente”, diz.

Enquanto isso, o mercado se esforça para olhar para a base da pirâmide. O Santander lançou um plano de previdência de renda fixa com taxa de administração de 1% ao ano e aplicação mínima de R$ 30 -85% do dinheiro da está na renda fixa. A taxa média de administração desses planos está 1,8% ao ano.

Tradicionalmente os custos da Previdência são elevados, o que era possível em um cenário de juros altos. A Selic a 6% e a expectativa de que ela fique em um patamar ainda menor por um longo período fazem com que os custos minem a rentabilidade do investimento.

A queda da taxa passa a ser uma estratégia de venda, a exemplo do que ocorreu com as taxas de carregamento (que ficavam com um percentual do dinheiro aplicado e retirado do investimento) no ano passado.

Ainda assim, não significa que o produto passará a atrair investidores de forma mais ampla. “O brasileiro já não poupa por si, ainda mais em planos de previdência que foram super mal falados. As pessoas ficam com preconceito de aplicar”, completa Viriato. (Com Folhapress)

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