Queima de arquivo

Marcos Valério diz que Lula foi um dos mandantes do assassinato de Celso Daniel

Ele revela que Lula o autorizou a pagar a chantagem de um empresário que ameaçava denunciá-lo

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Marcos Valério, "operador" do suborno do governo Lula aos políticos e do pagamento ao chantagista que ameaçava denunciar Lula como mandante do assassinato - Foto: revista Veja.

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, prestado no Departamento de Investigação de Homicídios de Minas Gerais, o ex-“operador” do mensalão do primeiro governo Lula cita o ex-presidente como mandante do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel.

Marcos Valério conta nesse depoimento, revelado em reportagem de Hugo Marques para a revista Veja, nesta sexta-fira (25), que Lula o autorizou a pagar a chantagem de que ele e outros petistas graduados foram alvo por um empresário de Santo André que ameaçava implicá-los na morte de Celso Daniel.

O ex-“tesoureiro” do suborno pago pelo governo Lula a políticos do Congresso disse ter ouvido desse empresário que o ex-presidente foi o mandante do assassinato.

O promotor Roberto Wider Filho, por considerar graves as informações colhidas, encaminhou o depoimento de Valério ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, que o anexou a uma investigação sigilosa que está em curso.

“Vá e resolva”
Em seu depoimento ao Ministério Público, que foi gravado em vídeo, Marcos Valério repetiu uma história que contou em 2018 ao então juiz Sergio Moro, envolvendo na trama praticamente todo o alto-comando petista. Diz a revista Veja em sua reportagem:

“A história começa, segundo ele, em 2003, quando Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, convocou-o para uma reunião no Palácio do Planalto. No encontro, o anfitrião afirmou que o empresário Ronan Maria Pinto, que participava de um esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André, ameaçava envolver a cúpula do Planalto no caso da morte de Celso Daniel. ‘Marcos, nós estamos com um problema. O Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu, e preciso que você resolva’, teria dito Carvalho. ‘Ele precisa de um recurso, e eu quero que você procure o Silvio Pereira (ex-secretário-geral do PT)’, acrescentou.”

O corpo do ex-prefeito Celso Daniel foi encontrado em uma estrada de barro: típico crime de encomenda.

Valério conta que, antes de deixar o Palácio, tentou levantar mais informações sobre a história com o então ministro José Dirceu. “Zé, seguinte: o Gilberto está me pedindo para eu procurar o Silvio Pereira para resolver um problema do Ronan Maria Pinto. Disse que é uma chantagem”, narra Valério no depoimento. A resposta do então chefe da Casa Civil teria sido curta e grossa: “Vá e resolva”.

Mensalão: dinheiro de corrupção
Durante o interrogatório, o promotor encarregado do caso perguntou a Marcos Valério sobre as relações financeiras do empresário com o governo e com o ex-presidente Lula:

“— O caixa que o senhor administrava era dinheiro de corrupção?”
“— Caixa dois e dinheiros paralelos de corrupção, propina e tudo.”
“— Do Governo Federal?”
“— Sim, do Governo Federal.”
“— Na Presidência de Lula?”
“— Na Presidência do presidente Lula.”
“— Pagamentos para quem?”
“— Para deputados, para ministros, despesas pessoais do presidente, todo tipo de despesa do Partido dos Trabalhadores”.

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