Eleito em 2º turno

João Doria assume criticando os 23 anos de PSDB no comando de SP

Ele decidiu não usufruir das mordomias do Palácio dos Bandeirantes

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O governador do Estado de São Paulo, João Doria toma posse do cargo. Foto: Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo

João Doria (PSDB), 61, tomou posse como governador do estado de São Paulo na manhã desta terça-feira (1º), em cerimônia na Assembleia Legislativa, na região do Ibirapuera (zona sul de SP). Em discurso, atacou os 23 anos de seguidos governos do PSDB no estado, apesar de pertencer ao mesmo grupo tucano.

Doria disse que o estado precisa deixar de “pensar pequeno” e que a partir de agora “São Paulo vai mudar, agora tem comando”. O novo governador ainda pediu a reestruturação do partido, hoje sob o comando de Geraldo Alckmin, ex-governador do estado e ausente na cerimônia. “Vamos ajudar o PSDB a estar sintonizado com o novo Brasil”, disse.

Em relação a Alckmin, Doria fez apenas uma menção breve a ele durante todo seu discurso de cerca de 30 minutos, ao dizer que, ao promover mudanças no PSDB, não desrespeitaria a história construída pelo ex-governador e outros tucanos históricos, como os também ex-governadores José Serra e Mário Covas e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No discurso, Doria prometeu ouvir as urnas e fazer um governo “com políticos” e não “de políticos”. Ele afirmou que agora o Palácio dos Bandeirantes será o “palácio do trabalho” e que não morará lá, cortando assim o que seriam, na visão dele, privilégios e mordomias para seus familiares.

O tucano alfinetou ocupantes anteriores da sede do governo, ao afirmar que os que forem até lá não devem esperar “muito café”, mas trabalho. O tucano frisou não ter medo de “cara feia” e que não ouviria “pedidos espúrios” de políticos. Alckmin morou no Palácio dos Bandeirantes durante seus mandatos.

Ainda em sua fala na Assembleia, o tucano frisou não ter medo de “cara feia” e que não ouviria “pedidos espúrios” de políticos.

Em 2016, quando disputou a eleição à Prefeitura de São Paulo, Doria teve justamente em Alckmin seu principal cabo eleitoral. Eleito no primeiro turno, assumiu o município e passou a disputar contra o próprio então governador do estado a vaga de candidato do partido à Presidência da República.

Doria perdeu essa disputa interna, abandonou a prefeitura após apenas 15 meses de gestão e deixou uma longa lista de projetos não realizados e uma série de metas não cumpridas. À época, decidiu disputar o Governo de São Paulo, eleição que conquistou no segundo turno, ao bater Márcio França (PSB), antigo vice de Alckmin.

Sobre a esfera federal, em sua fala na Assembleia, prometeu apoiar projetos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de reforma da Previdência, privatizações e na manutenção da reforma trabalhista. Também disse que os deputados tucanos trabalharão pela redução da maioridade penal e pelo fim do que chamou de “saidinhas” de presídios.

Doria viajará à tarde para Brasília, onde participará da cerimônia de posse presidencial. Durante a campanha eleitoral, o tucano colou sua imagem à de Bolsonaro, pregando o chamado Bolsodoria.

Desafios de Doria

No Governo de São Paulo, Doria enfrentará uma série de obstáculos, como uma bancada menor de seu partido na Assembleia. Além da política, ele terá desafios nas privatizações, segurança, mobilidade e educação.

O novo governador herdará contas relativamente em ordem e o menor índice de homicídios do Brasil, mas terá de contornar dificuldades que seus antecessores tucanos não enfrentaram, como uma bancada menor na Assembleia Legislativa.

A principal plataforma de campanha de Doria foi a segurança pública. Ele prometeu que a polícia atiraria para matar e, ao assumir, sinalizou que pretende colocar em prática o discurso duro das eleições, transformando em vitrine o enfrentamento ao PCC.

Entre as heranças negativas do tucanato, Doria terá de reverter uma série de erros na área da mobilidade. Os monotrilhos das linhas 15-Prata e 17-Ouro do metrô, vendidos como alternativas rápidas e baratas, por exemplo, estão atrasados e encareceram.

Tirar do papel parcerias e desestatizações prometidas na campanha estão entre os principais desafios de Doria. Na Prefeitura de São Paulo, seu grande programa de desestatização, que prometia passar à iniciativa privada equipamentos públicos como o Anhembi, o estádio do Pacaembu e o parque Ibirapuera, não gerou nenhuma realização concreta até o momento.

No estado, o governador eleito anunciou a cifra de R$ 23 bilhões em desestatizações. A estrela do pacote é o sistema prisional, responsável por um orçamento de R$ 4,5 bilhões ao ano. SP tem 227 mil presos em 170 unidades, em ambiente dominado pela facção PCC. (Folhapress)

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