Menos de seis votos

Imposição de Renan Filho destrói candidatura de seu tio a presidente da ALE

Retaliação a deputados aliados ampliou resistência e forçou renúncia de Olavo Calheiros

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Deputado estadual Olavo Calheiros e governador de Alagoas Renan Filho. Fotos: Ascom ALE e Márcio Ferreira/Agência Alagoas

A postura de coronel de interior com que atuou o governador Renan Filho (MDB) contra parlamentares aliados que se negaram a votar no deputado Olavo Calheiros (MDB-AL) para presidir a Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) destruiu o projeto político que envolvia o tio do governador. Com menos de meia dúzia de votos, Olavo Calheiros confirmou nesta quarta-feira (9) a desistência de sua pré-candidatura. E Marcelo Victor (SD-AL) segue como candidato único a presidente do Legislativo, com apoio assegurado por 21 dos 27 colegas de parlamento. 

A iniciativa de retaliar aliados, exonerando secretários e comissionados ligados a quatro dos deputados que rejeitaram apoio ao seu tio foi considerada passional e imatura pela maioria governista que apoia Marcelo Victor. Mas também expôs um projeto bem mais racional e estratégico do que o “toma lá dá cá” imediatista exigido pela velha política explicitamente praticada nestes primeiros dias do segundo mandato do filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL) no governo de Alagoas.

O fato gerador de toda a celeuma é a necessidade de Renan Filho de garantir retaguarda política confiável no Palácio República dos Palmares, para quando o governador renunciar ao mandato para disputar o Senado, em 2022. Ele até confia em seu vice, Luciano Barbosa (MDB); mas o quer eleito prefeito de Arapiraca em 2020, para tomar da oposição o segundo maior colégio eleitoral alagoano e pavimentar a consolidação de um domínio duradouro do clã Calheiros em Alagoas.

Ao expor aos parlamentares aliados suas intenções de abrir feridas em sua base de apoio, o domínio do Legislativo era meio, não um fim. Renan Filho tentou eleger seu tio Olavo Calheiros presidente da Assembleia, para reelegê-lo até o segundo biênio.

Seria uma imposição a ser aceita sem resistência pelos seus aliados. Assegurar um Legislativo domesticado nunca foi uma questão apenas de governar, mas de garantir a transição futura dos planos políticos de manutenção do clã Calheiros no poder.

Mas a garantia da governabilidade, sem percalços, deverá ser trabalhada agora, humildemente pelo governador, após esta antecipação da derrota política da arrogância, há quase um mês da eleição da Mesa Diretora da ALE.

Bola cantada para Renan Filho pelos deputados governistas pressionados, a rendição do deputado Olavo não passou por uma composição política com os adversários da disputa. Marcelo Victor, por exemplo, soube da desistência do tio do governador pela imprensa.

Além do próprio voto, Olavo contava com os votos de Ricardo Nezinho (MDB-AL), Antônio Albuquerque (PTB-AL), Breno Albuquerque (PRTB-AL) e Fátima Canuto (PRTB-AL).

Ao fim desta disputa, o governador de Alagoas foi exposto como praticante da política coronelista tradicional. E a maior derrotada foi a retórica de “porta-voz da nova política”, que brilhou como ouro de tolo desde 2014, nas alegorias do discurso de Renan Filho.

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