Após seleção pública

Governo do Rio nomeia irmã de juiz da Lava Jato, amigo do governador Witzel

Marcilene passou por processo seletivo, garante o governo fluminense

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A irmã do juiz Marcelo Bretas, responsável pela Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, assumiu um cargo de confiança na gestão do governador Wilson Witzel (PSC). O governador e o juiz são amigos desde a magistratura.

A advogada Marcilene Cristina Bretas Santana foi nomeada pelo secretário da Casa Civil, José Luís Cardoso Zamith, como assessora da Controladoria Geral do Estado (CGE).

Marcilene Bretas foi selecionada num processo seletivo aberto em janeiro deste ano. A exigência era “ser bacharel em direito, com formação sólida na área pública, saber ler textos em inglês e ter disponibilidade para cumprir a carga horária de 40 horas semanais”.

“Experiência prévia no sistema jurídico estadual, atuação em processos que envolvam licitações e pessoal e pós-graduação em assessoria jurídica ou em áreas de atuação da CGE [controladoria] serão diferenciais”, dizia o texto sobre a abertura do processo.

Marcilene Bretas, segundo a assessoria de imprensa da CGE, atuou como controladora-geral do município de Queimados, na Baixada Fluminense, de 2003 a 2005, e consultora jurídica geral do mesmo órgão de 2013 a 2016. Tratam-se das gestões de Azair Ramos (ex-MDB) e Max Lemos (MDB), respectivamente. O último é, atualmente, deputado estadual com forte ligação com Jorge Picciani (MDB).

A advogada tem um escritório em Queimados. Seus principais processos se referem a ações envolvendo o pai, Adenir Bretas. A CGE-RJ não divulgou o salário da nova funcionária. O servidor que a antecedeu no cargo recebia R$ 15,3 mil brutos.

A publicação da nomeação ocorreu nesta quinta-feira (18) no Diário Oficial, mas tem validade desde o dia 5 de abril. A CGE disse, em nota, que Marcilene Bretas “foi nomeada após ter enviado seu currículo para participar de processo seletivo para a área de assessoria jurídica, que analisou cerca de 800 currículos”.

“Vale ressaltar que dentre os currículos recebidos, o de Marcilene destacou-se por possuir experiências concretas na área de Controle Interno”, diz a nota da CGE.

Já o juiz Bretas afirmou: “Acredito que o órgão contratante fará os esclarecimentos necessários”.

A reportagem não conseguiu localizar Marcilene Bretas.

Amizade na magistratura

O juiz Bretas e Witzel se tornaram amigos na Justiça Federal. Ambos afirmam que cortaram contato quando o governador oficializou suas pretensões políticas, em março, e deixou a magistratura. O objetivo, dizem, era evitar rumores de que a condução da Lava Jato no período eleitoral pudesse sofrer alguma acusação de viés político.

Fato é que, sem nenhuma evidência de intenção de interferência no processo eleitoral, atos da Justiça Federal afetaram adversários do ex-juiz ao longo da campanha.

A três dias da eleição, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), derrotado no segundo turno, foi acusado pelo ex-secretário Alexandre Pinto de coordenar fraudes a licitações em grandes obras e receber propina em depoimento a Bretas. Anthony Garotinho (PRP), por sua vez, foi condenado criminalmente durante a campanha pelo TRF-2, ao qual Witzel era ligado.

O responsável pela Lava Jato fluminense também participou da posse de Witzel, na Assembleia Legislativa. Sentou-se no plenário ao lado dos secretários José Luís Cardoso Zamith e Gutemberg de Paula Fonseca (Governo).

Após a cerimônia, os dois foram juntos para a posse do presidente Jair Bolsonaro num avião da FAB (Força Aérea Brasileira) a convite do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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