Derrota dupla

Fracasso de Renan no Senado também ocorreu com Renan Filho na Assembleia

Governador carregou pai na campanha e contava com a Presidência do Senado

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Senadores Renan Calheiros e Renan Filho ocuparão duas das três vagas de Alagoas no Senado. Foto: Agência Alagoas/Arquivo

O governador de Alagoas Renan Filho (MDB) deu provas no último final de semana de que também perdeu o que era qualificado como talento hereditário para articulação política, exaltado havia décadas como característica que levou seu pai e senador Renan Calheiros (MDB-AL) à cúpula da política nacional. Renan Filho viajou de mala e cuia para Brasília (DF), na sexta (1º), faltando à posse dos deputados estaduais sob a justificativa de que ajudaria o pai a ser eleito presidente do Senado. Sua derrota foi dupla, já que o parlamento estadual também rejeitou com antecedência eleger seu tio Olavo Calheiros (MDB-AL) para presidir a Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE).

Renan Filho fracassou ao tentar manobrar com cargos a eleição do tio Olavo na ALE. Isso mesmo. Demitiu em massa indicados de aliados não domesticados, porque a cartilha da democracia calheirista prega independência e harmonia entre os poderes, somente se os seus próprios poderes não estiverem em jogo.

Sem habilidade nem sensibilidade, o governador não viu o antagonista de seu tio, Marcelo Victor (SD-AL), ser eleito presidente da ALE. Tinha viajado para Brasília certo de que a velha política nacional apagaria as luzes e elegeria seu pai longe dos olhos dos eleitores e com base em conchavos de bastidores.

Fortalecido eleitoralmente com uma vitória folgada e carregando nas costas de seu governo a reeleição do pai, o governador de Alagoas não contava com dois fracassos políticos neste início de segundo mandato. Contava era com o pai na Presidência do Senado para seguir atuando com o mesmo poder arrogante que tratou parceiros como capachos e os ignorou, em busca de redenção na capital federal para o conforto de seus interesses.

A partir de hoje, os aliados e adversários dos Calheiros esperam que Renan Filho e seu pai aprendam a lidar com suas derrotas e enfraquecimento político, colocando Alagoas e o Brasil acima dos anseios pessoais pelo poder.

Olavo Calheiros retirou a pré-candidatura ainda em janeiro, ao notar a falta de apoio contra o Marcelo Victor que foi eleito por unanimidade. Tal fato aliado à desistência de Renan da candidatura a presidente do Senado, sob os primeiros votos abertos que jogaram luz desinfetante naquele pleito, evidenciam que os Calheiros estavam acostumados a só jogar para ganhar, sob a penumbra de votações secretas e da velha política nada transparente.

A dupla de apoiadores do ex-presidente Lula, preso por corrupção, e do Partido dos Trabalhadores, engolfado por escândalos do petrolão, ainda acredita iniciar um novo momento de domínio político duradouro em Alagoas. Mas Renan Filho e seu pai terão que atuar sem o poderio potencializado em suas estratégias e com o Brasil presidido pela “nova ordem” imposta pelo Jair Bolsonaro (PSL) que eles trataram como antagonista há bem pouco tempo. De quebra, os parlamentares e aliados estão ouriçados, sedentos para dar novas lições no clã Calheiros.

Os alagoanos que acompanham esta resistência no âmbito político logo após a consagração eleitoral de outubro de 2018 deveriam estar ansiosos para compreender como será a postura de mais oito anos de um “novo” Renan Calheiros, esvaziado de poder e abastecido de rancor; bem como para observar como atuará o Renan Filho que já aparentava ser mais velho do que o pai, antes mesmo de estar desamparado pelas costas largas do ex-presidente do Senado.

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