Fritado no cargo

Ex-governador confirma pressão do PDT pela saída do governo Renan Filho

PDT nacional pediu que Lessa reflita sobre desgaste imposto pela falta de apoio

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Ex-governador Ronaldo Lessa e governador de Alagoas Renan Filho. Foto: Agência Alagoas

Quase dois meses após cobrar publicamente por nomeações de sua equipe e apoio para trabalhar as políticas públicas da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura (Seagri), o ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT) está sendo pressionado a deixar o cargo de secretário do governo de Renan Filho (MDB). O governador é acusado por uma corrente pedetista de desgastar o partido e Lessa propositalmente, para enfraquecer o aliado nas eleições municipais de 2020.

Um dos pedetistas da corrente contra a participação de Lessa no governo Renan Filho avalia a insatisfação como gigante e não relacionada apenas ao espaço reduzido no governo, com a perda de metade dos mais de 80 cargos ocupados pelo PDT no primeiro mandato do emedebista. “A pressão está gigante. Vamos arrancá-lo de lá. Nem é questão de cargo mais. A questão é a falta de apoio e o desgaste que isso impõe”, resumiu um integrante da cúpula do PDT de Alagoas.

Em entrevista ao Diário do Poder, Ronaldo Lessa confirmou a existência de uma corrente da militância que pede sua saída da equipe de Renan Filho e afirmou que o PDT nacional pediu que ele reflita sobre desgaste imposto pela falta de apoio do governo.

No início de abril, pouco mais de um mês após ser nomeado secretário de Renan Filho, o ex-governador expôs sua insatisfação com o descumprimento de um acordo político que previa nomeações de sua equipe, em vídeo publicado nas redes sociais. E no dia seguinte apareceu, em horário de expediente, ao lado do principal rival da família Calheiros, o prefeito de Maceió (AL) Rui Palmeira (PSDB).

No vídeo, Lessa revelou que, após devolver 81 cargos ao governo, só tinha havido sete nomeações na sua equipe. E cobrou mudanças na relação com o governo de Renan Filho. Parte de sua equipe foi nomeada dias depois.

Veja o que Ronaldo Lessa disse ao Diário do Poder sobre as pressões internas:

O jornalista Bernardino Souto Maior publicou que o PDT segue pressionando pela sua saída do governo Renan Filho. Qual a intensidade e motivo dessa insatisfação?

Existe no PDT uma corrente de pensamento contrário a nossa participação no governo. A direção Nacional solicitou que devamos refletir sobre o assunto, embora eles também como nós achamos que essa posição não é majoritária.

Entendi. A redução da participação, em quantidade de cargos no governo, contribui para isso? Ou a falta de apoio do governo às ações na Seagri também tem motivado?

A redução de cargos é um componente forte, mas as condições de trabalho são tão importantes quanto.

Sobre a falta de condições, ouvi mesmo um pedetista dizendo que se preocupam com o desgaste do PDT e de seu nome, na véspera das eleições de 2020. Pensam até que parece intencional o desgaste.

O governo alega que devemos começar a avaliar as condições a partir de junho. 

É uma sinalização de ajudar mais a Seagri, a partir de junho, não é?

Não só a Seagri, mas todas as secretarias. Vamos aguardar para compreender melhor.

Com prazo de validade

Seis dias após a nomeação de Lessa, o Diário do Poder publicou a reação negativa de produtores que pediam nas redes sociais a saída de Lessa do cargo, criticando a decisão meramente política de Renan Filho. E revelou que o governador justificou a interlocutores que representam o setor que a nomeação fez parte de um acordo político e pediu paciência, afirmando que Ronaldo Lessa deve durar pouco tempo na pasta. A relação com o setor foi pacificada, mas o governo ainda lhe nega condições de atuar com sua equipe.

O ex-governador pedetista vem absorvendo o desgaste pela inércia do governo em políticas da agricultuira como, por exemplo, a distribuição de sementes. E é irmão do presidente do Tribunal de Contas de Alagoas, Otávio Lessa.

Quando coordenava a bancada federal de Alagoas no Congresso Nacional, chegou a liderar pesquisas para senador, em 2017, e foi cotado para disputar o governo. Desistiu de tudo para apoiar as reeleições de Renan Filho e do senador Renan Calheiros (MDB-AL). E não conseguiu se reeleger para a Câmara Federal, em 2018.

O MDB guarda mágoa de Lessa não apenas da última pré-campanha de 2018, mas de 2016, quando rompeu com Renan Filho para apoiar a reeleição do prefeito Rui Palmeira, articulando a derrota do candidato emedebista Cícero Almeida, apoiado pelo governador e seu pai, então presidente do Senado.

O prefeito tucano da capital alagoana não deve recusar o ingresso de Lessa, para ampliar suas bases políticas.

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