Futuro do Bolsonarismo

Evento conservador consolida Eduardo Bolsonaro como herdeiro político do pai

Mestre de cerimônia da 1ª Cpac do Brasil brilhou sozinho no palco, prestigiado por ministros

acessibilidade:

A primeira edição brasileira da Cpac (Conservative Political Action Conference), principal evento conservador americano, trouxe o repertório esperado de críticas à mídia, denúncias de um suposto domínio cultural marxista e apelos por unidade da direita.

Mais relevante para o longo prazo, consolidou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), 35, como o sucessor político de seu pai.

Desenvolto na função de mestre de cerimônias do evento, realizado na sexta (11) e no sábado (12) num hotel de São Paulo, Eduardo foi o grande responsável por importar a conferência, que acontece desde 1973 nos EUA. Terminou a noite de sábado sendo saudado em coro como “Mitinho” pela plateia.

Em dois dias de reunião, o deputado alternou exemplos de puro bolsonarismo, atacando inimigos de seu pai e propagando bandeiras conservadoras, com momentos em que soube exercer um inesperado lado carismático.

Abusou do politicamente incorreto, como no momento em que pediu paciência à audiência porque um convidado chamado ao palco, o senador americano Mike Lee, se atrasou.

“Ninguém vai tocar fogo no prédio, né? Não vai ter mulher mostrando suvaco cabeludo, defecando e vomitando no chão e falando que é arte. E ninguém vai dizer que quem não gosta é fascista e racista”. A plateia adorou.
Em seguida, revelou que seu apelido de infância era Buba, referência a uma personagem hermafrodita da novela “Renascer”, e que o de seu irmão Flávio era Baleia Azul. Não explicou a razão.

Eduardo, indicado (ainda informalmente) embaixador do Brasil nos EUA, brilhou sozinho, talvez numa estratégia proposital do clã. Nenhum de seus irmãos esteve no evento, e a própria presença de Jair Bolsonaro, que estava confirmada, foi cancelada. O presidente preferiu ver o jogo entre Palmeiras e Botafogo no Pacaembu.

A enorme fila que se formava a cada intervalo da conferência para bater selfies com o deputado federal foi uma amostra de que é o filho “03” quem tem mais chances de ser escolhido o herdeiro do espólio do presidente, em 2026. Ou 2022, caso Bolsonaro, por algum motivo, não possa concorrer.

A conferência teve cerca de 1.200 participantes, na estimativa da organização. Bancada com recursos públicos do fundo partidário destinados ao PSL, custou cerca de R$ 800 mil.

Passaram pelo palco políticos, professores, escritores, ativistas e influenciadores digitais, que não disfarçavam a empolgação com o fato de terem ganho o palco principal do debate público depois de anos considerados uma franja.

Na maioria dos discursos, exaltações a que os conservadores ali presentes espalhassem o Evangelho direitista em suas cidades e bairros.

Participaram quatro ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Damares Alves (Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação). Damares e Onyx foram especialmente emotivos, dizendo que haviam esperado por aquele momento durante anos.

Weintraub fechou a conferência com uma explanação sobre as ameaças ao conservadorismo atualmente no Brasil e no mundo e detalhando a existência de uma suposta conspiração que envolveria até empresários bilionários comunistas. Numa analogia de gosto duvidoso, disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu caminho para Luiz Inácio Lula da Silva assim como a Aids abre caminho para a morte por tuberculose.

A segunda edição brasileira da Cpac, em 2020, está garantida. O termo de adesão foi assinado no palco por Eduardo Bolsonaro e Matt Schlapp, presidente da União Conservadora Americana, detentora da marca. Para novo momento de delírio da plateia, Eduardo imitou o pai usando uma caneta Compactor, em retaliação à francesa Bic. (Com informações da Folhapress)

Reportar Erro