Coronavírus

Sob ataque em videoconferência, Bolsonaro manda Doria descer do palanque

Governador cobra 'equilíbrio', enquanto ataca, e o presidente lembra que teve o nome usado por ele na campanha de 2018

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O presidente Jair Bolsonaro convidou os governadores à videoconferência e acabou ouvindo críticas - Foto: Marcos Corrêa/PR.

Acabou mal a reunião de Jair Bolsonaro com governadores do Sudeste, por videoconferência, nesta quarta-feira (25), quando o paulista João Doria (PSDB) resolveu atacar o presidente, criticando seu pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, nesta terça (25) e recomendando a ele “mais equilíbrio”.

Bolsonaro reagiu afirmando que o tucano fez declarações levianas e sugeriu que Doria guardasse suas opiniões pessoais para 2022. O governador paulista está claramente em campanha para presidente da República desde que assumiu o  cargo, colocando-se como alternativa a Bolsonaro em 2022.

Doria afirmou ainda que não admitiria confisco de respiradores, e ameaçou ir à Justiça contra o governo federal caso haja confisco de equipamentos e insumos destinados ao combate do novo coronavírus no estado.

Irritado, Bolsonaro afirmou que o tucano não tem autoridade moral para criticá-lo após usar o seu nome para se eleger e depois virou as costas, como o fez com os demais apoiadores inclusive em seu próprio partido.

”Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque”, exortou Bolsonaro, dirigindo-se a Doria.

A fala de Doria durou cerca de 5 minutos. “Sem diálogo não venceremos a pior crise de saúde pública da história de nosso País”, começou o governador, que em seguida chamou o presidente apenas de Bolsonaro, sem referência ao cargo que ocupa. Em vez de discutir medidas conjuntas dos governos federal e estaduais,  o governador optou pelo discurso político, a pretexto de pregar “o diálogo e o entendimento”:

– “Inicio na condição de cidadão, de brasileiro, lamentando seu pronunciamento de ontem à noite à nação. Nós estamos aqui, os quatro governadores do Sudeste, em respeito ao Brasil e aos Brasileiros, e em respeito também ao diálogo e ao entendimento.”

Em seguida o governador resolveu dar lições de comportamento a Bosonaro: “O senhor, como presidente da República, tinha que dar o exemplo. Tem que ser um mandatário para comandar, para dirigir e para liderar o País e não para dividir”.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) também cobrou liderança e responsabilidade do presidente da República. Ele disse que nunca desejou tanto que um presidente estivesse certo em seu pronunciamento. Mas que, por questão de responsabilidade, não poderia pagar para ver.

Isolamento vertical
O presidente criticou medidas de governadores de restrição de movimentação de pessoas e defendeu o chamado “isolamento vertical”, adotado com sucesso em países como Japão e a ser adotado nos Estados Unidos, em que apenas as pessoas do “grupo de risco”, como idosos, seriam mantidas em isolamento social.

“Vou conversar com ele [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde] e tomar a decisão”, disse Bolsonaro mais cedo, durante a tradicional “coletiva na grade”, que consegue diariamente na porta do Palácio Alvorada.

“Cara, você tem que isolar quem você pode”, disse ele, dirigindo-se a um jornalista. “Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar”, afirmou o presidente, em entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, a residência oficial.

“O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público. Aqui não é uma ditadura, é uma democracia”, declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada. “Os responsáveis pela minha mãe de 92 são seus meia-dúzia filhos​”, complementou Bolsonaro.

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