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Doria revoga regra que limita poder da PM em reintegração de posse

Durante a campanha, ele prometeu tratar grupos tipo MST como bandidos

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Governador de São Paulo, João Doria. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), revogou nesta terça-feira (22) decreto que obrigava que a Polícia Militar submetesse à aprovação do governo ações de apoio a reintegração de posse. Na prática, a mudança aumenta a autonomia da polícia nesse tipo de ação.

A publicação foi feita no Diário Oficial desta terça-feira (22).  Em casos de invasões de prédios e terrenos, a PM é chamada para dar apoio a cumprimentos de ordens judiciais para retirar pessoas que estejam ocupando o local. A nova medida de Doria desfez decreto do então governador do estado Márcio França (PSB), no final de outubro, que retirava carta branca da polícia nesses casos e obrigava a anuência do próprio secretário da Segurança.

Com o decreto de França, a PM ficava obrigada a “indicar a data prevista para a operação e a estrutura policial a ser empregada, devendo estar instruída com cópia da ordem judicial de reintegração de posse e conter informações acerca da quantidade aproximada de ocupantes, características da área a ser reintegrada, data aproximada do início da ocupação e outros eventos considerados relevantes para o planejamento da operação policial”.

Durante a campanha eleitoral, Doria atacou grupos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e disse que “serão tratados como bandidos”. O secretário da Agricultura do tucano, Gustavo Junqueira, afirmou que o MST é “terrorista”.

Doria regulamentou lei endurecendo regras para a realização de protestos, que inclui a previsão de levar mascarados para a delegacia e até ligar para seus pais e empregadores. A publicação foi feita no Diário Oficial deste sábado (19).

O tucano regulamenta uma lei que havia sido sancionada pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014, um ano após os protestos de junho de 2013 e também pouco depois das manifestações contra a Copa do Mundo.

A regulamentação da lei, quatro anos depois da aprovação, acontece em momento que o MPL (Movimento Passe Livre) fez dois protestos contra o aumento da tarifa dos ônibus e transporte sobre trilhos, de R$ 4 para R$ 4,30. Outras manifestações do grupo estão previstas.

De acordo com a lei, o uso de máscaras é vedado e “autorizará a intervenção pelas polícias Civil e Militar, de modo a exigir o cumprimento das normas constitucional e legal”.

A regulamentação afirma que a recusa na identificação poderá caracterizar delito de desobediência “hipótese em que a pessoa poderá ser conduzida à Delegacia de Polícia para sua identificação e formalização de eventual ato de polícia judiciária”.

A lei é de autoria do deputado estadual Campos Machado (PTB) e foi feita com o objetivo de evitar a atuação dos adeptos da tática black bloc, que pregam depredação como meio de protesto e costumam usar máscaras negras.

No caso de pessoas sem documentos, a legislação prevê que o policial poderá “além da consulta aos sistemas operacionais disponíveis para esse fim, efetuar contato com seu familiar, responsável e até com seu empregador, bem como solicitar o seu comparecimento à Delegacia de Polícia para apresentação de documento de identificação válido”.

O texto fala em manifestações e reuniões, o que pode abrir margem para que as regras sejam usadas também para outros tipos de eventos nas ruas.

A regra afirma ainda que a manifestação deve respeitar a livre circulação de pedestres e de veículos.

A lei também prevê comunicação prévia de protestos com expectativa de público superior a 300 pessoas, com no mínimo cinco dias de antecedência. O itinerário, segundo a legislação, será definido em conjunto com o comandante da Polícia Militar na região.

O projeto ainda proíbe o porte de objetos pontiagudos, tacos, bastões, pedras, armamentos que contenham artefatos explosivos e outros que possam lesionar pessoas e danificar patrimônio público ou particular.
No Rio a mesma medida já é válida desde 2013. Em outros países também há restrições para o uso de máscaras em manifestações.

No Canadá, o anonimato em atos é passível de punições que podem levar o manifestante para a prisão por até 10 anos. Nos EUA, 12 Estados responsabilizam criminalmente aqueles que se mascararem durante os protestos.

Nos dois países e no Rio, as proibições surgiram após protestos violentos comandados por manifestantes adeptos da tática black bloc. (FolhaPress)

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