Sabatina no Senado

Com referências religiosas, Kassio Marques diz que sua indicação é uma espécie de chamado

Desembargador também afirmou que o combate à corrupção é um "ideário essencial para que se consolide a democracia no país"

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O desembargador federal Kassio Marques em sabatina no Senado. Foto: Marcos Oliveria/Agência Senado

O desembargador Kassio Nunes Marques se apresentou, nesta quarta-feira (21), ao Senado para se submeter à sabatina pelos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), indicado pelo presidente da República para ocupar uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), após a aposentadoria de Celso de Mello.

Ele começou sua participação fazendo um aceno a conservadores falando em Deus, educação moral e cívica, meritocracia e “sonho brasileiro”. Para ele, sua indicação é uma espécie de “chamado”.

“Pela manhã, quando acordei lembrei-me do momento que mais tarde me aguardava. A sessão de sabatina no Senado federal. Por alguma razão, associei minha participação em todo esse contexto a um verdadeiro chamado”. Em seguida, Kassio Marques chegou a recitar um salmo: Isaías, versículo 12.

“Eis o Deus meu salvador, eu confio e nada temo. O senhor é minha força, meu louvor e salvação. Com alegria bebereis do manancial da salvação”, recitou. Ele também usou o Versículo Lucas 12:48 ao dizer: “A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá”.

Mais adiante, Kassio Marques contou ter aprendido a rezar com a mãe, “de joelho, ao pé da cama e com as mãos juntas em posição de súplica”.

Ele também disse que começou a moldar sua fé em Deus e no Brasil durante as missas semanais do colégio onde estudou e durante as aulas de Educação Moral e Cívica e Organização Política e Social do Brasil (OSPB), disciplinas ministradas no país, principalmente, durante a Ditadura Militar.

Diante do colegiado, Kassio Nunes Marques defendeu “equilíbrio e respeito entre os Poderes”.

Nunes destacou que Constituição é uma das maiores conquistas de um povo, mas ressaltou que elas não se concretizam nem se aperfeiçoam sem que haja uma efetiva atuação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de forma “independente e harmônica entre si”.

Além da independência dos Poderes, o indicado também defendeu a colegialidade de decisões e afirmou que compreende o papel da imprensa no processo democrático.”O combate à corrupção também é ideário essencial para que se consolide a democracia no país, mas essa postura não deve se concentrar neste ou naquele indivíduo, nessa ou naquela instituição, mas deve ser uma atitude comum às diversas instâncias, instituições e pessoas”, disse.

Ao destacar que a democracia é pilar fundamental da Constituição Federal, defendeu “a vida, a liberdade e a diversidade cultural e religiosa da população brasileira”. Outro ponto defendido pelo indicado foi o combate à corrupção como “ideário essencial” para consolidação da democracia, mas afirmou que esse movimento não pode “se concentrar neste ou naquele indivíduo”. “O combate à corrupção também é ideário essencial para que se consolide a democracia no país, mas essa postura não deve se concentrar neste ou naquele indivíduo, nessa ou naquela instituição, mas deve ser uma atitude comum às diversas instâncias, instituições e pessoas”.

Ativismo Judicial

Questionado sobre se há ativismo judicial, Marques disse que a construção de leis é de competência exclusiva do Congresso. “o meu perfil – para não falar de tribunal ou de qualquer outro magistrado – é a preservação das competências. Se precisamos de uma evolução normativa, se precisamos de uma alteração de um texto de uma lei, e a sociedade clama para que isso seja feito hoje, a postura do magistrado é aplicar a lei vigente e a Constituição vigente naquele momento, independentemente se isso vá satisfazer ou insatisfazer os anseios e os clamores, o calor do clamor popular naquele momento, porque, em agindo assim, esse clamor vai ecoar no foro próprio, que é o Congresso Nacional, onde estão os legítimos representantes do povo”, avaliou.

Segunda instância

Ao falar sobre prisão após condenação em segunda instância, o Kassio Marques afirmrou que o Judiciário não é o foro adequado para a discussão do tema.

Currículo

Uma das polêmicas envolvendo o currículo do desembargador nos últimos dias é a de que Kassio Nunes teria colocado em seu currículo um curso de pós-graduação na Universiadad de La Coruña, na Espanha, que a instituição negou existir. O desembargador afirmou que houve incompreensões das “regras educacionais europeias”. Nesse sentido esclareceu que o curso de “postgrado” não significa pós-graduação. “Qualquer curso pode receber a denominação ‘postgrado’. Não há menção no meu currículo de qualquer pós-graduação alguma na Espanha”, disse. “Em algumas comunidades autônomas da Espanha, qualquer curso realizado após a graduação pode receber a denominação ‘postgrado’ e não guardar nenhuma similitude com os oferecidos no Brasil”, explicou.

Votação

O nome de Kassio Nunes precisa ser aprovado pela maioria simples dos membros (maioria dos presentes à reunião). A CCJ é formada por 27 parlamentares. Independentemente do resultado na CCJ, a indicação é encaminhada ao plenário da Casa que tem a palavra final. Ele precisa da aprovação de pelo menos 41 dos 81 senadores para ser o novo ministro do STF. A expectativa é que essa segunda votação seja feita ainda hoje, logo após a sabatina. (Com informações da Agência Senado e Agência Brasil)

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