Entrevista

Candidatos de hoje não podem mentir como Dilma, diz acionista da Casas Bahia

Mentiras da ex-presidente renderam votos, lembra o empresário Michael Klein

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Com um pé no público de baixa renda, como acionista da Casas Bahia, e outro em um negócio próprio, a Icon, que aluga jatos para empresários e políticos, Michael Klein, 67, diz que a eleição deste ano é importante pois definirá quem assumirá a responsabilidade de reduzir o número de 13 milhões de desempregados.
O empresário afirma não ter aversão a nenhum dos cinco candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. E recomenda que não mintam ao eleitor sobre as medidas doloridas que terão que colocar em prática, se eleitos.
“Os cinco candidatos não podem fazer o mesmo que a Dilma [em 2014], prometer uma coisa e mentir. Com isso, ela acabou conseguindo voto. O candidato tem que falar o que é factível fazer”, afirmou.
A petista, segundo o empresário, negou os problemas econômicos e disse que não faria mudanças. Eleita, iniciou um ajuste fiscal reajustando preços de energia elétrica e combustíveis, represados durante a campanha. Independentemente de quem vença, Klein afirma que o empresariado precisa parar de esperar benesses do governo e voltar a investir.
Cobrou o detalhamento de como as reformas consideradas necessárias, da Previdência e simplificação tributária, serão feitas, e defendeu um Estado mais enxuto. Só assim, diz ele, sobrarão recursos para investimentos onde a iniciativa privada não vai.

A sua empresa de aluguel de jatos está abrindo um hangar em Brasília às vésperas das eleições e em meio às incertezas políticas. A demanda pode ser afetada se um dos cinco candidatos for eleito?
Somos otimistas por natureza. Independentemente de qual dos cinco [presidenciáveis] entrar, o Brasil é uma população de 210 milhões de habitantes que precisa se movimentar, ter indústrias, novos negócios. A população não vai parar de crescer, vai ter melhoria de renda e benefícios para que pessoas possam investir e ter trabalho. Qualquer um dos cinco tem a obrigação, além das reformas que o novo governo terá que fazer, de reduzir o número de 13 milhões de desempregados.

Essa eleição é mais importante que a de 2014?
É uma eleição muito importante porque estamos percebendo que, nos anos do governo do PT, a gente viu até onde eles conseguiram chegar. Nunca tivemos tanto desemprego. Isso serve de lição para o eleitor falar: ‘espere um pouco, quem eu quero votar vai ajudar a minimizar o desemprego ou continuar no mesmo ritmo que estava. A própria televisão vai mostrar que os candidatos que mais falam coisas condizentes, que possam melhorar [a situação], são esse, esse e esse, ou se fala coisas inviáveis, só de discurso.

Para o empresariado, qual candidato é melhor para assumir essa agenda?
Temos que ser apartidários. Para nós, quem procurar fazer o país desenvolver e destravar a economia que, vamos falar a verdade, está meio amarrada com a política.

Tem visto os debates?
Sim, todos falam a mesma coisa, com essa campanha anticorrupção e procurar fazer o país se desenvolver.

O sr. teme que algum candidato vença?
Não tememos nenhum deles. Qualquer um que entrar terá a obrigação de resolver a parte econômica, fazer o país voltar a crescer.

O sr. teme a volta do PT?
Não. O PT ou Haddad também terá que fazer alguma coisa para minimizar o que o partido fez e acabou gerando esse desemprego todo.

O mercado reagiu mal, entre outra coisas, a uma simulação de segundo turno feita pelo Datafolha entre Haddad e Bolsonaro. O mercado está errado?
O Haddad vai depender muito se o Lula vai conseguir transferir os votos das pessoas que eram fiéis a ele. Ele não vai conseguir 100% dos votos que o Lula tinha. A pesquisa mostrou que só um terço passaria para o Haddad e o resto ainda iria definir o novo candidato. Então acreditamos que o PT não vai conseguir os mesmos votos se fosse o Lula candidato.

O sr. já disse que a Dilma errou, na campanha de 2014, ao prometer que não faria ajustes na economia e, em seguida, fazê-los. Acha que o eleitor aceitará algo parecido desta vez?
Os cinco candidatos não podem fazer o mesmo que a Dilma, prometer uma coisa e mentir. Com isso, ela acabou conseguindo voto. O candidato tem que falar o que é factível fazer.

Propostas como a do candidato Ciro Gomes de limpar o nome dos devedores (SPC) com nome sujo são factíveis?
Não sei como ele vai conseguir limpar 63 milhões de nomes. O Banco do Brasil e a Caixa têm um índice de Basileia e de inadimplência para respeitar por regulamentação [do Banco Central]. Ele [os bancos estatais] não pode simplesmente pegar os recursos que tem ou, via União, pegar dinheiro do Tesouro e doar para as pessoas limparem os nomes. Eles têm obrigação fiduciária de serem responsáveis até na pessoa física. A lei é bem clara, se fizer alguma coisa que der prejuízo para a União ou para o Estado, ele [o gestor] é responsabilizado.

Mas nenhum deles quer falar coisas negativas na campanha.
Mas têm que falar o que dá para ser feito, mesmo que em fases. Então, na primeira etapa será feita uma coisa, na segunda etapa, outra coisa. E dar prazos e ir adaptando para que a população aceite as mudanças que precisarem ser feitas. E não ter um choque de uma vez. Senão, todo mundo vai ficar com receio até de votar.

O que eles não estão falando e que é importante?
Falam sobre fazer, mas não em como fazer a reforma fiscal [simplificação tributária] e a da Previdência, que são coisas que jogaram para o novo governo. Hoje percebemos que, até pela sobrevivência, cada estado briga para atrair indústrias e dar benefício. À medida que unificar e consolidar os impostos para ratear proporcionalmente ao que cada um produz, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), vai simplificar tudo isso. E deixar cada estado com a sua legislação para poder identificar quanto tem que dar em benefício fiscal, dentro da responsabilidade de cada um.

Acredita que o Brasil crescerá mais em 2019?
Sim, a inflação projetada está praticamente controlada, não estamos vendo nenhum susto que possa prejudicar. Independentemente de quem for o próximo presidente.

Há duas décadas, o empresariado defendia juros e inflação baixos como pré condições para uma economia pujante. Esses índices são os mais baixos da história e temos uma economia deprimida. Como o sr. explica?
O que está faltando é o empresariado, de modo geral, voltar a produzir, a crescer e gerar emprego. Independentemente de quem for eleito, o empresariado tem de fazer a parte dele e não esperar as benesses do governo. À medida que tivermos uma máquina do Estado menos inchada, a economia volta a funcionar. O governo tem de investir onde o empresariado não vai, infraestrutura. Vimos os leilões de aeroportos que tiveram sucesso. Neste ano, o governo não quer leiloar os 13 aeroportos? O próximo, qualquer um que seja eleito, que faça isso. Vai haver investimento de fora e local para as reformas nesses aeroportos, nas rodovias, ferrovias.

O que empresariado deve esperar do governo?
Vai ser um governo mais estatizante que privatizante? Vou lá, faço uma rodovia, e o governo depois diz que vai estatizar [a rodovia]. Então fala: ‘não vou investir’. Na hora que tiver isso daí [o rumo], os bancos e os empresários têm seus recursos e estão esperando pra ver qual o ritmo que o novo governo vai dar.

Quanto investiu no hangar em Brasília?
Está tudo ainda cheirando a tinta. Não fizemos todo o orçamento, porque corremos para inaugurar na época da eleição. Temos comprado muitas aeronaves nesse ano para atender mais afretamento. Temos a maior frota da aviação executiva no país, 25 aeronaves. Estávamos aqui mesmo, em Brasília, com um hangar bem menor. Hoje, está com 7.500 metros quadrados. Estamos com 75% da capacidade de hangaragem [estacionamento de jatinho].

Além do Alckmin, quem mais usa os serviços da Icon?
Nós não podemos abrir nossos clientes porque temos um acordo de confidencialidade. Atendemos por contrato a todos os partidos e fundos partidários. Começou bastante consulta agora [de partidos]. A gente quer atender partidos, mas nunca deixando a desejar nossa clientela de empresários, que é mais forte.

O sr. trocou o público mais popular pelo de alta renda. É diferente?
Não posso mais usar o mesmo slogan [da Casas Bahia], mas, no fundo, é dedicação total à Icon [o da Casas Bahia é “dedicação total a você”]. A dedicação é a mesma.

Quem paga mais em dia?
A aviação paga antecipado porque a despesa de tirar um avião do chão é muito grande. Então, o cliente pede desconto e paga antecipado.

Então o sr. continua num negócio de inadimplência baixa, não é?
[risos] Eu diria que tende a zero, vai.

Raio -X – Michael Klein

Idade: 67
Profissão: empresário
Formação: Administração pela Universidade Paes de Barros e pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas
Atuação: filho do fundador da Casas Bahia, entrou na empresa como diretor financeiro, em 1969. Em 2009, liderou a fusão com o Grupo Pão de Açúcar e assumiu a presidência da Viavarejo, empresa resultante da junção de Casas Bahia, Pontofrio e Extra Eletro; hoje é integrante do conselho da Viavarejo, como acionista minoritário, e, desde 2011, preside a holding Grupo CB, que atua na aviação executiva, com a marca IconAviation; ativos imobiliários, com a Icon Realty, e o braço automotivo CBMotors. (Folhapress)

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