Comércio Exterior

Após acordo com a UE, governo avalia impacto de saída do Mercosul

Abandono do bloco implicaria perdas a setores produtivos e afetaria cidadãos

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Presidente da República, Jair Bolsonaro e Presidente da República Argentina, Mauricio Macri. Foto: Marcos Corrêa/PR

No final de junho, a União Europeia e o Mercosul fecharam um acordo de livre comércio, negociado há 20 anos. Porém, o acordo fechado entre os blocos ainda não foi ratificado e o governo brasileiro já avalia os impactos de uma eventual saída do Brasil do Mercosul. Técnicos do ministério da Economia e o de Relações Exteriores e da Advocacia-Geral da União (AGU) foram acionados para detalhar os acordos e tratados que afetam cada país e o bloco econômico.

Ainda não há um cálculo preciso do impacto de uma ruptura, mas entram nessa conta perdas bilionárias decorrentes do fim das exportações brasileiras com tarifas diferenciadas aos países do bloco e as perdas para cidadãos.

Para entrar e sair nos países vizinhos, seria preciso passaporte com visto. Famílias que  vivem nesses lugares teriam permanência cancelada. Diplomas perderiam a validade.

Até as placas de veículos, que começam a ser trocadas por aquelas com os padrões do Mercosul, teriam de ser modificadas novamente.

No centro desse debate está a resistência da Argentina a uma política de redução da TEC (tarifa externa comum), que incide sobre os produtos exportados pelo bloco para outros países.

Em viagem ao Japão, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, na quarta (23), que pode solicitar a suspensão da Argentina para evitar que essa revisão tarifária seja barrada.

Para o Brasil, a redução tarifária em 80% de mais de 10 mil produtos do bloco significa levar adiante uma abertura comercial ampla dentro de quatro anos, afetando principalmente a indústria automobilística, base das relações comerciais com outros países.

Ainda segundo os negociadores, esse quadro de incerteza em relação à Argentina foi o que gerou resistência do governo brasileiro à assinatura do acordo automotivo com o país vizinho, em setembro.

A ordem para uma avaliação do impacto de uma eventual saída do Brasil do Mercosul foi uma orientação dada pelo Planalto para a equipe econômica e de relações internacionais assim que a chapa peronista, formada por Alberto Fernández e pela ex-presidente Cristina Kirchner, disparou nas pesquisas eleitorais para a sucessão presidencial. Ambos são protecionistas.

Nos bastidores, assessores consideram a medida extremada e que funcionaria, no final, como arma de Bolsonaro para interferir nas eleições ajudando seu aliado, o liberal Mauricio Macri.

Internamente, a equipe econômica vê com preocupação a retirada do bloco. Entre janeiro e agosto deste ano, os países compraram US$ 9,2 bilhões em produtos do Brasil, que importou US$ 11,8 bilhões de seus parceiros.

A indústria calçadista, têxtil e fogões, geladeiras e outros itens da linha branca são os carros-chefes dessas vendas. (Com informações da Folhapress)

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