Os Sessenta de Brasília

Miguel Lucena, o poeta popular que entrou na polícia mais pelos encantos de Brasília

"Acabei me apaixonando pela profissão e pela cidade", afirma o delegado paraibano

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Miguel Lucena, jornalista, delegado da Polícia Civil e poeta popular consagrado - Foto: Dênio Simões.

O delegado de polícia Miguel Lucena Filho, 54 anos, era apenas uma criança quando ouviu falar de Brasília pela primeira vez, no interior da Paraíba. No início da década de 1970, no município de Princesa Isabel, no sertão paraibano, escutava o pai comentar sobre o feito comandado pelo presidente Juscelino Kubitschek. A curiosidade e a vontade e de conhecer a nova capital só aumentaram depois que seus irmãos retornaram de uma visita contando as maravilhas da arquitetura, das avenidas e da mistura de culturas e sabores ofertados pela Feira da Torre. Isso já em 1983.

Miguel Lucena, o “Miguezim de Princesa”, integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

Todo anseio pelo primeiro encontro com a obra prima do Brasil no século passado chegou ao fim em 1987. Exercendo a profissão de jornalista, Lucena pisou pela primeira vez em solo brasiliense para participar de uma reunião da Federação Nacional dos Jornalistas. Segundo ele, as vastidões da Capital da República o impressionaram.

“Brasília nos passa a impressão de estarmos ao mesmo tempo na cidade e no campo, com amplos espaços verdes para passear e contemplar”, afirma.

De volta à Paraíba, Lucena estudou e se formou em Direito, com pós-graduação em Direito Penal. A formação acadêmica abriu a possiblidade de diversas carreiras no serviço público. No fim da década de 90, havia passado em muitos concursos como, por exemplo, procurador federal em Alagoas, procurador na Bahia e Sergipe, além de delegado da Polícia Civil do Distrito Federal. “Escolhi ser delegado mais pelos encantos da Capital da República do que propriamente da profissão de policial. Acabei me apaixonando pela profissão e pela cidade”, conta.

A carreira de Lucena o fez conhecer o DF como poucas pessoas. Trabalhou em São Sebastião, Paranoá, Lago Sul, Cruzeiro e, por sua desenvoltura e trato com a informação, como chefe da Comunicação da PCDF, onde criou Divisão de Comunicação (Divicom). Com trabalho sério e reconhecido pela comunidade, se tornou subsecretário de Segurança Pública do DF, em 2011, e, posteriormente, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Hoje, o delegado está lotado na Divisão da Coordenação de Fraudes, no Departamento de Polícia Especializada da PCDF.

O carinho por Brasília continua grande. Lucena, que é casado e tem dois filhos, não pensa, em voltar para sua terra natal ou se aventurar em outra cidade do planeta. “Sinto saudades, falo da minha terra nos meus escritos, recordo a infância, faço da minha pequena Princesa um escudo para enfrentar os desafios do mundo, mas não penso em sair de Brasília para morar em outro lugar, nem voltar para o interior do país”, confessa. Seus escritos são artigos de um jornalista atilado e competente e os versos de cordel assinados por “Miguezim de Princesa”, que faz a delícia dos muitos admiradores.

Do inesquecível dia 26 de janeiro de 1999, quando chegou em Brasília para ficar, até hoje, Lucena viveu bem a cidade. Entre seus lugares preferidos destacam-se o Parque da Cidade; o Centro Cultural Banco do Brasil; e o Clube do Choro. “O parque é o pulmão de Brasília e o CCBB sempre oferece exposições maravilhosas e espaço de lazer para crianças. Já o Clube do Choro foi onde tive o privilégio de conhecer gênios como Yamandu Costa e Hamilton de Holanda, além de assistir à última apresentação do conterrâneo Sivuca”, relata, orgulhoso.

Conhecedor das transformações sofridas por Brasília nas últimas décadas, Lucena mostra-se preocupado com o futuro da capital. O delegado relata que quando chegou com a família, a cidade não tinha problemas de grandes metrópoles, como engarrafamentos. Segundo ele, a população cresceu mais que a de outros centros com a criação de muitos condomínios e setores habitacionais. “O Distrito Federal passou por grandes crises políticas e, assim, a vida se tornou mais complicada”, lamenta.

Por outro lado, o paraibano com coração brasiliense acredita que Brasília possa manter a qualidade de vida de seus moradores. Para isso, explica, precisa estancar a especulação imobiliária, barrar a grilagem de terras e diversificar as atividades econômicas para que a população encontre meios de vida não somente no setor público, mas principalmente na área privada.

“Precisamos preservar Brasília, um patrimônio da humanidade ameaçado pela ganância de poucos especuladores”.

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