Pedro Rogério Moreira

Venda dos Correios: uma outra visão

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Estão enganando o presidente Bolsonaro aqueles políticos que propõem a venda da empresa Correios do Brasil à iniciativa privada. Se fosse um negócio bom para o povo, os Estados Unidos, o altar-mor do capitalismo, já o teriam feito. O que se deve fazer, e logo, como fizeram os EUA, é simplesmente aperfeiçoar a quebra do monopólio estatal neste vital setor da comunicação. Mas, até por uma questão de segurança nacional, a empresa Correios do Brasil deve continuar sua existência já tão velha quanto a do nosso próprio país, 1808. Segurança nacional? Isso mesmo. Por que o leitor acha que o Trump quer impedir o eleitorado americano de votar pelo correio? Ora, porque o Post é uma instituição séria demais para praticar maracutaia de qualquer espécie. Já pensou se o correio americano estivesse em mãos particulares? E se esses particulares tivessem o mesmo caráter de Trump?

O Post existe desde 1775, portanto é uma das mais antigas instituições daquele país. E notem como é importante demais:  seus dez diretores são designados pelo presidente da República e os nomes têm de ser aprovados pelo Senado. O presidente do Post está na linha de sucessão da Casa Branca depois do vice, do presidente da Câmara, do presidente da Suprema Corte e de não sei mais quem. Veja lá, hein? Tem hoje mais de 785 mil trabalhadores, respeitados pela população pela sua honestidade comprovada. Que vem desde o tempo do faroeste: nunca um carteiro americano fez aliança com assaltante de diligência.

Menos de cem anos após a fundação do Post, o governo dos Estados Unidos decidiu quebrar parte do monopólio e em 1851 autorizou o funcionamento de empresas privadas no setor. A emissão de selos postais, que do ponto de vista monetário é moeda corrente, permaneceu em suas mãos seguras. Foi então que nasceu a Western Union, que passava telegramas e era agente bancário também. No século passado, nova reforma autorizou o funcionamento de correios particulares. Nasceram o Federal Express e a UPS, hoje duas gigantes da comunicação internacional, sendo o Fedex a proprietária da maior frota de aviões do mundo. Voa por dia mais quilometragem do que as dez maiores companhias aéreas de passageiros.

França, Itália, Alemanha seguiram o exemplo dos Estados Unidos.

Por que o Brasil não pode?

As greves sucessivas na ECT assustam? Ora, que se faça um novo contrato social em que aumento de salário só é concedido se houver lucro.

Inchaço de pessoal? Ora, demita-se aquele que for dispensável. Enxugue a máquina.

Estimule a formação de empresas como o Fedex. E deixem as internacionais operarem aqui dentro.

Gestões seguidas de prejuízos? Os diretores respondem pelo seu CPF, aliás, como está na lei de responsabilidade fiscal.

Lá em cima citei a malandragem do Trump que colocou o Post em evidência esta semana. O exemplo não nos serve, dirá o leitor, já que a lei eleitoral brasileira não permite o voto pelo correio.

O trem de ferro, no século XIX, produziu em todo o mundo uma dramática revolução nas comunicações. Sepultou velharias e introduziu inovações com sua rapidez sobre trilhos. Foi por causa dessa invenção que o Post começou a quebrar o monopólio da comunicação interpessoal e autorizou empresas privadas a passar telegrama. A telefonia celular está fazendo em nosso século, com muito mais exorbitância, uma revolução planetária a que nenhum de nós imagina onde vai parar. Quem sabe nossos netos vão votar pelo smartphone? Desde que, quem recolha o voto digital, seja uma empresa tão honesta como o Post. Ou como o Correio do Brasil.

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