Faveco Corrêa

UTIs padrão FIFA

acessibilidade:

Confinado para não virar finado, assisto estarrecido um monte de pessoas morrendo aguardando um leito de UTI e fico pensando: o que fizemos de errado?

Dizem que não vale a pena chorar pelo leite derramado. Vale sim, para exigir que os governos criem vergonha e se dediquem a trabalhar pelo bem estar do povo. E para alertar os cidadãos para que não votem mais em demagogos que promovem a gastança inconsequente do escasso dinheiro público em projetos megalomaníacos sem nenhum respeito pela realidade de um país pobre como o nosso. Exemplos: Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas.

Vale a pena dar uma olhadinha no quadro que segue. Só com os quase 9 bilhões que foram gastos na  construção dos estádios que nos remeteram ao fiasco dos 7×1, os estados poderiam ter hoje mais de 65.000 leitos de UTI Padrão FIFA, de alta qualidade como requer a cartolagem do futebol mundial, e não os atuais míseros 16.500 leitos.

Para a construção e reforma das arenas para as Olimpíadas, lá se foram mais 7,23 bilhões, aproximadamente mais 40 mil leitos de UTI, neste caso padrão COI – Comitê Olímpico Internacional.

Mas naquele momento o importante não era a saúde pública, ou a educação deficiente que não capacita os jovens e compromete o futuro da Nação, ou melhorar o saneamento básico que não cobre metade da população, ou dar água encanada para mais de 13 milhões de brasileiros que nem sabem o que é isso, ou enfrentar a desigualdade num país onde milhões de famílias vivem com 850 reais por mês, ou menos. Esta é a verdadeira origem das degradantes filas de 50 milhões de brasileiros em busca da esmola governamental de 600
reais.

O importante em 2014 era produzir um espetáculo capaz de elevar ao pináculo da gloria o presidente de então, o hoje condenado Lula da Silva, o Cesar tupiniquim, que com pão e circo almejava, entre outras coisas, ser secretario geral da ONU, ganhar um prêmio Nobel ou ser canonizado pelo “hermano” Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, seu “cumpanhero” militante de esquerda, que provavelmente o batizaria como São Larápio, cognome que lhe cairia muito bem.

Afinal, ele não dizia ter operado o milagre da multiplicação dos pães como Jesus Cristo tinha feito há mais de 2 mil anos, com seu programa Fome Zero? E tirado da miséria milhões de brasileiros, hoje mais pobres do que antes?

Na verdade, nós somos responsáveis pelos desastres da nossa história. Nós votamos nele duas vezes e mais duas no seu poste. Não somos vítimas do PT. Fomos cúmplices. E não foi só isso. Elegemos Tancredo Neves, que parecia ser uma pessoa do bem, cujo inesperado falecimento deu lugar a José Sarney, capa do livro “Honoráveis Bandidos”, de Palmério Doria, editado pela Geração Editorial.

Depois veio o desconhecido Fernando Collor de Mello, que foi com muita sede ao pote e sofreu “impeachment” no fim de 1992. Dizem que ele tinha decidido roubar sozinho, sem repartir com sua base de sustentação no Congresso. Caiu do cavalo.

Este episódio felizmente deu origem a uma situação positiva, com a ascensão do vice Itamar Franco, provavelmente o mais honesto dos presidentes da nossa era pós-redemocratização. As pessoas esquecem que foi ele quem incentivou a criação e promulgou o Plano Real. Não é para menos já que isso foi há quase 30 anos, quando uma parcela ponderável dos atuais eleitores ainda não tinha nascido. Modesto e sem ambições, Itamar não cavalgou em cima do Plano em seu benefício político, o que foi feito com maestria por Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu seu sucessor. FHC cultivou com requintes o presidencialismo de cooptação, do qual foi
ponta de lança o seu ministro Sergio Motta, o conhecido Serjão, que negociou a emenda da
reeleição dando origem ao que talvez tenha sido o primeiro mensalão da história. FHC permaneceu por mais quatro anos no cobiçado Palácio do Planalto.

Socialista, FHC foi um dos principais cabos eleitorais de Lula, que também se dizia socialista. Sucedido por sua criatura Dilma Rousseff, a rainha da mandioca, foi ela a protagonista do segundo processo de impeachment do Brasil. Muito mais pelo conjunto da sua lamentável obra do que pelas tais pedaladas fiscais. Não podia dar outra.
Depois veio Michel Temer por um ano e meio. Temer não conseguiu governar por ter se envolvido, entre outras coisas, em tramoias e falcatruas com o notório corruptor mor Joesley batista, da JBS.

Agora temos Jair Bolsonaro, que, enquanto receita cloroquina para os de direita e tubaína para os de esquerda, frauda a confiança de boa parte do seu eleitorado por aderir ao abominável toma lá dá cá e negociar com o famigerado Centrão.

Como pudemos fazer tudo isso?

Como pudemos praticar tantos crimes de lesa pátria?

Só agora, diante do caos, é que a ficha está caindo e sentimos o cheiro fétido do intragável
leite que derramamos. Fazemos votos de que o Demiurgo de Garanhuns tenha razão quando diz, dentro da sua
notória irresponsabilidade: “ainda bem que a natureza criou o Corona vírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar…”Oxalá os brasileiros comecem mesmo a enxergar e não elejam mais personagens como ele, que conduziu o país à situação calamitosa em que se encontra.

E que, no futuro, enxergando melhor, possamos eleger governantes que construam mais UTIs hospitalares e políticas para curar o país do estado crítico em que se encontra. E salvar nossas vidas.

Faveco Corrêa, jornalista e publicitário, é sócio da Brandmotion Consultoria de Estratégia Empresarial, Fusões e Aquisições.

Reportar Erro