Dagoberto Alves de Almeida

Quanto custa a universidade?

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Vez ou outra divulgam-se opiniões ou posições acerca das universidades brasileiras – em especial as públicas – que acabam por ficar, geralmente, no nível da polêmica ideológica: de que são caras e que pouco contribuem para o país; que servem apenas a uma casta de privilegiados que nelas estudam em detrimento do restante da sociedade; que melhor seria se o orçamento público fosse retirado do terceiro grau e repassado para o ciclo básico. Uma temática dessa ordem, pela sua complexidade e importância para o desenvolvimento do país não pode, em absoluto, ser reduzida a considerações rasas que visam, tão somente, provocar desinformação para o desmonte do sistema público universitário.

Sejam públicas ou privadas as instituições de ensino superior, assim como de ciência e tecnologia, agregam valor à sociedade. Partindo dessa obviedade tomo partido da experiência como reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) nos mandatos de 2013 a 2016 e de 2017 a 2020 para compartilhar com vocês, de forma pragmática e sem elocubrações ideológicas, alguns dados e fatos que, quiçá, possam ser úteis aos formuladores e executores de políticas públicas.

Para que a Unifei – uma universidade nas áreas do STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) – funcionasse lhe foi disponibilizado em 2019 o montante de R$218.218.790,88 do orçamento federal. A propósito, caso esse orçamento não viesse dos cofres públicos cada aluno arcaria com o custo médio mensal de R$2.000,05. Isso é menos do que se cobra em muitas escolas do ensino infantil, fundamental e médio da rede privada. O fato é que como resultado da aplicação desse orçamento alunos se empregaram, startups foram criadas e projetos foram executados para atender algumas das muitas demandas tecnológicas do país.

Para dimensionar os resultados da atuação da Unifei considera-se, inicialmente, os proventos dos ex-alunos no mercado de trabalho, o qual partiu do cálculo do valor presente do adicional de renda gerado ao longo de 40 anos de vida profissional de uma turma típica de formandos com 1100 alunos da Unifei, em relação a não ter cursado o terceiro grau. Essa renda representou a cifra anual de R$1.288.360.634,30.

Outra contribuição que tem tomado força a cada ano que passa é que, diferentemente do passado em que todo graduado almejava trabalhar como assalariado em uma estatal ou em uma multinacional, parte dos egressos tem criado empresas de base tecnológica gerando empregos a partir dos ecossistemas de inovação e empreendedorismo das instituições universitárias. Graças a essas competências a cidade de Itajubá, sede de nossa instituição, conta atualmente com a maior incubadora de base tecnológica do estado de Minas Gerais, a INCIT. As startups que aí nasceram e atualmente povoam não apenas seu entorno, mas todo o país, representaram no ano de 2019 um acréscimo de renda (PIB) de R$119.116.700,60 em faturamento bruto.

Não se pode, também, deixar de destacar os projetos que chegam até as universidades em função de suas competências científicas e tecnológicas. No caso da Unifei nossas fundações de apoio movimentaram R$20.385.704,05, dos quais R$12.035.187,12 foram revertidos em geração de renda no ano de 2019.

Assim, a soma do acréscimo de renda, com o faturamento de startups e os projetos executados representou um montante 6,5 vezes maior que o orçamento recebido pela Unifei. Nem investimentos de risco entregam um resultado tão positivo. Obviamente, a sociedade como um todo se beneficiou e não apenas aqueles que nela se formaram na medida em que, considerando-se 30% como a carga tarifaria média, as ações da Unifei retornaram para os cofres públicos R$425.853.756,71, ou seja, quase duas vezes o que recebeu de orçamento.

Apesar dos benefícios econômicos advindos do investimento na educação de terceiro grau é preciso, todavia, que se atente para o fato de que a real contribuição civilizatória das universidades – pela ciência e pelas mudanças culturais que proporcionam – vai muito além do que se possa aquilatar contabilmente. Todavia, a ausência de seu dimensionamento prejudica a necessária divulgação da importância da educação e da ciência para o desenvolvimento do país. Sem educação de qualidade não se tem ciência; sem ciência não se tem tecnologia e sua ausência impede a geração de riqueza. Felizmente, modelos semelhantes estão inspirando outras instituições a levantarem seus custos e benefícios e, dessa forma, esclarecendo mais adequada e pragmaticamente nossa sociedade e nossos dirigentes. Afinal, o patrimônio representado pelas instituições públicas universitárias é realmente impressionante, tanto pela diversidade de áreas do conhecimento que são atendidas, quanto pelo fato de estarem espalhadas por todo o território nacional, dos grandes centros urbanos até as povoações ribeirinhas nas regiões fronteiriças do país. Várias, por sinal, com estruturas laboratoriais sofisticadas e possuidoras de hospitais universitários que demandam parcela expressiva de seus orçamentos, mas que são vitais para o nosso povo, em especial nesses tempos terríveis de pandemia.

Não há, portanto, retorno mais efetivo para a nação do que investir em educação de qualidade ofertada para o maior contingente possível de pessoas, da pré-escola à pós-graduação. Outras nações deram saltos impressionantes de desenvolvimento por meio da educação e da ciência e nós podemos, também, fazê-lo desde que não se perca de vista a relevância dessas questões.

Dagoberto Alves de Almeida é engenheiro pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), mestre em Engenharia de Produção pela COPPE-UFRJ , PhD, Manufacturing System Engineering – University of Cranfield – UK, Professor Titular da UNIFEI e ex-Reitor da UNIFEI – mandatos 2013-16 e 2017-20.

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