Francisco Maia

Poderes da calúnia

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“A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos”, advertia Montesquieu, político e filósofo, que desde o século 17 defendia a verdade e pregava pela justiça. As circunstâncias que envolvem as acusações de corrupção à Secretaria de Saúde do Distrito Federal devem ser tratadas com rigor, mas com muito cuidado. É preciso muita atenção com aquilo que nos dizem. Há mentiras que nos comovem e verdades que nos desapontam. Certas meias verdades, às vezes, são mais perigosas do que as mentiras.

Não há dúvida que qualquer transgressão do Poder Público, sobretudo aquelas que fazem lucro na dor humana, tangenciam o crime hediondo. Mas a destruição de biografias é delito também. A crônica da vida política mostra tristes exemplos. Alguns políticos e realizadores, acusados de corrupção, eram inocentes e morreram pobres. A voz do povo nem sempre é a voz de Deus.

Abelardo Lupión, governador do Paraná por quase trinta anos, é caso emblemático. À boca solta, sempre foi descrito como o maior corrupto do Brasil. Cassado pelo movimento de 64, viveu modestamente e dirigia seu carro usado. A política arruinou seu patrimônio construído antes dela.

Juscelino Kubitscheck, foi prefeito, governador e presidente da República. Em 1964, no governo militar, foi cassado e uma das alegações de seus algozes era a de que possuía “a quinta fortuna do mundo”, resultado da corrupção na construção de Brasília. Envelheceu pobre e teve a vida financiada pelo editor Adolfo Bloch, que jamais teve qualquer contrato com o governo federal. Fernanda Pires da Silva, empresária portuguesa, dona do grupo empresarial Grão Pará, que é proprietário de hotéis e do autódromo do Estoril, tinha fascínio pela personalidade de Juscelino e também o socorreu. Ao morrer, JK tinha dois carros usados, uma fazendola em Goiás e um apartamento no Rio de Janeiro.

Mais um injustiçado foi o coronel Mário Andreazza, o todo poderoso senhor das obras públicas de governos militares. Apesar da fama de grande corrupto, Andreazza morreu pobre e os amigos pagaram seu enterro.

Na maioria das vezes, a imprensa não tem luz própria, é apenas um espelho da sociedade em que vive. As pessoas adoram saber sobre aquilo que lhes parece familiar e fácil de repetir. Os jornalistas são indispensáveis às democracias, pois até quando erram, podem desencadear um processo de investigação da verdade. O erro profissional é aquele que se justifica pela ânsia de acertar, mas as calúnias nada tem a ver com a busca da verdade. Transformam-se em crimes, quando se empenham na destruição da honra de suas vítimas.

Assegurar a dignidade dos atores da cena jornalística e saber lidar com a opinião pública, necessita de longo aprendizado. É como percorrer uma reta de muitas curvas. Os grandes mestres chineses conseguem dormir em vigília, acordar em sonhos e desvendar a alma do homem. Para eles, os rios atingem seus objetivos, exatamente porque aprenderam contornar os obstáculos.

Que nos fique a lição: no convívio das sociedades, o maior obstáculo na vida dos homens é tudo aquilo que desafia a verdade. Mahatma Gandhi nos ajuda a definir esse perigo. “Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida e a de muitos outros”.

Francisco Maia é presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio).

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