Faveco Corrêa

Pobre República

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O título não é meu. É do Ministro do STF Marco Aurélio Mello.

A declaração foi feita no contexto da discussão sobre a possível reeleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado e do tetracampeonato de Rodrigo Maia na presidência da Câmara.

Como guardião da Carta Magna, Marco Aurélio foi taxativo: “A Constituição é clara: é vedada a recondução na eleição subsequente. Mas há o famoso jeitinho brasileiro. Pobre República”.

Mas a clareza do texto não está impedindo a manobra de Alcolumbre e Maia. Confiantes no jeitinho brasileiro, eles continuam os conchavos, conversando a portas fechadas com vários Ministros do Supremo. Já conseguiram a adesão explícita de Alexandre de Moraes a Gilmar Mendes (sempre ele), que estão ajudando a costurar a ilegalidade, com a “cobertura” do Palácio do Planalto, através dos amigos General Ramos e Fabio Faria, das Comunicações.

Luiz Fux já antecipou que “considera aderir à tese da recondução”.

Parece que Carmen Lucia, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski (que já rasgou a Lei Maior no caso do impeachment de Dilma), são contra. Luís Roberto Barroso ainda está em cima do muro. Dias Toffoli “avalia que Maia e Alcolumbre têm desempenhado um papel fundamental no equilíbrio entre os poderes e na contenção dos excessos do Palácio do Planalto”.

Já dá para sentir o cheiro da brilhantina, não é mesmo?

Para o Tribunal, Maia e Alcolumbre são a garantia de que o Senado não instalará a CPI da Lava Toga e que não vai dar provimento a nenhum dos pedidos de impeachment de ministros que abarrotam as gavetas da sua secretaria. Imaginem se algum “aventureiro” se eleger e resolver atender os anseios da sociedade. Que se lixe a Constituição que, com seus 250 artigos e 115 emendas, é uma colcha de retalhos sujeita a qualquer “interpretação”. Cada Ministro tem a sua, que muitas vezes é usada casuisticamente ao sabor de suas preferências pessoais, como, por exemplo, quando querem colocar em liberdade algum amigo condenado ou em função de suas preferências ideológicas. A proibição da prisão em segunda instância se encaixa nos dois conceitos.

Para o Planalto, é bom que fique como está.

Por tudo isso, o golpe está em curso. Tanto é que Maia e Alcolumbre viajaram escondidos a São Paulo na última terça-feira, 25, para jantar com Alexandre de Moraes. Imaginem só: escondidos num avião da FAB… Para eles, a viagem de jatinho saiu de graça, para nós, que pagamos a conta, não!

Diante da reação da opinião pública, Maia veio a público dizer que no tal jantar não se falou em reeleição. E para reiterar, mais uma vez, que não é candidato. Fake News.

O jornalista Claudio Humberto tem toda a razão em denunciar a PEC do Fraldão. Afinal, vivemos no mundo do toma lá da cá. O Supremo dá um jeitinho e o Congresso retribui aprovando a tal PEC, que permitirá que os “distintos” fiquem por lá até os 80 anos.

Como essa gente está, no momento, protegida pelo Novo Coronavirus (que já vitimou 120 mil brasileiros, mas não consegue matar a mosca azul que infectou Maia e Alcolumbre), que impede as grandes manifestações de rua, acham que podem fazer o que bem entendem, sem dar satisfação a ninguém. Enquanto isso nós, os babacas indefesos, assistimos a caravana da sacanagem passar.

Mas a pobre República não é só isso. Tem muito mais. O PT já está preparando uma grande festa no sítio de Atibaia, com direito a fim de semana no triplex do Guarujá, para comemorar a ressurreição de Lula e o lançamento de sua candidatura à presidência em 2022. Alguém tem dúvida de que o Supremo, capitaneado por Gilmar Mendes, deixará de anular as históricas sentenças de Sergio Moro que levaram a jararaca barbuda à prisão? Até a sentença proferida pelo ex juiz que condenou o doleiro Paulo Roberto Krug no caso Banestado foi anulada pela segunda turma por 2 x 2… (Para quem não se lembra, o escândalo do Banco do Estado do Paraná  aconteceu na década de 1990, envolvendo bilionárias remessas ilegais de divisas para o exterior).  Quando Sérgio Moro for julgado suspeito, o que é apenas uma questão de tempo, ficará provado que o chefe da organização criminosa que assaltou, entre outros, os cofres da Petrobrás, foi vítima de perseguição política. Diante das circunstâncias, ele conclui que tem o direito de voltar a ser Presidente da República.

Nesse meio tempo, o Supremo se prepara para deixar prescrever as acusações contra José Serra, o que seria mais uma demonstração de que no Brasil o crime compensa, enquanto o “deusembargador” Siqueira, do TJ/SP, o da carteirada, é “punido” pelo Conselho Nacional de Justiça: vai ficar em casa recebendo 56 mil reais por mês sem ter que trabalhar.

Marco Aurélio tem razão: pobre República!

Faveco Corrêa, jornalista e publicitário, é sócio da Brandmotion, consultoria empresarial e de fusões & aquisições

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