Miguel Gustavo de Paiva Torres

Para todos: negritude, minorias e a nova civilização brasileira

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A solenidade no STJ marcou a posse dos ministros João Otavio de Noronha na presidência e Maria Thereza de Assis Moura na vice. Foto: ABr)

A atrasada civilização brasileira começou a engatinhar e já começa a caminhar com suas próprias pernas na reta de chegada à segunda década do século XXI . Nos Estados Unidos começou nos anos sessenta do século passado com James Baldwin, Martin Luther King, Malcom X e Angela Davis. Na Europa, na África e no Caribe, com Sartre, Beuavoir, Leopold Sedar Senghor e Aimée Césaire.

Não se tratava de uma luta ideológica sobre formas de organização social e de governo, mas de uma batalha civilizatória. O movimento da “Negritude” e dos direitos das minorias tomou o proscênio do palco das sociedades avançadas do Ocidente. Com muito atraso. Com muito mais atraso despontou nos últimos anos em terras brasileiras onde o racismo envergonhado e discreto, e a repulsa às minorias criou o monstro da homofobia e da repressão cultural à diversidade de modos de vida e de pensamento.

Até muito recentemente, a própria fatia negra da população brasileira foi cúmplice de sua própria opressão. Fragmentados psicologicamente, e culturalmente, se envergonhavam de sua posição social , no que ficou conhecido como o “efeito Pelé”. A ascensão material e social levava aqueles que se sobressaiam a buscarem o casamento com a raça branca para a plena aceitação e o “branqueamento”, ao qual se referiu com tanta naturalidade o sincero General Mourão.

Tais Araujo e Lázaro Ramos.

Essa ingenuidade da auto-opressão começou a ser definitivamente quebrada no século XXI. O século de Lázaro Ramos e de Taís Araújo. Que beleza e que maravilha ver a nova juventude negra do Brasil, linda, leve e solta, ocupando o seu lugar de direito na sociedade brasileira e no rumo de uma nova etapa de nossa civilização.

Nos anos 70, ficaram os avós do movimento negro do Brasil, com a corajosa atuação internacional de Abdias do Nascimento, praticamente sozinho, isolado por uma grande maioria de sua própria origem, que preferia o conforto da “aceitação” branca, principalmente via casamento e “branqueamento”.

Esses avanços civilizatórios merecem todo o respaldo dos homens e mulheres de todas as cores para o bem do país. Nada poderia justificar o incentivo autoritário para tentar deter ou atrasar ainda mais o processo civilizatório da nação. O país a todos pertence e para todos deve ser governado. A lei acima de tudo, aqui na terra brasileira.

Essa parcela majoritária da população brasileira negra, mestiça, indígena, cafuza, oriental e branca é o objeto para o qual os eleitos governam. Não se pode governar para uma facção ideológica, nem de um lado e nem do outro. As esquerdas não são proprietárias de nenhuma parcela da população. A direita igualmente. Ambos os lados devem superar a estreiteza mental e ideológica que corrói a unidade nacional, institucionaliza injustiças históricas e atuais, e provoca a decadência da nação.

O Brasil é de todos os brasileiros e o governo deve ser, sim, para todos.

Miguel Gustavo de Paiva Torres, diplomata e escritor.

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