Pedro Luiz Rodrigues

Os muitos Brasis do Coronavírus

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Por quais felizes razões o Covid-19 não atingiu os Estados do Sul, do Centro-Oeste e em Minas Gerais, com a mesma fúria do que em outras partes do Brasil? Essa é uma questão que, apesar de sua relevância, não tem despertado muito o interesse da mídia.

Se fossem países independentes, esses Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais) – com uma taxa média de mortalidade pelo Covid-19 em torno de 1,2 para cada cem mil habitantes – destacar-se-iam no ‘ranking’ internacional de letalidade da doença como exemplos a serem seguidos.

Diferentemente do que ocorre na região Sudeste, onde a média dos efeitos letais da doença (10,8 por cem mil habitantes) não revela uma realidade homogênea (pois São Paulo, com 11,6 óbitos por cem mil habitantes; o Rio de Janeiro com 19,0 e o Espírito Santo, com 8,6 contrastam acentuadamente com a situação de Minas Gerais – 0,8 óbitos por cem mil), no Sul e Sudeste o quadro é de notável homogeneidade.

Nos Estados do Sul, até 20 de maio de 2020, a média de óbitos foi de 1,3 pessoas por cem mil habitantes. Por Estado, esta posição relativa foi de 1,4 no Rio Grande do Sul; 1,2 em Santa Catarina e 1,1 no Paraná.

No Centro-Oeste, a média de óbitos até a mesma data foi também de 1,3 pessoas por cem mil habitantes, com relativamente pequena diferença entre as unidades federadas: Distrito Federal (2,2), Goiás e Mato Grosso  (1,0) e Mato Grosso do Sul (0,6).

No caso de DF, cabe assinalar que dos 4.853 registros de casos confirmados, 226 foram de pacientes residentes em cidades de Goiás próximas de Brasília, e 281  transportados de outros Estados.  Minas, um caso à parte no Sudeste, com 177 pacientes vitimados pela Covid-19, apresentou taxa de óbito de 0,8% de sai população.

A taxa  média de letalidade da Covid-19 nessas mencionadas oito unidades da federação (que juntas ocupam área de 2,7 milhões de quilômetros quadrados, com população de cerca de 70 milhões de habitantes) é de  uma (1,0) fatalidade por cem mil habitantes.  Nos Estados Unidos, a unidade da federação menor índice de letalidade pela Covid-19 é o Alasca (13,7 óbitos por cada cem mil habitantes).

Para efeitos de comparação, estamos falando de uma área superior à área conjunta da Espanha, França, Alemanha, Suécia, Noruega, Finlândia e Reino Unido, e de uma população superior à de toda a França.

Pesquisemos, na busca de encontrar pontos de identidade entre esses Estados onde a letalidade do Covid, Primeiro, vejamos a qual partido pertencem os governadores de cada uma das unidades federadas de interesse:

MDB: Distrito Federal

DEM: Goiás, Mato Grosso

PSDB: Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul.

NOVO: Minas Gerais

PSD: Paraná

PSL: Santa Catarina

A registrar: nenhum governador do PT, PCdoB, PSC,PP,PDT, PSB.

Identificação precoce de casos: Em 28 de janeiro, quando ainda não havia casos confirmados de infecção, o Diário do Poder informava que as autoridades sanitárias do Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais (passageiro vindo da China) já investigavam casos suspeitos. No Governo do DF, desde meados de janeiro a questão já merecia a atenção pessoal do governador Ibaneis Rocha.

Fluxo de passageiros internacionais: Embora seja o terceiro principal aeroporto em movimento de passageiros do país (depois de Guarulhos e Congonhas), o aeroporto internacional de Brasília tem poucos vôos diretos com os Estados Unidos e Europa (a única frequência é para Lisboa).  Os demais aeroportos dos Estados mencionados têm nenhuma ou limitada presença de vôos para o Hemisfério Norte.

Carnaval –  Grande quantidade de vôos, regulares e charter, com expressiva quantidade de turistas do Hemisfério Norte (onde à época dos festejos o número de infectados começava a crescer) para as principais cidades onde intensamente se comemora o Carnaval (eixo Rio-São Paulo e Nordeste). Nos Estados do Sul o fluxo turístico é particularmente de cidadãos dos países do Mercousl, onde não havia registro da doença.

Grau de respeito às medidas preventivas – As curvas de observância do isolamento social seguem padrões mais ou menos estáveis na região, observando-se cumprimento maior no Distrito Federal, e menor no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.

Este levantamento é apenas um esboço para estimular a curiosidade do(a)s leitore(a)s, levando-o(a)s a refletir sobre questões sociais e econômicas relacionadas à pandemia do novo coronavírus.

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