Pedro Rogério Moreira

Os espiões nus

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A sabedoria popular ensina que não se deve chorar pelo leite derramado. Mas alguma lição deve-se retirar do acidente doméstico. No caso, planetário. A pandemia desnudou o equivocado alvo dos serviços de inteligência dos países que gastam uma fortuna com seus espiões. Incluindo aí não só os serviços estratégicos (militares e civis) das potências ocidentais como também da Rússia e da própria China. A ascensão do terrorismo internacional das seitas religiosas, as insurgências nacionais com potencial de gerar guerras regionais, as maluquices na Coréia do Norte e no Oriente Médio eram o foco da inteligência, no Ocidente e no Oriente. A guerra fria mudou apenas de nomenclatura. O objetivo da CIA, do MI-5, do Mossad, da Otan, do Putin et caterva permaneceu embirrado nas ameaças militares. Nada se enxergava além do alvo militar. Os homens de terno preto não acionaram os setores civis coadjuvantes, mas vitais dos serviços secretos, como os homens de avental branco da ciência e dos laboratórios industriais. Ninguém deu a mínima para a profecia catastrófica do mais poderoso líder mundial em 2015, o presidente dos Estados Unidos da América, Barak Obama. Não adiante chorar pelo leite derramado, mas deve-se tirar uma lição do que foi relegado ao descaso. Eis aí:

 

A fala de Obama nos remete ao episódio de Pearl Harbor. O soldadinho do radar avisou, o oficial achou que eram aviões aliados. Dizem até que em Washington a Marinha fez ouvidos moucos aos avisos. Felizmente apareceu Roosevelt para organizar o grandioso esforço de guerra.

Sabe-se agora (pelo The New York Times) que só em dezembro passado a CIA alertou o presidente Trump das ocorrências apocalípticas geradas a partir de um mercadinho da remota cidade chinesa onde um morcego fez cocô em cima da gaiola de um animal selvagem apreciado na culinária regional. Ufa! Alguém agiu na CIA. E o Trump, o que fez? Ora, o Trump! Só em meados de março ele abandonou o estado de espírito bolsonariano. Entrementes, a era do jato já estava realizando o estrago que a Peste Negra fez a pé e a cavalo, a influenza pela caravela e a Gripe Espanhola pelo navio a vapor. Se nem a OMS foi avisada pelos espiões, imagine então a Organização Internacional de Aviação Civil. Para se ter uma ideia da veloz propagação é só consultar o site flygthradar24. Este, ligado a satélites de comunicação que recebem sinais do transponder dos aviões comerciais, militares e particulares, mostra on line os voos em todo o planeta no momento em que se o consultar. Clicando em cima da figurinha amarela do avião, sabe-se o modelo, de onde decolou e onde irá pousar.  É possível voltar no tempo: faça-se um print em qualquer minuto, hora ou dia de uma data qualquer de janeiro e fevereiro e vê-se o cenário assustador: o formigueiro de aviões sobre países e oceanos transportando o vírus em seus bojos.

Enquanto os espiões estão nus e o leite derramado, resta-nos augurar o surgimento rápido de simultâneos Roosevelt em todos os países para organizar o esforço pela vitória na Terceira Guerra Mundial.

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