Francisco Maia

O nome do mal

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O perigo das redes sociais é permitir que a calúnia na boca de radicais se torne verdade. É lamentável que a informação na internet se transformou em perigosa arma de interesses. O jornalismo, como instituição, precisa se proteger de práticas sombrias para não ser arruinado pela fake news.

Hoje, vivemos sobressaltados com a violência que vemos à nossa volta. A palavra foi transformada em arma e a intolerância e o ódio, sua munição. Há muito, mentiras são oferecidas como verdades, mas foi com a chegada das redes sociais que esse abuso ficou corriqueiro.

Fake news é a designação em inglês das falsas notícias nos veículos de comunicação tradicionais e em redes sociais. O convívio com a diferença, dentro da sociedade, está insuportável. A opinião contrária do outro é um insulto para os indivíduos. A maneira de viver, falar, orar, amar, vestir e pensar não admite contradição.

Temos visto em Brasília multidões serem separadas por uma muralha de policiais, simplesmente porque as pessoas têm crenças diferente de como amar a mesma pátria. Todos vestem verde e amarelo, mas a intolerância desbota as cores e as faz rivais. O uso das palavras passa a ser instrumento de destruição e jogo perverso com a honra. Sites inescrupulosos e até veículos impressos se prestam a fazer esse serviço sujo e criminoso.

Crime com todas letras e punições. A prática desse delito exigiu uma lei que o enquadrasse nas teias da Justiça. Em uma votação difícil, o Senado aprovou um projeto de lei para evitar a produção e disseminação de fake news. A proposta já seguiu para a Câmara dos Deputados. Parlamentares de partidos distintos e convicções opostas se unem para conter o poder de destruição das falsas notícias, que atingem indiscriminadamente qualquer um.

No passado e hoje, grupos ideológicos não fazem distinção de credos. Os revolucionários se nivelam aos conservadores em torno da desordem e da intolerância. Escondidos no anonimato brancos ou vermelhos, azuis ou verdes, seja qual for a cor de seus ideais, usam a fake news para atingir a honra alheia. As notícias falsas são criadas por diversas razões. Algumas têm um sotaque comercial e cometem pecado venial ao executar trapaças para vender seus produtos. Grandes manchetes atraem consumidores potenciais a um site, onde se é espertamente conduzido ao e-commerce.

Ao lado desse pecado venial, há fake news que praticam transgressões mortais ao criar infâmias, calúnias e incentivo ao ódio. Os períodos eleitorais estão cheios de empresas especializadas em criar boatos, disseminando mentira a multidões de eleitores. Não bastam dois exemplos de crimes para definir o alcance desse perigo à sociedade. Ao lado do pecado venial e mortal, há o escandaloso, o inominável crime que une os dois pecados. O delinquente associa na calúnia o propósito político e um ardiloso golpe para lucrar sobre o erário ou qualquer fonte de recursos. Pior é quando se aproveita de catástrofes que contabilizam grandes verbas e vidas humanas.

Para criar uma fake news, tudo começa com uma simples página de internet. A partir de um algoritmo, aquele recurso digital que cria informações automáticas, um sistema operacional chamado de robô, trabalha incessantemente para espalhar o novo link nas redes. Quanto maior for a repetição, mais o sistema funciona. Chega a produzir informações a cada dois segundos, o que é impossível a qualquer ser humano.

Desse jeitinho se comete o crime e se arquiteta a teia de calúnias. A doença do Mal é tão infecciosa que para satisfazer desejos, ignora-se o prejuízo que esse “prazer” pode provocar. A conjuração das maldades sociais não tem idade nem rosto. Ao longo da História matou pessoas e envenenou civilizações.

O Brasil, como o mundo, vive um pesadelo que promete fazer transformações no trabalho, lazer e conceitos da humanidade. Não há tempo ou desculpa para no dividirmos como rivais. O Covid-19 mata à esquerda e à direita e indiscriminadamente não escolhe alvos. É hora de superação e grandeza. Tricas e futricas menores não tem mais lugar nessa imensa UTI social em que se transformou a sociedade.

A fake news, para o bem da humanidade, tem que ser banida. Não basta apenas punir severamente os delinquentes que a usam, mas é preciso evita-la. Albert Einstein, navegador do Universo, também identificou Buracos Negros na alma das sociedades. Com aguda percepção advertiu que o mundo é um lugar perigoso de se viver, não apenas por causa do mal, mas também pelo silêncio daqueles que o observam e nada fazem.

Francisco Maia é presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio).

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