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Notas amnióticas

Cláudio Humberto Cláudio Humberto
28/10/2018 às 13:24 | Atualizado às 13:30
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Era uma daquelas de noites úmidas de janeiro do ano da graça de 1943. Cheiro intenso de terra que a chuva da tarde fizera levantar. Era inverno,  o inverno de Pium, estação das chuvas. Quando não chove é verão. Nada dessas modernidades de quatro estações.

Na casinha pobre, à luz de lamparina, meu pai e minha mãe se entregavam a um embate de corpos, que chegava ao ápice sobre o tosco catre de tiras de couro trançadas. Respirações entrecortadas, murmúrios e gemidos. Até o frêmito final.

Eu ainda não era eu. Chamavam-me espermatozoide. Estranho nome. Posto em sossego, eu vagava naquele habitat viscoso.

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De  repente, um resfolegar crescente.  Alvoroço ao redor. Um turbilhão. Parecia um Tsunami. Os meus companheiros dispararam em desabalada carreira. Sem bem saber por que, senti que tinha que deixar-me levar por aquela correnteza incontida. Achei que dessa vez era pra valer. E pus-me a correr também.  Corri  mais rápido que o Bolt e nadei feito um peixe, mais lépido que o Phelps. Atravessei canais e fui deixando pra trás meus amigos. Cheguei na frente, medalha de ouro.  E encontrei um óvulo. Negociamos uma fecundação e fomos juntos pro útero. No caminho, desprezamos o chamado de um certo Falópio para tomar o atalho de sua trompa.

Eu ainda não era eu.

Eu ainda não era eu. Mas a partir desse momento estranhos fenômenos começaram a produzir-se naquele novo ambiente aquoso e amniótico que me envolveu. Mutações sucessivas. Senti, por exemplo, que uma espécie de tubo cresceu do meu umbigo, não sei bem pra onde. Por essa época eu era conhecido como embrião. Senti que meu, digamos,  corpo, começou a crescer. Pedaços de mim começaram a alongar-se e só depois soube que eram braços e pernas. Surgiu em mim uma espécie de rosto com olhos, a boca e o nariz. Logo depois observei que me nasciam pelos. Assustado, pensei comigo, o que será de mim quando tudo isso acabar. Em que ser me transformarei? Enquanto isso, dei pra ouvir sons fora daquele meu mundo líquido, escuro e silencioso. Como será lá fora?

E eu ainda não era eu. Nessa época fui rebatizado de feto (outro nome feio, né?). Um dia, o líquido em que eu nadava placidamente começou a vazar. E agora?, pensei. Daí a pouco comecei a sentir grandes movimentos ao meu redor. Senti-me empurrado para baixo. Fui descendo por um canal até começar a ouvir sons de grande agitação, respiração forçada, gemidos. Fiquei totalmente confuso. Quis voltar para aquele meu ninho de conforto, mas de nada adiantou. Senti que me puxavam para fora de minha morada de nove meses. Sons e as vozes ganharam tom e intensidade e gemidos também. Por fim uma onda mais forte me impeliu e mãos me deram o puxão definitivo pra fora. Era a parteira que, armada de panos limpos e água quente, arrancou-me dali.

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Nasci. Uma palmada nas nádegas doeu e me fez abrir um berreiro. Vi meu pai também chorar e até pensei comigo que ele também levara uma palmada.

Lavaram-me do muco e sangue no corpo. Depois trouxeram-me pro colo daquela moça bonita, minha mãe. O primeiro corpo de mulher que me acolheu e me aninhou na sua deliciosa quentura. A dona daquele castelo aquoso onde reinei também nos últimos  nove meses.

Nesse ponto acho que comecei a ser eu.

Pensei: vida atribulada essa, de espermatozoides/embriões/fetos. O máximo que se consegue de paz são os nove meses no útero. Mas quem é que quer saber de paz depois disso. Gostei daquele começo de vida do lado de fora. Leite de peitos, mamadeiras, sopinhas alimentaram-me nos primeiros tempos.

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Agora, setenta e cinco anos depois daquele dia em que vi a luz, olho pelo retrovisor e vejo quanta coisa passou, batalhas de vida. Sobrevivi à maleita danada e à pobreza, em diferentes ciclos. Desafiei Sísifo e insisti em empurrar a pedra montanha acima. Tantas venturas e aventuras, mas isso são capítulos de outra história que algum dia contarei.

Dante Coelho de Lima é diplomata.

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