Pedro Luiz Rodrigues

Lula, Salsichão com Chucrute

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz sua ‘rentrée’ no cenário político nacional, por intermédio de longa – mas um tanto banal e rançosa – entrevista que concedeu à revista alemã Der Spiegel.

Nessa entrevista, o líder do Partido dos Trabalhadores, manifestou suas características populistas habitais,  em particular a de hábil manipulador de palavras e fatos.

Primeiro, fez rodeios quanto a suas futuras aspirações políticas. Começou dizendo que não pensava em voltar a  se candidatar à Presidência da República (“estou  com 73 anos, nem sei se vou ainda estar vivo daqui a quatro anos!”). Mais adiante, contudo, concedeu que “por agora” não pensa em se candidatar. Para concluir observou que no PT e fora dele  (onde, no PSDB, no PMDB ?) há muitos bons nomes (mas não adiantou nenhum, nem o entrevistador lhe perguntou. O Brasil inteiro espera, inclusive os petistas, que ele não esteja pensando no nome de Dilma Rousseff.

Disposto ou não a disputar uma eleição presidencial, o fato é que Lula continua a se perceber como o salvador da pátria, o homem providencial e insubstituível, que – na definição de Enrique Krauze sobre os líderes populistas – reúne as características de profeta, de caudilho e de grande demagogo, pronto a resolver de vez e para sempre os problemas do povo. Nenhuma palavra, contudo, sobre a situação desastrosa do Brasil deixado após 13 anos de PT.

Ao longo de sua entrevista, Lula tenta parecer humilde, mas não consegue ocultar a arrogância própria dos líderes carismáticos, acostumados à reverência de natureza quase religiosa que recebem de seus discípulos. Em determinado momento, chegou a pedir ao entrevistador que transmitisse a Angela Merkel sua opinião de que a Alemanha age errado com a Venezuela, ao apoiar Guaidó e em não reconhecer a legitimidade do presidente Maduro.

Para Lula, Guaidó é um líder despreparado e sem credibilidade. Nenhuma palavra de crítica, porém, contra o ditador Maduro- e às suas políticas desastrosas  que produziram o maior desastre econômico e social da história Venezuela: inflação de um milhão por cento, índice de pobreza de 90% e êxodo do de cerca de 12% de sua população para outros países da América Latina.

Segundo Lula,  os governos do PT, o seu inclusive, foram marcados pela mais absoluta integridade e retidão, sem qualquer mancha de desonestidade ou atos de corrupção. Ele mesmo é absolutamente inocente, não tendo ganho nada de ninguém, inclusive de nenhuma das grandes construtoras que superfaturaram obras a rodo nos governos do PT. Nenhum comentário sobre os bilhões do ‘mensalão’ nem  sobre os 13 bilhões de reais recuperados pela Lava-Jato dos esquemas de corrupção petistas.

Lula insinua a seu entrevistador que o juiz Moro, atual Ministro da Justiça, o mandou para a prisão para abrir o  caminho de Bolsonaro à Presidência da República, não se incomodando (nem ele, nem o jornalista) com o fato, cronologicamente irrefutável, de que a condenação do ex-presidente (julho de 2017) ocorreu um ano antes do lançamento do nome de Bolsonaro como candidato à Presidência da República (julho de 2018).

Embora uma simples pergunta sobre a cronologia pudesse ter posto fim à estapafúrdia argumentação de Lula, o ex-presidente continuou atacando Moro, associando o fato de seu nome ter sido levado em consideração para uma futura nomeação ao Superior Tribunal Federal como evidência de que “tudo havia sido planejado com antecedência”. Mais uma vez, Lula se enquadra no decálogo do populista (item 3) de Krauze: “o líder populista fabrica sua própria verdade”.

Pedro Luiz Rodrigues, jornalista e diplomata. Este artigo reflete sua opinião pessoal.

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