Faveco Corrêa

Lava Jato pela bola sete

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As recentes declarações do Procurador Geral da República, Augusto Aras, colocaram a Lava Jato bem na boca da caçapa. A tacada final poderá ser dada pelo Supremo quando julgar o pedido de suspeição de Sergio Moro, feito pela defesa de Lula. Caso os atos de Moro sejam considerados nulos, os processos poderão voltar até mesmo à fase de denúncia, livrando o demiurgo de Garanhuns das condenações, não importando que tenham sido mantidas pela segunda instância, como nos casos do Triplex e do sítio de Atibaia, fazendo com que deixe de ser ficha suja e se torne elegível. 

As virulentas palavras de Aras, proferidas para um seleto grupo de colegas do Kakay, notórios críticos da Lava Jato, além de inadequadas (por revelarem um procedimento que estava sendo conduzido sob sigilo nos canais regulamentares do MPF), colocaram farinha no ventilador, como dizem alguns comentaristas de TV traduzindo livremente a popular expressão inglesa “shit on the fan”. A grosseria do PGR não tem nada de farinha, é pura merda, que pode respingar no próprio.

Ele, que já não goza da simpatia de seus pares por ter entrado pela porta dos fundos, terá agora, também, a antipatia da opinião pública.

Não se trata de averiguar eventuais excessos da força-tarefa, pois isso, além de normal, é desejável. E se existirem, devem ser punidos. Mas colocar a boca no trombone da maneira como fez, para um auditório privilegiado de inimigos da Lava Jato, são outros quinhentos.  Aliás, eu não sei por que estes advogados se dizem contra a Lava Jato. Deveriam render homenagens a ela todos os dias e fazer romarias à Curitiba, para agradecer o fabuloso fluxo de grana que lhes proporcionou. E acender velinhas para que nunca acabe. Afinal, políticos e empresários corruptos e cheios de dinheiro é o que não falta, já que roubar em grande escala é esporte nacional. Basta ver o que está acontecendo com o Covidão.  Alguns desses pilantras já são conhecidos, mas a maioria permanece incógnita. Logo, para os criminalistas a messe é grande. Se arrependimento matasse, eu já teria morrido há muito tempo, por ter deixado a Escola de Direito para continuar jornalista e ser publicitário. 

Mas os advogados não foram os únicos a ganhar com a Lava Jato. A sociedade como um todo foi a grande beneficiada. Desde que começou, há seis anos, essa Operação nos encheu de alegria. Passamos a acreditar que seria possível por fim à impunidade que sempre protegeu políticos e poderosos em nosso país. Ela nos devolveu o orgulho de sermos brasileiros.

Hoje vemos com tristeza um movimento orquestrado e poderoso para acabar com ela.  Montou-se uma nefasta parceria entre Executivo, Legislativo e Judiciário para silenciar e inibir a força-tarefa. São tantos os golpes desferidos que seria cansativo lembrá-los. O Presidente da República, que se elegeu com a bandeira de combate à corrupção e à velha política, parece ter se unido a esta corrente. Não vetou o tal Juiz de Garantias, nem artigos da Lei de Abuso de Autoridade. Deixou correr solta na Câmara a tramitação do pacote anticrime, projeto de lei apresentado pelo seu próprio governo, até que ficasse totalmente desfigurado e desidratado. Fritou o Ministro Sérgio Moro, símbolo da nossa luta desinfetante e purificadora, e emplacou, sabe-se lá por que, Augusto Aras na chefia da PGR.

O presidente da Câmara, o “Botafogo” da lista da Odebrecht, que não morre de amores pela Lava Jato, declara que apoia a quarentena eleitoral de oito anos (oito!), inventada pelo presidente da Suprema Corte, numa manobra de uma sutileza elefantina para tirar Sergio Moro da jogada e bani-lo do cenário político. Daqui oito anos, ninguém se lembrará mais dele, como aconteceu com o Ministro Joaquim Barbosa.

Quanto ao STF, seu ódio contra a Lava Jato e sua aversão contra Sérgio Moro são fatos públicos e notórios. E cada dia apronta mais uma, como esta última do seu presidente, impedindo as investigações do Ministério Público Eleitoral sobre José Serra e melando a denúncia, sobejamente provada e documentada, que já tinha sido aceita pela Justiça Federal, que o transformava em réu por caixa dois, corrupção e lavagem de dinheiro. Milhões de dinheiros, diga-se de passagem, fruto da generosidade da Odebrecht. Eu não sabia que o “vizinho” era tão chegado ao “amigo do amigo de meu pai”…

Por estas e outras, vejo sombrio o futuro do combate à corrupção no Brasil.

Como não se pode esperar muito das Instituições, nossas alternativas são fazer o máximo de pressão virtual possível e, assim que o corona permitir,  ir às ruas, mais uma vez, exigir, legítima e democraticamente, que a Lava Jato não seja encaçapada e que se acabe, de uma vez por todas, com a bandalheira que assola o Brasil. 

Vamos nessa?

Não queremos, de jeito nenhum, que nossos netos vivam num país conhecido como o reino da impunidade e onde o crime compensa.

Não é mesmo?

 

Faveco Corrêa, jornalista e publicitário, é sócio da Brandmotion,

Consultoria Empresarial, Fusões e Aquisições

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