Justiça e Primeira Infância
É hora de se estabelecer uma coalizão de todos os que querem ver uma verdadeira mudança na vida das crianças pequenas e na vida cultural e econômica brasileira. Nenhum problema pode ser superior em importância e gravidade ao da educação das crianças de zero a seis anos. Não há problema mais grave do que o abandono, a negligência, os abusos praticados, pelo estado e pelas famílias, contra crianças pequenas, nem mesmo os problemas econômicos podem lhe disputar a prioridade.
É impossível desenvolver as forças econômicas e culturais de um país, sem desenvolver as aptidões para a invenção e para o empreendedorismo, fatores decisivos para crescimento da riqueza de uma nação.
Investir na Primeira Infância, depois de saber que o cérebro do ser humano atinge o pico de sua atividade por volta dos 2 anos de idade, é uma providência humana e econômica, pois, além dos ganhos na formação de habilidades, criatividade e iniciativas, evitaríamos dispêndios com cárceres, com evasão escolar, com violência escolar, urbana e doméstica.
Não há nada mais justo, mais nobre e mais humano do que lutar por essas crianças. Não se pode falar em humanidade quando mantemos as crianças pequenas em situação de pobreza, sem buscar solução para acabar com o problema. Não haverá justiça, se não nos indignarmos e lutarmos contra o abandono das crianças, oferecendo – lhes abrigo. Não é justo escutar o grito fraco de socorro das crianças, sem levantar uma voz forte de socorro em favor delas.
Ser humano é perceber a solidão, o desamparo, a agonia impensável de uma criança e oferecer atenção, cuidado, calor e abraços; é notar a incapacidade de defesa e invisibilidade da criança e garantir justiça.
Os bebês humanos nascem incompletos, aliás, os únicos do reino animal que exigem educação e cuidados ao nascer. Não sendo atendidos, sucumbem, diferentemente de outros animais, que nascem com um arsenal de instintos. O bebê não nasce pronto, as interações e experiências da criança são decisivas na primeira infância.
Ver o que se passa dentro da cabeça das nossas crianças é só um primeiro passo. Ainda há muitos mistérios e perguntas que, com sorte, poderão ser respondidos nos próximos anos, com
os estudos das Ciências Humanas, da Psicologia, da Psicanálise, da Pedagogia, das Ciências Biológicas e das Ciências Médicas, especialmente da Neurociência, sobre o desenvolvimento do cérebro, não só nos níveis aos quais a neurociência aborda, que são células, tecidos e o cérebro, mas também nos níveis abordados por outras áreas, como a sociologia e até pela economia. Isso não esgota a explicação de como as crianças aprendem, mas oferece um aporte significativo de conhecimentos.
A sociedade brasileira precisa entender que educar os menorezinhos é investimento urgente e fundamental. É preciso investir no pré-natal, nas creches e nas pré- escolas formando bem e atualizando sempre seus professores, especialistas e gestores para a salvação das crianças e do Brasil.
Maria José Rocha Lima é Mestre e Doutoranda em Educação. Foi deputada de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.
Justiça e Primeira Infância foi tema de Seminário do TJDFT.