Kátia Cubel

Janot, o STF e as Redes Sociais

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O ambiente digital tem se revelado uma rica caixa de surpresas enquanto fonte de pesquisas de opinião. Um olhar atento às manifestações expressas pela população brasileira na Internet, em relação às polêmicas declarações feitas nesta semana pelo ex procurador-geral da República Rodrigo Janot, traz à luz o descontentamento da população com o Judiciário, em especial com o Supremo Tribunal Federal.

Além de ter sido um dos principais temas no Twitter, no Brasil, na sexta-feira, de ter revirado o ambiente político e de haver deflagrado reações institucionais cujos danos ainda não temos como dimensionar, as revelações de Janot ultrapassaram a fronteira. Provocaram reações imediatas nas redes sociais também na Espanha, nos Estados Unidos e na Itália.

Os números, expressivos, e sua inconteste sinceridade nos contam que, nesse episódio, em nosso país, a repercussão no YouTube superou o Twitter. A leitura desses indicadores, precisos e objetivos, com técnicas e ferramentas de Social Listening (metodologia que identifica opinião a partir da mensuração de dados na web e nas redes sociais), deslinda sentimentos e percepções de alguns milhões de brasileiros que se manifestaram no meio on line.

No YouTube, selecionamos os dez canais que mais contabilizaram curtidas e comentários. Nesse universo, restringimos a amostra a ser analisada, considerando sua representatividade politico-ideológica. O programa “Pingo nos Is”, da rádio Jovem Pan, foi escolhido por congregar seguidores cujas opiniões são consideradas de direita. O canal 247, vinculado ao site homônimo, reúne adeptos majoritariamente avaliados como de esquerda.

Um fenômeno se destaca em ambos, levando-os à uma inusitada convergência. Janot deixa de ser o protagonista nos comentários. Ele sai do foco para se tornar uma ponte a críticas direcionadas ao Poder Judiciário. As revelações de que o ex PGR planejou assassinar o ministro do STF Gilmar Mendes e se suicidar em seguida, dentro das instalações da Suprema Corte, tornam-se um fator secundário, um pano de fundo.

Entre os seguidores da Jovem Pan prevalecem elogios à ideia que Janot narra ter tido. As mesmas expressões lamentam ele não ter concretizado seu plano. Dirigem pesadas críticas ao ministro Gilmar Mendes, detratando-o com veemência. Os mesmos comentários transpiram inconformismo com as recentes decisões do STF, apontado por essa parcela da audiência como um obstáculo à Operação Lava Jato e à punição aos políticos corruptos.

Os internautas que se expressam no 247 criticam diretamente Janot. Mas não pelo que ele trouxe a público, nesta semana. Os comentários detratam o ex PGR e também o Poder Judiciário do país, colocando-os como aliados na manutenção da corrupção na política brasileira. Nessa parcela da análise, Janot é apenas um seta que conduz a críticas severas contra a Operação Lava-Jato e, de novo, contra o STF.

A opinião majoritária dos internautas destoa das declarações dos especialistas que ocuparam o noticiário. Enquanto importantes representantes de diferentes instituições foram unânimes em censurar o ex PGR, seja por sua intenção, ainda que não realizada, seja por agora trazê-la a público, gente comum salienta outros aspectos.

Nos meios digitais, esse episódio se desdobrou numa outra abordagem. Tanto à esquerda quanto à direita, há um nível elevado de descrédito e de descontentamento com a justiça e o Poder Judiciário entre os brasileiros.

Kátia Cubel é jornalista, mestranda em Neuromarketing pela Universidade Internacional de La Rioja-UNIR (Espanha), analista de Redes Sociais e Marketing Digital, diretora da Engenho Comunicação e presidente do Prêmio Engenho de Comunicação – O Dia em que o Jornalista Vira Notícia.

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