Flavio Faveco Corrêa

Gilmar rides again

acessibilidade:

O ministro Gilmar Mendes ataca novamente. Agora ele acusa o Exército de estar se associando a um genocídio, ao comentar a atuação do Ministério da Saúde no combate à pandemia.

Teria prestado um melhor serviço à Nação e a si próprio se tivesse ficado calado. Diz a sabedoria popular que em boca fechada não entra mosca. A dele deve estar cheia desses insetos.  Suas acusações desrespeitam não apenas o Exército, mas também o próprio STF, que fica cada vez mais distante dos ideais de sobriedade e imparcialidade que deveriam caracterizá-lo. Sua verborragia irresponsável desrespeita todos nós, cidadãos, que contamos com o bom funcionamento das instituições democráticas. O boquirroto ministro se comporta como um fanfarrão, comentando tudo o tempo todo – para este papel a gente já tem o Arnaldo Jabor, muito mais competente para a função.

Desta vez o meritíssimo passou dos limites. Não se pode imaginar que ele não conheça o significado da palavra genocídio: extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. Exemplo: o holocausto, a matança de 6 milhões de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, acontecimento que nos revolta até hoje e que jamais será esquecido. Ele, que se diz um homem culto, deveria prestar mais atenção ao saudoso Aurélio, antes de sair por aí desferindo impropérios, como é de seu costume.

O novo coronavirus se transformou, sim, no maior “serial killer” da nossa história, mas não num genocida. São coisas diferentes.

Essa nomeação de Pazuello, que está cumprindo uma missão para a qual foi convocado pelo Presidente da República (no Exército, missão dada é missão cumprida) provocou a furibunda ira tardia de Gilmar. E por falar em sua ira, é oportuno lembrar aquele célebre bate boca no plenário do Supremo entre Gilmar e Luiz Roberto Barroso quando, sob a presidência de Carmen Lucia, se discutia financiamento eleitoral. Algumas palavras de Barroso: “Vossa Excelência é uma pessoa horrível, uma mistura de mal com atraso e pitadas de psicopatia. Sua vida é atacar as pessoas. Vossa Excelência sozinho desmoraliza o Tribunal. É muito penoso para nós termos que conviver com Vossa Excelência. Vossa Excelência está sempre atrás de algum interesse que não é o da justiça. Vossa Excelência nos envergonha”. (Ainda bem que Alexandre de Moraes ainda não estava lá, senão, por coerência, teria que mandar prender Barroso).

“Sua vida é atacar as pessoas”.

Fiel às suas origens, agora o soltador geral da República, aquele cuja virada de casaca, cuja mudança de voto impediu a prisão de condenados em segunda instância, está de novo nas manchetes, o que ele mais gosta. E lá do seu apartamento na zona mais luxuosa de Lisboa, onde praticamente vive, desfrutando de parte da sua fortuna de mais de 20 milhões, faz uma “live’ reiterando suas críticas ao Ministério da Saúde, que, na sua opinião, deveria ser dirigido por um “técnico”.

Eu nunca vi o Justice John Glover Roberts, Jr., Chefe da Suprema Corte dos Estados Unidos “fazer uma live” – e ele está lá desde 2005 …

Aliás, o Brasil tem muitas coisas que a nossa vã filosofia não alcança, como essa estória de que ministério tem que ser ocupado por técnico. Ministérios são cargos políticos. O melhor Ministro da Saúde dos últimos tempos foi José Serra, um economista. O melhor Ministro da Fazenda foi Fernando Henrique Cardoso, autor do Plano Real, um sociólogo. Na minha terra, o Rio Grande do Sul, o melhor Secretário da Saúde foi o deputado Lamaison Porto, um radialista. Eu tive a honra de ser seu oficial de gabinete.  O diretor geral era o Dr. José Barros de Araújo, uma sumidade.

O curioso é que em sua “live” Gilmar não se retrata da mancada, da qual deveria estar arrependido. Não dá o braço a torcer. Sua conhecida vaidade não permitiu que aceitasse a sugestão do Vice Presidente, General Hamilton Mourão: “se tiver grandeza moral tem que se retratar”

Não teve grandeza moral. Pelo contrário, reiterou suas críticas, esquecendo que foi o próprio Supremo que, com seu voto, decidiu que a responsabilidade pelo combate ao Coronavirus seria dos Estados e Municípios.

Fora o uso da expressão genocídio, inaceitável, uma de suas críticas faz sentido.  A de que militares da ativa não deveriam ocupar cargos políticos. Deveriam passar para a reserva, como acaba de fazer o General de quatro estrelas Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo.

Sempre achei, eu e vários amigos que tenho nas Forças Armadas e fora delas, que a presença no governo de militares da ativa, especialmente os de alta patente, era um risco para a Instituição. Seria como entregar ouro para o bandido, dar munição para o inimigo. Que foi o que lamentavelmente aconteceu.

Mas nunca imaginei que a Força Terrestre poderia ser acusada de associação a genocídio.

Nunca.

Afinal, a grandeza do Brasil se confunde com a história do Exército, desde a Batalha dos Guararapes.

Flavio Faveco Corrêa, é jornalista e publicitário, e sócio da Brandmotion

 

 

Reportar Erro