Maria José Rocha Lima

Equilibrar as emoções para enfrentar o coronavírus

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Nesses dias de quarentena, para enfrentar o coronavírus, nada melhor do que mergulharmos no baú das memórias. Isto é o que venho fazendo, um garimpo dos fragmentos  valiosos da minha história, tendo minha mãe como roteirista.

Dona Teresinha fica feliz ao ver as historinhas publicadas e estas têm melhorado as suas memórias, dando-nos a sensação de prazer e pertencimento.

Ao juntarmos pedacinhos da nossa história, nos ancoramos num continente, nesses tempos de incertezas, uma vez que às súbitas mudanças de comportamento provocadas pelo confinamento, em decorrência da ameaça do coronavírus, não se aplicam os mecanismos de defesa já conhecidos pela humanidade.

No Programa da CNN O mundo pós- pandemia, o neurocirurgião Fernando Gomes destacou como uma das estratégias para lidar com o isolamento social o acionamento de duas formas de Inteligência: a Intrapessoal e a Existencial.

Precisamos acionar os nossos recursos internos, como a inteligência intrapessoal; a metacognição, que é a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, consciencializar, analisar e avaliar como se conhece, segundo o neurocirurgião.

Em Freud, se diz metapsicologia: “a observação dos fatos da vida da alma e é construída a partir de um conjunto de fatos, lenta e sofridamente reunidos ao preço de um trabalho metódico”, como traduziu o psicanalista Leopoldo Fulgêncio.

É hora de ficar de bem com a gente;  harmonizar-se consigo mesmo, trocar ideias com a gente mesmo, sobre os nossos pensamentos.

Já o acionamento da Inteligência Existêncial nos obriga a espiritualizar-se e retomar as discussões que acompanham a humanidade sobre o sentido da vida e o que acontece após a morte.  Os líderes espiritualistas nos desafiam a olhar para o alto e não nos deixarmos escravizar pelas coisas terrenas.

Para o neurocirurgião Fernando Gomes, quem não é religioso, não se inspirando nos grandes líderes espirituais da humanidade, como Jesus Cristo,  o Papa, Dalai Lama e Chico Xavier; – e eu acrescentaria Divaldo Franco -, pode se blindar pensando em sucessão, herança, bens intelectuais ou físicos, como filhos etc.

Como recomenda minha mãe, “aproveite esse recolhimento forçado para orar, reconverter-se, reconciliar-se com Deus”.

Acho que ela se refere aos anos e mais anos que passei, no partido comunista, que na época tinha como exigência o ateísmo. Assim, venho fortalecendo a minha amizade com Deus. E quem não é religioso busque se harmonizar com o universo, com o cosmo, com a natureza.

E um terceiro remédio é a meditação, assinada embaixo por Fernando Gomes, também recomendada por mainha: “Minha filha, tire umas horinhas para você, pare com essa agonia de viver lendo, escrevendo, trabalhando o tempo todo”.

Venho realizando meditação diariamente há três meses. Não há coisa melhor do que limpar “o porão”, por uns minutinhos, para nos harmonizarmos conosco e abrir espaço no HD para novas ideias.

Fernando Gomes, apesar de reconhecer a ansiedade como uma característica humana, alerta que essa provocada pelo coronavírus é diferente. Isto porque o mecanismo que dispomos não se aplica. Desde o homem da caverna há uma mecânica: temos um problema; imaginamos o desfecho; acionamos as ferramentas da inteligência; alcançamos o desfecho e fechamos o circuito. Na pandemia, as amígdalas disparam e elas são estruturas cerebrais profundas; o hipotálamo dispara impulsos elétricos; o nosso nível hormonal se eleva, produzindo adrenalina, e a gente fica em estado de alerta, mas não há um desfecho. É produzida muita adrenalina e pouco ou nenhum cortisol, prejudicando a nossa imunidade, que é tudo o que precisamos preservar para não ser infectado pelo coronavírus.

Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada estadual da Bahia de 1991 a 1999. É psicanalista filiada à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise.

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