Ipojuca Pontes

Em torno da cultura engajada

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1 –  Para o pensador e economista  austríaco Friedrich Hayek, no ensaio  “Menos Estado e mais Liberdade”, a cultura deve ser entendida como uma tradição de normas de conduta que foram aprendidas, mas que nunca foram “construídas” –  o que nos leva, inapelavelmente, à admissão de que a evolução cultural não é apenas fruto da criação consciente da razão.

2 –  Tal ponto de vista nos leva à percepção original do psicólogo suíço Carl Jung, explícita nos seus estudos sobre arquétipos e o inconsciente coletivo, que procurava interpretar o comportamento humano a partir da representatividade simbólica das figuras mitológicas de Dionísio e Apolo.

Assim, a figura apolínea, por exemplo, configuraria a reflexão, a disciplina, a introversão, o cálculo e o trabalho organizado.

Já a figura dionisíaca representaria o espírito lúdico, a improvisação, o fascínio pelo mágico e pela festividade erótica.

Nesse sentido, por exemplo, a figura de Macunaíma, 100% dionisíaca, explicaria melhor o caráter nacional brasileiro do que milhares de compilações elaboradas pelos intelectuais uspianos.

3 –  Vejamos outro tipo de representatividade ideologizada:  Andrei Jdanov, o camarada mais importante na hierarquia do Kremlim depois de Stalin, foi o criador do Realismo Socialista, principal instrumento prático-teórico da catequese comunista no universo da Cultura engajada.

Através do Cominform soviético, instituição da qual era o mentor, Jdanov, cujo filho era casado com a filha de Stalin (Svetlana), financiou a composição  do célebre Relatório de Setembro, uma “cartilha ideológica”  lançada durante o Encontro Internacional de Intelectuais Comunistas festejado em Paris no ano de 1947.

Na “cartilha” de Jadnov, a peça chave é o detalhamento das normas e princípios do Realismo Socialista, que servem até hoje como paradigma da  criação da arte . Elas são diretas e bem menos rebuscadas  que os ordenamentos críticos da Escola de Frankfurt ou das codificaçõs obscuras dos Cadernos de Gramsci.

No “Realismo Socialista” se impõe os conceitos do “Herói Positivo” e do “Herói Negativo”. De fato, os dois estão estão sobejamente presentes nos filmes de Serguei Eisenstein, Basta ver, por exemplo, “Encouraçado Potemkim”, “Greve” e “Outubro”.

Neles, os burgueses aparecem como tipos adiposos, ferozes e sádicos, tratando os operários de chicote nas mãos. São os “heróis negativos”.

Já os operários,  “heróis positivos”, são vistos como seres íntegros e honestos, resistentes e solidários,  incapazes de uma ação negativa.

No Brasil dos anos 40, o Cominform de Djanov financiou por largo tempo a “Voz Operária”, órgão do PC destinado a leitura da massa operária para fomentar os conceitos de consciência de classe e o combate ao Imperialismo Ianque, conforme os ditames Stalinistas. Colaboravam na “Voz” gente como Jorge Amado, Dalcídio Jurantir, Astrogildo Pereira, Nelson Werneck Sodré, Alex Viany e Nelson Pereira dos Santos, stalinista macio e futuro mentor do Cinema Novo.

Os primeiros romances de Jorge Amado, antes de cair na literatura erótica do dendê, foram  concebidos dentro dos parâmetros do Realismo Socialista, razão pela qual o baiano ganhou o Prêmio Stalin da Paz.

No cinema, o exemplar que seguiu o receituário da estética jdanovista foi  “Rio 40 Graus”, de Nelson Pereira do Santos, um dos filmes mais falsos da história do cinema brasileiro. Nele, um agente do “partido” que frequenta o morro é apresentado como um tipo boa praça, consciente e solidário. Já o vilão, interpretado por Jece Valadão, é um marginal violento, que induz a pivetada ao crime, sujeito arbitrário que tem a namorada do agente como propriedade sua. Toda a fita é mal construída em cima do confronto entre o marginal e o agente, No final da fita, depois de instantes de falsa tensão, o bandido em vez de acertar as contas, se rende diante da força moral do “herói positivo” e, de forma inverossímil, cai na risada e dá um  abração no agente do “partido”. Um troço absurdo!

O modelo do realismo socialista Jdanovista segue vivo ainda hoje na linha de combate ao imperialismo ianque (negativo) que tem como  antagonista o Imperialismo chinês do ditador Xi Jinping, formatador do Covid 19, ironicamente antevisto como “positivo”.

4 –  O pessoal da Teoria Crítica – Felix Weil, Georg Luckás (ideólogo), Walter Benjamim, Max Horkheim, Leo Lowenthal, Herbert Marcuse, entre outros – inventou nos anos 20 a Escola de Frankfurt. Dado curioso:  ela foi financiada por Hermann Weil, capitalista do ramo da importação do trigo argentino, explorador da mão de obra barata do País vizinho. Mais tarde ,Hermann, um “inocente útil”, quando descobriu os propósitos subversivos do pessoal da Teoria Crítica, amaldiçoou o rebento Felix,  primeiro gerente do aparato acadêmico que o induziu a soltar a grana para criar o Instituto para Pesquisa Social (anexado, depois, à Universidade de Frankfurt).

Em 1933, com a emergência do Partido Nazi, o pessoal da Teoria Crítica, todos diluidores de Marx, correu para Genebra e, de lá, para New York, onde foram bem recebidos e financiados. Mais tarde, eles  rumaram para a permissiva Universidade de Berkeley, na Califórnia, transformada no centro difusor da Contracultura e do movimento hippie. Lá, inspirados no “Catecismo Revolucionário” de Serguei Netchaiev e Bakunin, que pregava a transformação da sociedade pela ação de marginais, estudantes , vagabundos e anarquistas, eles botaram a Escola para moer cérebros imaturos de várias gerações.

Sob o amparo da Universidade de Berkeley, o pessoal da Teoria Crítica passou a propugnar pela liberação da droga, do aborto, do rock e do sexo livre e coletivo ( suruba ) objetivando subverter o mundo.  Ou seja, fomentar a  Contracultura.

5 – Na sua “Dialética Negativa”, Theodor Adorno anotou que na civilização industrial moderna o homem perde a consciência de si próprio e se transforma em objeto.

Adorno, um dos pais da Teoria Crítica, e também  musicólogo , escreveu que só a Vanguarda pode salvar a criação artística, pois a arte de massa – tal como o cinema, a indústria fonográfica, quadrinhos, novelas, etc –  leva o ser humano à alienação, conceito marxista calcado na incomprovada teoria econômica da   mais-valia.

Adorno também confronta o conceito da alienação no terreno das  artes plásticas e da literatura, opinando sobre o  minimalismo e o desconstrucionismo a partir do qual se dá a redução e a desestruturação dos valores literários tradicionais com  a desmontagem e a “reconstrução” arbitrária do texto.

6 – Na dialética revisionista, Adorno pregava aos alunos a completa  destruição dos valores da moralidade burguesa. Ele insiste nessa postura em “Mínima Moralia”, onde estima uma “anti-moral” como norma de conduta.

E foi vítima dela: ao pregar a destruição dos valores burgueses uma aluna, obedecendo ao mestre, resolveu tirar a roupa e ficar andando nua no  meio da sala aula. Então Adorno, apoplético, protestou e em seguida desmaiou . Dias depois, faleceu acometido por distúrbio cardíaco.

7 –  Antonio Gramsci, “Il Gobbo” (O Corcunda), escrevia sobre teatro de revista num diário de Turim e, em seguida, no Avanti!, jornal comunista.   Embora contestasse a literatura tradicional, detestava o blues, canto da alma negra, e não entendia nada de arte (Deputado em Roma, jamais observou no teto da Capela Sistina o imenso afresco de Michelangelo sobre o Gênesis) . Em suma, no fundo, Gramsci era um fanático infeliz, sem noção concreta da beleza, que nunca  enfrentou a leitura da obra de Shakespeare, Cervantes, Dostóieviski ou do teatro grego. De fato, “Il Gobbo” era um pobre diabo.

Gramsci entrou no Partido Comunista Italiano pelas mãos de Amadeo Bordiga, secretário-geral do PCI a quem, depois de uma temporada em Moscou, traiu e tomou seu lugar. Já figura de relevo no movimento comunista, promoveu sucessivas greves no norte industrializado da Itália, razão pela qual foi levado ao cárcere por Mussolini (tal como o pai, Francesco Gramsci, condenado a cinco anos de cadeia por peculato, concussão e falsidade ideológica).

Condenado a 20 anos de prisão, dos quais só cumpriu oito, Gramsci encontrou tempo de sobra para conceber nos “Cadernos do Cárcere” suas alucinações sobre “a filosofia da práxis”, “o intelectual orgânico”, “a guerra de posições”. “ocupação de espaços”, “o novo senso comum” e um montão de mistificações ideológicas, em geral escritas de forma obscura  com a intenção de ativar a “revolução passiva”, uma “revolução sem revolução”, dez vezes mais monstruosa do que as sanguinárias  revoluções bolchevique e maoísta.

Para Gramsci, “intelectual orgânico” podia ser qualquer um, pois todo mundo é intelectual. “Filosofia da Práxis”, quer dizer a velha prática comunista. “Moderno Príncipe”, chupado de Machiavel, quer dizer Partido Comunista. “Ocupação de Espaços” é uma variante do manjado aparelhamento do Estado pelo “ partido ’’como praticou  o petista Luladrão indicando os intelectuais orgânicos do STF. “O Novo Senso Comum” em síntese, é a pretensão  macabra  de se liquidar séculos de civilização e cultura para criar o “homem novo”, uma combinação de espécimes como Luladrão , Zé Dirceu, Gilmar Mendes , Fachin , Lewandowiski  e Nhonho Maia.

Para concluir,  vejamos o que ensina “Os Cadernos”:  O Moderno Príncipe desenvolve-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que o seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebível como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o poder ou opor-se a ele.

O Moderno Príncipe  toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de todo laicismo moderno e de uma completa laicização de toda vida e de todas as relações e costumes”.

Quer dizer, Gramsci não era um pensador, mas sim, um psicopata, um comunista mórbido e ambicioso, para quem mentir, roubar e matar é um dever do militante se serve ao “partido”. E é esse tipo de  ideólogo canalha que forma no Brasil a cabeça dos “intelectuais orgânicos” em circulação.

Voltaremos ao assunto.

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