Ronald de Carvalho

Eles podem entrar até na nossa casa

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‘…matam nosso cão, e não dizemos nada…’

 

Confundir os direitos privados com a administração dos deveres públicos é erro de responsabilidade do gestor púbico. A administração do governo central não pode interferir nos recursos que não lhe saem do tesouro nacional, daquilo que em dias de Graça já foi chamado de Quinto dos Infernos e hoje é a própria Porta de Dante. Aqueles que já a ultrapassaram, perderam toda a esperança.

Dinheiro do Estado é apenas aquele da Res Pública, latinismo da Coisa Pública, resultado do recolhimento de imposto pelas leis tributárias. Muito diferente são as contribuições que chegam da iniciativa privada para cumprir espontaneamente um desígnio constitucional. A noção de propriedade faz referência ao direito à posse de algo. Para a lei, a propriedade é o poder sobre um bem, que permite sua livre disposição além das limitações impostas pelas normativas em vigor.
Sobre isso, há mais de 70 anos os empresários brasileiros têm plena consciência e ação. Um compromisso reafirmado pela obediência à Constituição de 1988, em seu artigo 5º, onde estabelece a propriedade como um direito fundamental e em seguida determina que a propriedade deve atender sua função social.
Qualquer aula que o governo quiser dar à iniciativa privada de como praticar seu dever de criar empregos, atender à saúde do trabalhador, à cultura, ao lazer, à formação de mão de obra e à construção da cidadania é um grande perigo.
Hoje a pressão dos doutores da máquina estatal pode estar começando sobre as grandes associação e organizações confederadas, amanhã, podem entrar na loja ou indústria do cidadão comum.
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”

Esses conhecidos versos fazem parte do longo poema “No caminho com Maiakóvski” (1968) do brasileiro Eduardo Alves da Costa. Durante algum tempo o poema foi atribuído ao poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930).
Na administração das inteligências, muitas vezes, há crimes sem cadáver. A ausência forçada da iniciativa privada na formação da juventude brasileira vai agravar uma herança lamentável. Novo tempo com jovens atores se faz com saúde, esporte, treinamento, capacitação, moderna tecnologia e liberdade de pensar. Um Estado pesado, antigo, quase falido não constrói talentos. O resultado é a ruína do pensamento e da modernidade.
Milhares de jovens buscam no exterior seu modelo de sucesso. Os mais pobres se valem do apoio do incentivo de empresários, federação de classe e empreendedores que precisam criar trabalhadores saudáveis, felizes e profissionalmente qualificados.
Até quando?
Até quando vão roubar-nos a luz, conhecer nosso medo e arrancar-nos a voz da garganta.

Ronald de Carvalho é jornalista e consultor estratégico de comunicação.

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