Ney Lopes

Deus salve a América

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Grades metálicas, placas de madeira, uniformes, veículos militares e armas nas mãos de mais de 25 mil policiais. Nesta quarta, 20, este é o cenário de guerra em Washington DC, para a posse de Joe Biden (78), vencedor da 59ª eleição presidencial americana, o mais idoso a assumir o cargo.

O temor não será o terrorismo islâmico, mas o terrorismo doméstico, estimulado pelo “ex” presidente Trump. Os EEUU ao invés de “um” país, está dividido em “dois”.

A maior vitória alcançada é a vontade popular respeitada. O país resistiu às tentativas de assalto às suas tradições de liberdade e exemplo de Democracia para o mundo.

As urnas condenaram a “intolerância”, o que não pode ser confundido com manifestações de posições conservadoras, ou de direita, normais de existirem numa sociedade plural.

O “ex” sai de forma melancólica, pela porta dos fundos da Casa Branca. Ele jamais encarnou a missão de unificar o país. Comportou-se com espírito egocêntrico e esqueceu o juramento que fizera de defesa do da democracia.

Chega Joe Biden, de inegável experiência política, adquirida durante décadas no Senado. Exerceu a vice-presidência por oito anos, sendo capaz de lidar com a adversidade.

Estudos recentes demonstram que a “era Trump”, a pretexto de tornar a “América forte novamente”, implantou “falaciosa” política econômica de “mais empregos e arrecadação de impostos”, cujo resultado foi o aumento de desempregados, desabrigados e famintos.

Os ricos elevaram suas fortunas em ritmo recorde, através de “facilidades” como redução dos juros sem controle, incentivos fiscais em cascata, refinanciamentos imobiliários com encargos mínimos, permitindo compras de uma segunda casa de lazer para fugir das cidades, além das ações e títulos dispararem nas contas de investimentos.

O aumento da riqueza concentrada atingiu mais de US$ 1 trilhão, desde o início da pandemia, o que está alimentando o debate sobre impostos mais elevados para os mais ricos.

A grande indagação é como será o relacionamento do nosso país com Washington.

Historicamente, a alternância do poder entre Democratas e Republicanos, sempre esteve acompanhada de transformações para os países da América Latina, em questões de imigração, comércio, cooperação militar, ou meio ambiente.

Existem fatos já consumados em nossa política externa atual.

O governo Bolsonaro esteve ao lado de Trump no esvaziamento do Conselho de Direitos Humanos da ONU; apoiou à anexação de parte da Palestina por Israel; criticou o Acordo de Paris; bloqueou a OMC, organização que é a principal reguladora das disputas comerciais no mundo e apoiou o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani.

Neste contexto delicado, o simbolismo do ato da posse de Joe Biden é a canção patriótica “Deus salve a América”, composta por Irving Berlin (1918), que tem a forma de uma oração para Deus abençoar os Estados Unidos, diante dos desafios da pandemia.

A esperança é que prevaleça o bom senso e o Brasil mantenha relações de amizade com os Estados Unidos, como é a nossa tradição.

Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano; procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br

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