Dagoberto Alves de Almeida

Coreia do Sul, China e Brasil

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Um país pode fazer parte das nações hegemônicas desde que se importe com o que é relevante e nada é mais significativo para o desenvolvimento econômico de uma nação do que investir na capacitação de seu povo. Em décadas recentes, Coréia do Sul e China são dois dos muitos exemplos de atitudes concretas tomadas por governos que atuaram estrategicamente em prol da educação e da ciência. Países esses que até pouco tempo rivalizavam com o Brasil em variados indicadores de desenvolvimento, muitos dos quais não nos orgulhamos em absoluto.

Na década de sessenta a renda per capita da Coreia do Sul era, em média, a metade da brasileira, ao passo que atualmente é 3,5 vezes maior. O exemplo chinês é tão dramático quanto. De acordo com o Banco Mundial em 1980 o PIB da China correspondia a 2% do PIB mundial. Atualmente o PIB chinês com 14,4 trilhões de dólares corresponde a 15,5% do PIB de todo o planeta enquanto nós com um PIB de 1,85 trilhões de dólares é que amargamos os tais 2%. Aliás, até 1990 o PIB chinês era menor que o nosso.

China e Coreia do Sul, assim como outras nações que hoje desfrutam de robusto desenvolvimento econômico, entenderam que era preciso uma abordagem de médio e longo prazo para a educação e para a ciência, ambas tratadas como Política de Estado. Em decorrência, esses países se blindaram das oscilações de humor típicas de governos que são, inerentemente, transitórios. Implementaram meios para garantir educação de qualidade para o maior contingente possível de suas populações, desde a tenra idade.

Aparte a ciência pura no exercício intelectual do questionamento extremo que leva à quebra de paradigmas vale o foco no seu subproduto, a ciência aplicada, ao aprimorar métodos e processos, desenvolvendo novas técnicas, produtos e aplicações. Conhecimentos que se viabilizam via tecnologia em equipamentos e sistemas por meio da alta produtividade resultante (vale uma discussão em postagens futuras sobre a confusão que equivocada ou deliberadamente se tem com o termo produtivismo). O resultado em termos de desenvolvimento econômico é vantagem competitiva decorrente da tecnologia. Fato econômico, cujo desprezo patrocinado pelo desconhecimento e má fé, tem cobrado alto preço em ignorância e miséria nas nações que não criam conhecimento.

Recentemente foi veiculada o veto presidencial quanto a proibição de contingenciamento do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT). Espera-se que essa decisão seja revertida no congresso sob pena do Brasil perder sua maior fonte de investimento para a ciência. O fato é que a correlação entre investimento em pesquisa e desenvolvimento com o desenvolvimento econômico das nações é indubitável. As nações mais progressistas são aquelas que possuem políticas públicas mais efetivas para a pesquisa científica. Em termos de parcela do PIB os EUA, Japão e Alemanha, por exemplo, têm aplicado de duas a quatro vezes mais que o Brasil em P&D. Segundo dados de 2016 do Banco Mundial, o Brasil investiu 1,3%. Israel, contudo – um país literalmente focado na sobrevivência – chega a investir quase 5% de seu PIB em P&D. A Coreia do Sul segue logo atrás investindo 4,29%. Compreensivelmente, os países mais miseráveis são aqueles que raramente investem mais que 0,3% de seu PIB em P&D. A título de exemplo, enquanto China e Coreia do Sul participam do rol das nações que estão pesquisando fontes abundantes e limpas de energia via Tokamaks (sol artificial), que são máquinas que aproveitam a energia da fusão nuclear, aqui no Brasil temos a construção de um dos maiores centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação em energia, do mundo, paralisado há mais de dois anos.

Aprimorar os mecanismos para uso mais efetivo de fontes de investimento em ciência e tecnologia em nosso país, o que depende de efetivo investimento em educação de qualidade, é crucial para que o Brasil dê um salto consistente de desenvolvimento. Caso contrário, as consequências serão absolutamente catastróficas para as atuais e novas gerações em nosso país.

Dagoberto Alves de Almeida, engenheiro, é formado pela UNIFEI. Mestre pela UFRJ. Doutor pela University of Cranfield, Inglaterra. Professor de Engenharia de Produção. Reitor da UNIFEI entre 2013 e 2016 e de 2017 a 2020.

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