Jorge Oliveira

Conspiradores comprometem a Lava Jato

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Cascais, Portugal – O PT destroçou a economia? A resposta é sim. O PT montou uma organização criminosa responsável pelo roubo nas empresas estatais? Sim. O PT foi o partido que espalhou a corrupção por todos os cantos do país? Sim. Pois bem, por tudo isso, muita gente está atrás das grades depois que a operação Lava Jato começou a rastrear os corruptos. Empresários, políticos e a cúpula do Partido dos Trabalhadores estão presos. O cabeça da quadrilha, segundo a República de Curitiba, Luís Inácio Lula da Silva, está em cana há mais de um ano e pode deixar a cadeia com a redução da pena.

 

Tudo isso que está aí em cima é inegável e indesmentível. Mas o que ninguém sabia é que o país foi envolvido por uma conspiração vergonhosa que teria partidarizado as sentenças da Lava Jato, principalmente as de Lula, agora questionadas por renomados juristas depois da descoberta dos diálogos entre Dallagnol e o juiz Sérgio Moro, que comprometem as condenações do ex-presidente. E pelo que o site The Intercept Brasil divulgou sobre os bastidores da operação, os trabalhos dos procuradores beiram ao conluio.

 

O Intercept mostra, entre outras coisas, mensagens trocadas entre os procuradores no aplicativo Telegram e o ex-juiz Sérgio Moro que comprometem o trabalho de ambos. Divulga também conversas de procuradores que diziam temer que uma entrevista do Lula, autorizada pelo ministro Ricardo Lewandowski, antes das eleições, poderia ajudar a candidatura de Haddad, o candidato petista, ou “permitir a volta do PT”.

 

O diálogo entre os procuradores sobre a decisão de Lewandowski de permitir a entrevista do Lula a jornalista Mônica Bergamo, antes das eleições, deixa claro a partidarização dos procuradores na campanha. “Que piada, revoltante. Lá vai o cara (Lula) fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. E depois de Mônica Bergamo, pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas? E a gente fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse”, escreveu a procuradora Laura Tessler. E completou: “Sei lá, mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”.

 

O site The Intercept Brasil recebeu inúmeras mensagens trocadas entre os procuradores da Lava Jato e Sérgio Moro em pleno ano eleitoral, quando as investigações ainda continuavam em pleno vapor. Nas mensagens estão escritas as divergências dos procuradores com os ministros do STF, que têm suas sentenças questionadas. Em uma delas, o procurador Januário Paludo traça uma estratégia para impedir a conversa do Lula com jornalistas. Segundo ele, a entrevista poderia virar uma coletiva. Ele diz: “Plano a: tentar no próprio STF, possibilidade zero. Plano b: abrir para todos fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona, mas diminui a chance da entrevista direcionada”, escreveu ele.

 

Ao agir dessa forma, repito o que já disse em outros artigos, os procuradores criaram uma célula política em Curitiba para influenciar nas eleições presidenciais de 2018. Iriam, assim, ajudar a extrema direita, com quem eles se identificam, a chegar ao poder. A ascensão de Sérgio Moro é fruto dessa conspiração e a estratégia ardilosa que definiu a vitória de Bolsonaro ao atrapalhar a campanha do candidato do PT. Portanto, quando se juntam as peças, percebe-se agora que a liberação da delação premiada de Palocci às vésperas das eleições não foi uma coisa do acaso. Ela tinha a finalidade de enfraquecer a campanha de Haddad e reduzir as chances do PT de voltar ao poder depois do impeachment da Dilma.

 

O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de quase 20 políticos envolvidos na operação Lava Jato, jogou pesado ao saber da conspiração da República de Curitiba: “É necessária uma investigação profunda para saber se havia uma organização criminosa tentando usar a estrutura do Poder Judiciário em proveito próprio e com fins políticos”, afirmou em entrevista à Folha.

 

Pelas revelações do site, os investigadores da Lava Jato precisam explicar a população se realmente organizaram-se politicamente contra a candidatura de Haddad. Se isso realmente for comprovado, não é difícil supor que um grupo de direita teria se movimentado nos bastidores da justiça para eleger Bolsonaro manipulando irresponsavelmente as informações da Lava a Jato para intervir no processo eleitoral.

 

Dallagnol, o chefe dos procuradores, está na berlinda e precisa se explicar. Aliás, ainda não saiu dela desde que tentou usar 2 bilhões de reais de um acerto da Petrobrás com a Justiça norte-americana para criar uma fundação. Agora, diante dessas acusações, precisa, mais uma vez, defender-se para evitar que elas desmoronem sobre a cabeça de seus auxiliares e joguem por terra todo trabalho da Lava Jato.

 

O Brasil quer resposta.

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