Maria José Rocha Lima

Como se matam as Democracias

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Os argumentos do título e da obra Como morrem as democracias vêm servindo de argumento para os maus brasileiros, alguns deles malfeitores de diferentes graus e matizes que justificam o encobrimento da corrupção em nome da estabilidade das instituições democráticas.

“Como morrem as democracias”, disse Wison  Witzel, governador afastado do Rio, em discurso de autodefesa. TUdo está a indicar que  ele usou os mesmos mecanismos de Cabral, aquele que “descobriu” e roubou o Rio de Janeiro.

Quem diria  que aquele homem fino, elegante,  bem humorado e insincero, como Sérgio Cabral,  seria capaz de  conquistar a condenação de 280 anos, praticando corrupção no atacado? Eu gostaria de ter tempo e talento para escrever Como se matam as democracias e, antes desta obra, Como se matam milhões de pessoas em nome da democracia.

Muitos desses são burocratas, profissionais de política, profissionais de negócios, “do tempo de Murici, cada um cuide de si”. Eles  tentam  inverter a equação que mostra que quanto mais corrupção mais desigualdades sociais, mais desigualdades educacionais, mais abandono da primeira infância, mais pobreza e, em consequência, crescimento da delinquência e violência; mais mortes por falta de assistência à saúde e por falta de segurança. Há vergonha maior para um país rico, como o Brasil, ter 100 milhões de pessoas sem acesso a água tratada e esgotamento sanitário?

Além disso, a corrupção devasta as finanças, obrigando a cada vez mais sobrecarregar a população com uma cargas tributária insuportável.

Em 2019, em palestra na Conseguro, o Ministro do STF Luís Roberto Barroso avaliou o cenário brasileiro e mundial e recomendou:  “ Internamente, o Brasil precisa ter uma conversa franca consigo e reconhecer erros das políticas públicas implementadas pelos grupos que ascenderam ao poder nas últimas décadas e trataram a coisa pública com desleixo ou favor de elites. Em 1960, a economia brasileira era duas vezes e meia maior que a da Coreia do Sul. Sessenta anos depois, o PIB brasileiro equivale a um terço do PIB do país asiático”.

O ministro acusou três causas importantes pelo atraso econômico e social: investimentos insuficientes ou inadequados em educação básica, afetando  a produtividade; termos criado um Estado grande demais e uma economia fechada por muitas décadas, retardando  a transição para uma economia de mercado; permitimos uma relevante apropriação do Estado por elites extrativistas, gerando uma corrupção quase endêmica nas últimas décadas.

Corrupção é o que destroi a democracia e não a denúncia da corrupção, como querem os corruptos, ou os que por interesses estranhos  à democracia defendem as práticas de corrupção.
Entre 2016 e 2017, o Brasil ocupou o 79º lugar entre os 176 países mais corruptos do mundo, tendo como fontes relatórios da Transparência Internacional e da Transparência Brasil (2016).

Maria José Rocha Lima é mestre  e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira.  

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