Bye, bye, Brasil
Neste sete de setembro o Brasil tem pouco a comemorar. Mas de todas as mazelas que enfrenta o país a mais dolorida nesta data é a fuga em massa dos filhos da terra brasilis para o exterior. Nunca foi tão grande o número de brasileiros que deixa o país. E o pior, brasileiros, jovens, profissionais altamente qualificados que simplesmente deixaram de acreditar no país e dizem adeus.
Alguns dados nos mostram esse movimento ascendente de abandono do país. Somente em abril deste ano, por exemplo, os Estados Unidos registraram o maior número de imigrantes tentando entrar no país irregularmente pela fronteira com o México. Foi o maior número em 20 anos. A estatística oficial mostra que em abril, 8.745 brasileiros foram detidos na fronteira americana.
A sequência de registros mostra que de outubro de 2018 a setembro de 2019 o número de brasileiros detidos foi de 17.800. De outubro de 2019 a setembro de 2020 o total foi de 6.900 brasileiros. Já de outubro de 2020 a abril de 2021 o total foi de 14.600 brasileiros detidos na fronteira buscando entrar irregularmente no país. Ou seja, está claro o movimento crescente de abandono do Brasil por um quantitativo cada vez maior de pessoas.
Por vias legais, cerca de 3,3 mil profissionais buscaram, segundo último dado divulgado pelo Departamento de Estado americano, visto preferencial, somente em uma categoria, para os EUA. Este é o maior número em dez anos. Enquanto isso, a Receita Federal confirma o êxodo crescente. Em 2019, o número de pessoas que optaram por deixar o Brasil e se mudar definitivamente para o exterior foi mais que o dobro (crescimento de 125%) do registrado em 2013. Essa estatística se refere apenas às emigrações com Declaração de Saída Definitiva registrada pelo órgão.
A desidratação do fomento à pesquisa científica associado à oferta de trabalho legal em países de primeiro mundo tem nos feito perder os mais renomados cientistas, professores e pesquisadores. Na área de tecnologia, os mais qualificados profissionais já disseram adeus ao país e seguem sendo recebidos de braços abertos pelo vale do silício. O mesmo acontece em outras áreas profissionais. Na saúde, por exemplo, o governo americano já anunciou aumento da concessão de green cards (documento de residência) para profissionais estrangeiros que desejarem viver e atuar no país.
Perdemos no Brasil, mas incorporamos uma importante parcela da força de trabalho no território americano. Pesquisa recente do Bureau of Labor Statistics (Departamento de trabalho) nos EUA, revelou o percentual de estrangeiros que integram o mercado de trabalho americano e que possuem um diploma de bacharel ou formação superior é, atualmente, de 36,9%. Os que detêm diploma de ensino médio são 25,1%, percentual muito próximo ao de americanos nativos com diploma de ensino médio.
Dos 27,2 milhões de trabalhadores estrangeiros empregados com 16 anos ou mais até 2018, a maior parte, mais de 33%, trabalhava em administração, negócios, ciências e artes. Percentual muito maior que os 13% que atuam em Recursos Naturais, Construção e Manutenção (serviços que há pouco mais de 10 anos eram os mais atraentes a imigrantes). Ou seja, é incontestável a mudança do perfil do imigrante, principalmente o brasileiro, que está mais escolarizado e empreendedor nos EUA. Uma grande parcela de trabalhadores que poderiam estar aguerridos no mercado de trabalho brasileiro se as condições fossem outras.
Seja irregularmente pela fronteira para desempenhar funções operacionais, seja via embaixada ou consulado com vistos especiais, é inegável que o Brasil vive uma fuga em massa de seus filhos. Uma prova de que não há patriotismo que resista a uma visão de país retrógrada e pouco atraente para os jovens. Sem sombra de dúvida amargamos uma perda irreparável que a história julgará os culpados.