Pedro Rogério Moreira

Bunddy, Bereta e Tupy

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Analistas políticos e econômicos estão gastando muitas letrinhas em jornais e palavrórios no rádio e na TV para decifrar o futuro a partir das atitudes do presidente da República na primeira semana de seu governo. É natural que o façam, pois todos estamos curiosos e sobretudo desejosos de que dê certo. São uns apressadinhos, dirão alguns leitores desses analistas; afinal, sete dias não são nada no calendário oceânico de quatro anos. Eis uma face da verdade. A outra face da moeda é admirada pelos psicólogos de plantão, destituídos de fé pública para tratar de matéria tão obscura como a psicologia. É o caso do escriba destas letrinhas. Para ele, o fato mais importante dos dias passados foi saber que o presidente passou o fim de semana no recesso da família. Bolsonaro é o que o senso comum chama de homem comum. Fim de semana, entre os brasileiros comuns, é tempo de usar bermudas, calçar chinelos e vestir camiseta de clube. Foi o que fez Jair Bolsonaro e milhares de brasileiros de norte a sul. É muito bom para a autoestima de um povo saber que o seu presidente é um espelho da maioria da nação, como Bolsonaro se deixou mostrar na foto postada no Facebook. Outros milhares de brasileiros também apreciamos saber que o presidente tem um cachorro e este participa da vida familiar. Gostar de animais é um traço positivo de caráter, hão todos de concordar; o contrário chega a ser indigno. Mais um traço da personalidade de Bolsonaro que se identifica com o homem comum, aqui e em qualquer país. O admirado presidente Bill Clinton tinha um labrador chamado “Bunddy”; pois saibam que quando Clinton caiu em desgraça com a descoberta de seu rapidinho namoro com a estagiária Mônica Lewinski, o presidente abatido moralmente contou só com a solidariedade de “Bunddy”, revelou dramaticamente Hillary Clinton em seu livro de memórias História Viva. Por aí se vê a fraternidade de um animal de estimação e a solidariedade política de um cão presidencial. Este vale mais, às vezes, do que toda uma base governista no Congresso.

O que me deixou intrigado foi o nome do cão de Bolsonaro, cuja raça não foi dita na notícia do jornal; atende por “Bereta”. Bereta é um tipo de pistola automática, fabricada na Itália desde o remoto ano 1526; lá, com dois tês. Dizem os especialistas que ela é tiro e queda.

Um simples nome de cão pode ser uma pista para decifrar o nosso futuro político e econômico? Os analistas que gastaram letrinhas e palavrórios para adivinhar o horizonte não falaram nada sobre o “Bereta”; preferiram tentar embaralhar a vida presidencial especulando as declarações contraditórias de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência e futricando acerca de supostas brigas na equipe econômica. E eu, que não sou analista político e econômico, nem penso em adivinhar o futuro. Ficarei apenas ensimesmado com o nome do cão presidencial: “Bereta”.

Inda outro dia, neste mesmo espaço, ao elogiar a simplicidade e austeridade do presidente Jair Bolsonaro, e desconhecendo que ele tinha um cachorro em casa, recordei que o primeiro presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca, era dono do “Tupy”, assim, com o y da ortografia antiga. Mais do que dono, “Tupy” era um dos seus melhores amigos – o próprio marechal assim o disse, segundo seus biógrafos (“Presidentes do Brasil”, de Fábio Koifman). Entre o marechal e o capitão medeiam 130 anos; mudou a cultura, são outros os valores sociais. Mas a estima humana pelos cães permanece. Açucarando o texto com um pouco de poesia, recorde-se a quadrinha do poeta mineiro Belmiro Braga sobre o seu cão chamado “Amigo”:

Pela estrada da vida subi morros,

                             Desci ladeiras e, afinal, te digo

                             Que, se entre amigos encontrei cachorros,

                             Entre cachorros encontrei-te, Amigo!

 

O proclamador da República batizou o seu fiel cão com um nome brasileiríssimo, xará dos verdadeiros fundadores do Brasil, os índios tupis do litoral. Deodoro seguia a voga literária de então, o indianismo que vangloriava os feitos nacionais; hoje, a voga é outra, globalizada como as armas.

“Bereta”, eis um nome para ficar de olho, recomenda-se aos analistas políticos e econômicos.

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