Ney Lopes

As eleições americanas

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Nos Estados Unidos, republicanos e democratas definiram os seus candidatos para a eleição de 3 de novembro.

Já assisti convenções de ambos partidos. Foram experiências inesquecíveis. A vocação de repórter me fez filmar ambas e guardo as imagens históricas.

Em 1992, estive em Houston, na companhia dos deputados ex-embaixador Roberto Campos, Nelson Jobim, José Lourenço e Flávio Rocha. O clima era de total exaltação ao presidente George Bush (pai), que disputava a reeleição e atingira 90% de popularidade.

O concorrente Bill Clinton, governador de Arkansas, estado irrelevante eleitoralmente, teve o seu nome escolhido, após desistência de caciques democratas, que achavam impossível vencer Bush, o herói da Guerra do Golfo. Apurados os votos, Bush sucumbiu aos inimigos internos, que eram o desemprego e a recessão econômica.

Em 2000, convidado do presidente do “Instituto Nacional Democrático”, Kenneth Wollack, participei em Los Angeles da Convenção, que indicou Al Gore, candidato à sucessão de Clinton, tendo como adversário George W. Bush. A derrota em 1992 machucou o ego de Bush. Escolheu como candidato, o filho George W. Bush, o “patinho feio” da família, rebelde, alcoólatra até os 40 anos, preso aos princípios religiosos da sua esposa Laura, após ter sido convertido em 1986, com a ajuda do Reverendo Billy Graham.

Os Democratas montaram a sua Convenção em suntuoso palco no “Staples Center”, enorme estádio dos campeões do basquete “Los Angeles Lakers”. Como convidados estavam Alejandro Toledo, Presidente no Peru; Domingos Cavalo ministro na Argentina; o primeiro ministro da Bósnia-Herzegovina e outros.

Acompanhei o espetáculo no “hall” do Estádio, próximo ao ex-Presidente Carter, onde se viam painéis com a frase: “quando os democratas ganham, todos ganhamos”. Mesmo convidado especial paguei ao Partido Democrata a taxa de inscrição de U$ 375.00, que confirma “não existir essa coisa de almoço grátis na América”.

O apogeu aconteceu com a chegada de Hilary Clinton, acompanhada dos acordes de “New York, New York”. Em seguida, ergueram-se as mais de 35 mil pessoas e saudaram o Presidente Clinton, repetindo: “obrigado Clinton”.

Ele, ao discursar enlouqueceu os correligionários. Contestou os republicanos, que atribuíam os sucessos do seu Governo a “sorte”. Afirmou que “a Presidência dos EEUU não é questão de sorte, mas de escolha”.

A disputa foi acirradíssima. Ao final, acusações de fraude e recontagem de votos prolongaram-se por 39 dias. Al Gore recebeu a maioria dos votos, mas Bush ganhou no Colégio Eleitoral. Caso idêntico a Trump, em 2016.

Achei estranha a forma de arrecadar o dinheiro da campanha. Na Convenção Democrata, a GM colocou carros à venda, em benefício do Partido. Até “joias” eram comercializadas. Os candidatos angariavam fundos com refeições de até U$ 5 mil dólares, em salas do estádio. Hillary arrecadou U$ 4 milhões, em festa com artistas de Hollywood.

Há curiosidades nas eleições americanas. Mais de 70 partidos entram na disputa, inclusive Comunistas (desde 1919), Nazistas e da Maconha.

O voto não é obrigatório e pode ser colhido em urnas instaladas nos shoppings, lanchonetes, prédios públicos, ou via Correio. As Convenções dos dois maiores partidos duram uma semana e são transformadas em espetáculos “hollywoodianos”.

Em 2020, a pandemia mudou a tradição e elas foram virtuais. Foi possível acompanhar ao vivo, através da mídia, a eleição mais atípica da história.

Percebe-se o clima elevado de radicalismo na disputa presidencial.

O resultado final dependerá dos chamados “swing states”, ou sejam, aqueles estados menos fiéis a um determinado partido, onde alternativamente vencem os democratas os republicanos. Como é necessário atingir pelo menos 270 delegados no total, esses estados são fundamentais para os candidatos virarem a balança a seu favor.

Embora Joe Biden lidere as pesquisas até agora, ninguém duvide que Trump poderá reeleger-se. A sua estratégia é atrair parcela da população branca (72.4%.), com o slogan “Tornar a América grande novamente”.

Para os seus correligionários “fiéis”, isso significa “República Cristã branca”.
Bom lembrar, que na origem histórica dos EEUU consta a ética calvinista, que supervaloriza a riqueza e a raça.

Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br

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